Coisas que um cuidador não deve dizer ao idoso

Coisas que um cuidador não deve dizer ao idoso

Falar com os idosos sobre o envelhecimento e as mudanças necessárias às atividades do dia a dia pode ser complicado, mas é melhor ter estas conversas antes que aconteça uma crise.

Sobretudo quando as conversas podem significar grandes mudanças na vida do idoso, mas mesmo no dia a dia é necessário ter algum cuidado no que se diz e como se fala com o idoso.

As mudanças na saúde, memória e falhas na independência dos idosos podem criar tensão, e nem sempre é fácil saber a coisa certa a dizer. Aprender a comunicar com empatia pode ajudar a preservar a confiança e a manter a relação entre idosos e cuidadores fortalecida.

Quando as emoções estão perturbadas, até os comentários bem-intencionados podem parecer desdenhosos ou ofensivos. Demonstrar empatia e compreensão da perspetiva do outro e fazer o possível para ajudar é a receita para interações mais positivas.

A forma como os cuidadores respondem às histórias, hábitos e medos dos idosos pode reforçar a confiança ou criar distância. Ao comunicar com os idosos, é crucial abordar as conversas com sensibilidade e respeito para manter a sua dignidade e sentimentos.

Coisas que não se devem dizer aos idosos

Evitar alguns assuntos, ou fazer uma abordagem dos assuntos de outro ângulo pode fazer toda a diferença.

Estas são algumas coisas com que se deve ter cuidado ao falar com os idosos:

Questionar a capacidade de memória

Não é útil questionar a memória dos idosos. Muitas vezes, isso pode fazer com que se sintam embaraçados ou frustrados. Em vez disso, tratar as conversas ou assuntos sobre tarefas que foram esquecidas, por exemplo, com cuidado.

Apresentar lembretes específicos em vez de expressar frustração. Utilizar sempre um tom amável e sorrir quando se apresentam estes lembretes. A linguagem corporal e o tom de voz podem transmitir afeto e apoio, o que ajuda mais do que apenas as palavras.

Se o idoso se esquecer de algo, como uma consulta médica ou onde deixou os óculos, não utilizar um tom acusatório, que pode fazê-lo sentir-se pior. Muitas vezes, o idoso não consegue controlar aquilo de que se lembra devido às alterações naturais do cérebro à medida que envelhece.

Uma melhor abordagem é utilizar pistas úteis. Por exemplo, deixar notas Post-it em locais visíveis da casa. Escrever notas com a indicação de data e hora de consultas e colar no frigorífico ou no espelho da casa de banho, por exemplo.

Este método demonstra apoio e ajuda o idoso a manter a sua dignidade. Também evita que se sinta um fardo ou incapaz.

Não fazer comentários sobre as capacidades físicas

É fundamental ser sensível quando o cuidador se apercebe que os idosos estão a ter dificuldades em tarefas que antes eram fáceis para eles. Em vez de apontar as dificuldades, o cuidador pode oferecer a sua ajuda. Esta atitude demonstra apoio sem realçar as dificuldades.

Por outro lado, pode ser útil encontrar formas diferentes de fazer as coisas, de forma a adaptar às capacidades reais do idoso. Por exemplo, se ele já não consegue abrir um frasco, considerar comprar um abre-frascos concebido para pessoas com força manual limitada.

Evitar utilizar uma linguagem que sugira que a pessoa idosa já não é capaz. Isto pode fazer com que a pessoa se sinta inadequada. Em vez disso, focar no que a pessoa consegue fazer e encontrar soluções que levem a utilizar os seus pontos fortes.

O objetivo principal é fazer com que os idosos se sintam valorizados e respeitados, e não menos competentes.

Modificando as tarefas e oferecendo uma ajuda suave, pode ajudar a manter a sua independência e dignidade. Este reforço positivo pode, até mesmo, aumentar a confiança e a vontade de participar nas atividades.

Evitar apontar as repetições e falhas de memória

Esquecer-se de coisas pode ser tão frustrante para os idosos e cuidadores. Em vez de mostrar surpresa com o esquecimento, o cuidador pode tentar ajudá-los a lembrarem-se usando estratégias que facilitem a lembrança sem fazer com que eles se sintam mal.

Podem-se colocar lembretes em casa. Utilizar notas adesivas e alarmes, ou definir notificações no telemóvel. Isto ajuda o idoso a manter-se a par das tarefas e compromissos diários.

Se ele repetir histórias ou perguntas, ouvir com paciência. Mostrar interesse, mesmo que já tenha ouvido a história antes. Isto fá-los sentir-se valorizados e respeitados e também os incentiva a continuar a comunicar e a partilhar as suas ideias.

