Como cuidar de uma pessoa com DPOC em casa?

Como cuidar de uma pessoa com DPOC em casa?

Cuidar de alguém que tem doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) em casa envolve assumir uma série de novas responsabilidades.

Um dos passos mais importantes a fazer quando é feito o diagnóstico da doença, é aprender o máximo possível sobre ela, os prestadores de cuidados da DPOC precisam de compreender a condição tão bem como o próprio doente o faz.

A necessidade de cuidados para doentes com DPOC na sociedade está a aumentar. Como aumenta também o desejo de obter uma qualidade de vida ótima, os pacientes terão de depender em maior medida de prestadores de cuidados.

As pessoas com DPOC, bem como os seus prestadores de cuidados, são confrontados com múltiplas limitações nas atividades da vida diária. Quem presta os cuidados é essencial para facilitar ajuda prática e apoio emocional.

A prestação de cuidados tem também os seus próprios desafios e batalhas para travar, por conseguinte, a perceção que o cuidador tem da saúde do paciente é um fator importante.

É aconselhável falar com o médico do paciente sobre as tarefas a realizar, para garantir a sua segurança e conforto.

Saiba o que deve fazer para cuidar do seu familiar com DPOC em segurança, neste artigo que a Novo Cuidar preparou para si.

O que é a DPOC?

A DPOC, ou Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica, é uma doença respiratória que resulta da inflamação dos pulmões, que provoca o seu mau funcionamento, ficando o ar aprisionado e levando a uma grande produção de muco.

Ao longo do tempo, os pulmões vão ficando lesionados com mais gravidade, resultando em falta de ar crónica e tosse.

Quais são as causas e os fatores de risco?

A causa principal para o desenvolvimento de DPOC é o consumo de tabaco ou a exposição passiva ao fumo do tabaco.

Outras causas possíveis são:

  • Exposição a substâncias tóxicas
  • Trabalho em minas com exposição ao carvão
  • Alterações genéticas nos pulmões
  • Infeções pulmonares
  • Degeneração dos pulmões por velhice

Quais são os sintomas do DPOC?

Como a doença provoca a dilatação das vias respiratórias e uma maior produção de muco, os sintomas mais frequentes são resultado desta condição.

Os principais sintomas são:

  • Falta de ar
  • Tosse constante
  • Produção intensa de muco e catarro
  • Maior tendência para desenvolver infeções respiratórias
  • Cansaço
  • Incapacidade para realizar as tarefas diárias

Como é feito o diagnóstico?

Para chegar ao diagnóstico, o médico irá ter em conta a história clínica do doente a par com o exame físico que irá realizar.

Poderá também pedir ao doente para realizar exames médicos complementares como radiografia aos pulmões, análises ao sangue e tomografia computadorizada.

Por último, o paciente realizará uma Espirometria, para verificar o nível de obstrução das vias respiratórias e a quantidade de ar que consegue passar por elas, permitindo a confirmação do diagnóstico e a classificação do nível de gravidade da doença.

Qual é o tratamento para a DPOC?

O tratamento vai sempre depender do grau de gravidade da doença, mas independentemente disso, o passo mais importante é deixar de fumar.

O tratamento passa ainda pela administração de medicamentos com o objetivo de aliviar os sintomas e permitir uma maior passagem de ar pelas vias respiratórias. Os broncodilatadores e os corticoides, são alguns dos medicamentos usados.

Nos casos mais graves é necessária a administração de oxigénio através da oxigenoterapia durante um tempo específico ou de forma prolongada.

Uma alimentação cuidada e adequada a cada caso, bem como a manutenção de um estilo de vida ativo, podem ajudar a aliviar os sintomas e a criar maior conforto.

A fisioterapia é também um aliado importante no tratamento da DPOC. Com o objetivo de ajudar na reabilitação respiratória com exercícios para os músculos associados à respiração, para criar um reforço nestes músculos e assim diminuir os sintomas, as doses de medicamentos e evitando o internamento hospitalar, dando mais qualidade de vida ao doente.

Como cuidar de um doente com DPOC em casa?

Os doentes com DPOC podem tornar-se mais dependentes de cuidados com o tempo, e muito provavelmente vão depender ainda mais dos prestadores de cuidados no seu ambiente doméstico.

Por isso, o papel do prestador de cuidados torna-se provavelmente mais essencial na gestão da DPOC ao longo do tempo. Os prestadores de cuidados, contudo, enfrentam uma carga de trabalho crescente no cuidado de um familiar.

 As responsabilidades dos cuidadores familiares podem incluir medicação e gestão de sintomas, fornecendo apoio físico, psicológico e emocional, trabalho físico como limpeza, e ajuda com as necessidades de higiene e nutrição.

As tarefas abrangem um conjunto alargado de necessidades e tarefas:

Encorajar a reabilitação pulmonar

A reabilitação pulmonar consiste em exercício físico, aconselhamento nutricional, e educação sobre a doença. A reabilitação pode melhorar a qualidade de vida, aumentar a força e reduzir a falta de ar e outros sintomas de DPOC.

O cuidador, pode encorajar o paciente a ir para a reabilitação e até mesmo acompanhá-lo nas sessões e participar em todo o processo.