Manter as conversas claras e diretas. Evitar palavras complexas ou demasiada informação de uma só vez. Isto ajuda os idosos a acompanhar e a manterem-se envolvidos na conversa.

Para evitar ouvir as mesmas histórias repetidamente, fazer perguntas que possam suscitar uma história diferente do idoso.

Dizer ao idoso para partilhar a sua memória de aniversário favorita ou fazer perguntas que possam ajudar a preencher alguma lacuna nas memórias de família.

Tentar falar de temas positivos ou felizes em vez de temas como o falecimento de um familiar ou outras recordações negativas.

Evitar chamar a atenção para a necessidade de dispositivos auxiliares

Um comentário que pode magoar acidentalmente o idoso é sobre limitações físicas, como alterações na mobilidade. Muitos idosos querem evitar usar uma bengala ou um andarilho porque acham que isso os faz parecer velhos ou frágeis.

Como resultado, poucos usam uma bengala ou um andarilho a menos que compreendam que existe uma razão para usar.

Esse medo pode levar as pessoas mais velhas a contar mentiras aos médicos quando prometem usar o aparelho, mas depois convenientemente esquecem-se de o levar consigo quando saem de casa.

É mais útil ajudar a evitar perigos e explicar que podem cair e sofrer uma lesão grave e que a utilização de uma bengala ou andarilho pode evitar isso.

Recriminar porque o idoso não se sente bem frequentemente

As preocupações com a saúde também dominam muitas vezes as conversas e uma resposta ou comentário errado pode, involuntariamente, levar a uma recusa em falar por parte dos idosos.

É comum as pessoas mais velhas falarem ou iniciarem conversas sobre a sua saúde debilitada.Os membros da família e os prestadores de cuidados podem muitas vezes sentir-se frustrados por ouvirem repetidamente as doenças do idoso.

Uma melhor resposta a este tópico de conversa popular é permitir um tempo limitado para a pessoa idosa desabafar sobre a sua saúde, demonstrando compaixão e, em seguida, redirecionando a conversa.

Depois de o cuidador dizer que lamenta que o idoso tenha dores ou que tenha de lidar com a gestão de vários medicamentos, perguntar sobre uma memória ou experiência positiva. Mudar a conversa para um tópico positivo irá aliviar a frustração.

Também pode beneficiar a saúde mental da pessoa idosa, porque não é saudável que alguém se concentre tanto em questões negativas.

Referir que o idoso não deve viver sozinho

A organização da vida pessoal é um assunto delicado e a forma como se enquadra a discussão é importante. O cuidador pode estar a tentar expressar preocupação com a segurança do idoso, mas esta afirmação pode ser vista como um sinal de que a sua independência está em perigo.

E é provável que o idoso se torne obstinado ou combativo sempre que surgir o tópico da mudança da sua casa para um lar ou para a casa de um familiar.

O melhor será expressar a preocupação por o idoso estar sozinho e que possa acontecer algum acidente e depois trabalhar em conjunto para encontrar uma solução que seja aceitável para todos.

Referir que o idoso é demasiado velho para conduzir

A condução está fortemente ligada à independência, o que faz com que seja um dos temas mais difíceis de abordar com os idosos sem acabar por criar conflitos.

Nesta situação, o melhor será começar a conversa afirmando que tem existido muita condução imprudente nas estradas ou muitos acidentes e perguntar se essa informação é surpreendente para a pessoa idosa. Pode-se também debater a possibilidade de o idoso se sentir mais seguro se reduzir o tempo de condução.

Em última análise, este é um assunto complicado e pode exigir a ajuda de terceiros, como o médico, o fisioterapeuta ou outro profissional de saúde, para explicar que é mais seguro para todos se a pessoa idosa deixar de conduzir um veículo.

Não ser demasiado duro ou autoritário

Erros como faltar a uma consulta médica podem provocar frustração, mas reagir com dureza pode prejudicar a confiança entre cuidador e idoso. Repreender uma pessoa idosa como se fosse uma criança malcriada é humilhante e desrespeitoso.

Quebra a confiança e pode levar a um comportamento passivo-agressivo, como evitar dizer aos familiares ou cuidadores coisas que deveriam saber, porque o idoso não quer que ninguém lhe dê ordens, o trate como uma criança ou tente tomar decisões em seu nome.

Evitar problemas futuros tentando compreender o problema. Se o idoso faltou a uma consulta médica para tratar de sintomas específicos, talvez tenha medo de obter uma resposta, preocupando-se com a possibilidade de ter cancro ou outra doença grave.

Conversar sobre o assunto de uma forma carinhosa e solidária e incentivar o máximo de autonomia possível e segura, mantendo sempre o respeito.

Evitar forçar situações com a roupa e o que vestir

Mesmo os pequenos desacordos, como o que vestir, podem transformar-se em batalhas maiores se não forem tratados com ponderação.

Discordar sobre a roupa apropriada para o tempo quando se fala com uma pessoa mais velha é comum. No entanto, é importante lembrar que a capacidade de regular a temperatura muda à medida que envelhecemos.

Muitas pessoas idosas são mais sensíveis às temperaturas e sentem-se mais frias do que as pessoas mais jovens que as rodeiam. Se o idoso insistir em usar algumas camadas de roupa quando está mais calor, explicar gentilmente que está mais quente do que ele poderia esperar.

O cuidador não deve ter medo de ajudar o idoso a escolher o melhor vestuário para usar na rua e que melhor se adeque à situação, tendo em mente o limite típico da pessoa idosa para temperaturas quentes e frias.

Evitar criticar as opções de vida do idoso

À medida que as pessoas envelhecem, os seus estilos de vida e interesses mudam frequentemente, o que pode levar à necessidade de ajustamentos nas atividades em que podem participar e apreciar. É importante abordar estas mudanças com sensibilidade e apoio, em vez de críticas.

Evitar fazer comentários negativos sobre possíveis novas escolhas ou níveis de atividade mais reduzidos. Em vez disso, tentar perceber porque é que o idoso fez essas alterações.

Talvez já não se sinta seguro para fazer determinadas atividades ou talvez não tenha a energia que tinha antes. É importante ouvir e mostrar empatia para com os seus sentimentos e experiências.

Mostrar apoio e sugerir alternativas que estejam de acordo com as capacidades do idoso no momento. Por exemplo, se já não puder participar em atividades que exigem muita energia, sugerir opções mais acessíveis, como caminhadas ou jardinagem ligeira.

Isso mostra que o cuidador respeita os seus limites e que está interessado na sua felicidade e bem-estar. 

Além disso, procurar soluções que possam ajudar o idoso a continuar a desfrutar da vida apesar destas alterações, comunicando sempre abertamente e encorajando a que possa expressar as suas preferências e preocupações.

Evitar comentários desdenhosos sobre a vida social

À medida que as pessoas envelhecem, podem sair menos vezes de casa. Podem sentir-se menos à vontade em grupos grandes ou em ambientes ruidosos. Em vez de se apontar isso como um problema, é melhor usar a compreensão.

Reconhecer os sentimentos do idoso em relação a sair de casa. Perguntar como se sente em relação a ir a eventos, dando sempre ênfase ao conforto e às preferências do idoso.

Não comentar sobre a situação de vida do idoso

Não assumir automaticamente que os idosos precisam de reduzir o tamanho da casa ou de se mudar para um lar, conversar primeiro para compreender as suas necessidades e desejos.

Começar por reconhecer os seus sentimentos em relação à casa e ao estilo de vida e expressar as preocupações de forma clara e gentil. Debater sobre a capacidade do idoso de viver de forma independente com uma mente aberta.

Ouvir o que sente sobre a sua situação de vida atual e o que poderá vir a precisar no futuro. Isto demonstra respeito e mantém a sua dignidade.

Se for necessária mais ajuda, sugerir ideias gentilmente. Apresentar opções como contratar apoio domiciliário ou efetuar modificações de segurança em casa. garantir de que o idoso está envolvido nas decisões. Isto ajuda-os a sentirem-se no controlo das suas vidas.

Manter sempre estas conversas positivas e demonstrando apoio. Isto fortalece a relação entre o idoso e os cuidadores e facilita as discussões futuras.

Ter cuidado com os comentários sobre saúde ou o aspeto do idoso

Falar sobre a saúde ou o aspeto de alguém pode ser delicado. Isto é especialmente verdade para os idosos que enfrentam muitas mudanças durante esta fase das suas vidas.

Evitar comentar sem rodeios as mudanças na aparência ou problemas de saúde nos idosos. Esses comentários podem ser ofensivos ou fazê-los sentir-se inseguros.

Em vez disso, é melhor verificar as necessidades e mostrar empatia. Deixar que partilhem o que sentem em relação à idade e oferecer ajuda de uma forma simpática.

Manter as conversas positivas e animadoras. Em vez de focar só nos aspetos negativos, realçar as coisas de que ainda gostam e que podem fazer.

Evitar comentários que possam parecer controladores

É também crucial respeitar a capacidade dos idosos para gerirem as suas próprias vidas. Os cuidadores não devem assumir tarefas que eles são capazes de fazer sozinhos. Isso pode fazer com que se sintam incompetentes. Promover a independência, oferecendo ajuda de uma forma não invasiva.

O cuidador pode escolher por perguntar primeiro como pode ajudar o idoso, em vez de partir do princípio de que ele precisa de ajuda. Esta abordagem demonstra respeito pela sua autonomia.

O papel do cuidador é apoiar, não controlar. Sempre que possível, dar espaço para que o idoso tome as suas próprias decisões, especialmente nas que dizem respeito às suas vidas. Discutir as opções disponíveis e ouvir as suas preferências.

Dicas para falar com o idoso

Por vezes a comunicação com os idosos pode não ser muito fácil. É sempre útil ter à mão algumas estratégias para ajudar a planear o que se vai dizer, como introduzir o tópico e como tornar as conversas tão bem-sucedidas quanto possível.

Estas são algumas dicas para falar com os idosos:

Escrever primeiro um esboço para organizar os pensamentos. Isto também dá uma lista a seguir para não esquecer os pontos importantes.

Abordar a conversa em torno das considerações mais importantes para os idosos, como a segurança, liberdade, paz de espírito, ligação social e capacidade de fazer escolhas.

AS palavras que se escolhem podem fazer uma grande diferença. Quando se demonstra empatia, paciência e respeito, é mais provável ser ouvido e que a relação entre cuidadores e idosos se mantenha forte, mesmo nos momentos mais difíceis.

Começar com algumas conversas casuais para abordar o assunto de uma forma mais ligeira e para preparar o terreno. De seguida, desenvolver as conversas iniciais para levar a conversas mais longas e mais amplas e também mais centradas na tomada de decisões mais tarde.

Considerar usar algumas expressões e comentários mais ligeiros como forma de quebrar o gelo nas conversas ou antes de iniciar uma conversa sobre um tema mais difícil.

Utilizar expressões   que não vão diretamente ao assunto como por exemplo: “Tenho notado que algumas coisas exigem mais energia atualmente. Quais são as coisas importantes que quer realmente fazer?”

Ou em alternativa e dependendo da personalidade do idoso, utilizar uma abordagem mais direta e perguntar mais diretamente quais são as prioridades do idoso e se há alguma forma que o idoso possa sugerir para realizar as tarefas ou atividades que quer fazer.

Referir a admiração pela forma como os idosos lidaram com a situação de entrada na reforma e pedir conselhos sobre o que funcionou bem para eles, para que possam aprender com eles.

Usar um acontecimento nas notícias ou uma história sobre um familiar ou amigo do idoso, para introduzir o tópico da necessidade de um plano, caso aconteça alguma coisa em que o idoso precise de ajuda, para que se possa acionar esse plano.

Conclusão

As conversas difíceis entre cuidadores e idosos acontecem frequentemente quando os cuidadores, informais ou formais, se sentem mais sobrecarregados ou quando os idosos resistem à ajuda.

Nesses momentos, é fácil ultrapassar os limites sem que os intervenientes se apercebam, especialmente quando os ânimos estão exaltados as emoções descontroladas.

O tom de voz pode ter tanto peso como as palavras, e mesmo os comentários bem-intencionados podem soar como frases ofensivas se forem proferidos de forma brusca ou com frustração.

A confusão, a repetição e os lapsos de memória são comuns à medida que as pessoas envelhecem, mas reagir abruptamente ou corrigir num tom demasiado autoritário pode prejudicar uma relação de respeito e confiança entre cuidadores e idosos.

É mais útil, procurar ter conversas honestas que reconheçam o que é difícil e se concentrem em objetivos comuns. Quando se abordam os temas difíceis com paciência, abre-se a porta a conversas mais produtivas e constrói-se uma confiança que ajudará em situações mais complicadas no futuro.

Mas, quando os idosos começam a precisar de mais ajuda, a casa onde vivem está mais suja e os idosos não estão a comer bem ou não estão a tomar os medicamentos, pode ser preciso intervir e ter uma conversa mais séria.

E embora a comunicação com os idosos possa ser um assunto delicado, é importante falar com gentileza e respeito. Pode não parecer, mas algumas frases comuns podem ferir os seus sentimentos.

É essencial que o cuidador saiba transmitir as suas mensagens de forma gentil e mantenha as suas conversas com os idosos positivas e solidárias. Ao compreender quais as frases ou comentários a evitar, pode ajudar a manter uma relação de respeito e harmonia.

O objetivo principal é manter a dignidade do idoso e, ao mesmo tempo, garantir a sua segurança e bem-estar.

Juntos Cuidamos Melhor!

Referências:

Caregiver.com