Ajuda com os medicamentos

Dependendo dos sintomas e da gravidade da doença o paciente pode precisar de tomar vários medicamentos em diferentes alturas ao longo do dia.  O cuidador deve certificar-se de que o paciente está a tomá-los e fazer o seu acompanhamento.

Criar uma tabela que acompanha cada medicamento, a sua dosagem e a hora do dia em que deve ser tomado, pode ajudar neste processo. A tabela pode ser usada também para verificar quando o medicamento é tomado conforme as instruções.

Comparecer nas consultas médicas

O paciente deve ir às consultas acompanhado pelo cuidador para que este possa ajudar a reter a informação que o médico dá e certificar-se que todas as perguntas são respondidas e todas as dúvidas esclarecidas.

Para ser mais fácil poderá levar um caderno ou bloco de notas para anotar toda a informação. As consultas são também uma excelente oportunidade para aprender a utilizar um equipamento como nebulizadores, inaladores ou bomba de oxigénio.

Monitorize o estado do paciente

O cuidador deverá falar com o médico sobre os sinais de aviso de um episódio de agravamento dos sintomas, para os possa reconhecer mais facilmente caso aconteçam em casa e seja preciso chamar ajuda médica ou de uma equipa de enfermagem.

Alguns destes sinais são:

  • Dificuldades excessivas em respirar durante as atividades diárias
  • Tosse mais intensa ou dores no peito quando tosse
  • Aumento da produção de muco ou mudança na aparência do muco
  • Inchaço nas mãos ou nos pés
  • Cãibras nos músculos
  • Cansaço ou fraqueza
  • Problemas de sono relacionados com a falta de ar

Apoio ao deixar de fumar

Acabar com o consumo de tabaco é a prioridade número um para o doente com DPOC, e é também uma das melhores formas de retardar a progressão da doença.

Eis algumas medidas para ajudar no processo:

  • Não fume dentro de casa ou perto do paciente. O fumo passivo causa mais danos pulmonares e contribui para agravar a DPOC.
  • Remova tudo o que esteja associado ao tabaco nas proximidades. Isto inclui cigarros, cinzeiros e isqueiros.
  • Distraia a pessoa com atividades alternativas e saudáveis quando surge um estado de ansiedade. Experimente um jogo de tabuleiro, uma massagem, ou um passeio até ao parque.
  • Mantenha pequenos pratos cheios de petiscos saudáveis, tais como nozes ou fruta, para acalmar os desejos por tabaco.

Motivação para o exercício físico

As pessoas com DPOC sentir-se-ão melhor, e permanecerão mais fortes, com exercício físico praticado regularmente. O exercício ajuda a construir resistência e força muscular, acabando por facilitar a respiração.

Se os sintomas dificultarem a prática de exercício, encoraje uma abordagem mais lenta, como três a cinco minutos de atividade de cada vez, várias vezes ao dia, indo aumentado até períodos mais longos.

Evidentemente, a melhor motivação é fazer os exercícios em conjunto com o paciente. Por outro lado, será melhor limitar ou evitar conversas durante a atividade física, pois esta pode tornar mais difícil a respiração enquanto faz o exercício.

Alimentação

As pessoas com DPOC precisam de uma dieta saudável e bem equilibrada para manter uma energia adequada para respirar e completar as suas atividades diárias.

Na alimentação diária é importante ter sempre frutas e vegetais frescos, limitar a carne vermelha e os alimentos processados, escolher fontes alternativas de proteínas como frutos secos e sementes, e utilizar um espremedor para preparar bebidas ricas em nutrientes.

Caso seja necessário, peça ajuda a um nutricionista.

Conservação de Energia

A doença tende a drenar uma pessoa da sua energia vital, deixando muito pouco para outras necessidades como respirar e comer. A conservação de energia é uma parte importante da gestão da doença, e que se pode promover de várias maneiras, incluindo:

  • Manter os dispositivos mais utilizados numa divisão de fácil acesso
  • Baixar as prateleiras para que o que é necessário fique acessível
  • Colocar uma cadeira de duche no chuveiro
  • Instalar um ventilador ou ar condicionado

Algumas pessoas com DPOC descobrem que um ventilador a soprar diretamente na cara ou um ar condicionado a funcionar continuamente ajuda-as a respirar mais facilmente.

Regule o termóstato para uma temperatura confortável e fresca para todos na casa. Se se sentir desconfortável num ambiente mais fresco, utilize cobertores extra ou uma camisola enquanto estiver dentro de casa.

Trabalhar com equipamentos de monitorização

Se o paciente estiver a fazer oxigenoterapia, ter um monitor de oximetria de pulso pode ajudá-lo a perceber se está a receber a quantidade suficiente de oxigénio.

Quer seja os oxímetros de pulso ou de dedo, ambos podem dar uma indicação precisa dos níveis de saturação de oxigénio.

Também pode ser útil, começar a registar os valores e manter esse registo de dados para partilhar com o médico mais tarde.

Uma vez que muitos pacientes com DPOC experimentam complicações, tais como a tensão arterial elevada, um monitor de tensão arterial doméstico é outra parte essencial do kit de ferramentas da prestação de cuidados.

Este monitor não só pode fornecer leituras regulares da tensão arterial, mas alguns modelos também incluem uma função de alerta automático se for detetado um batimento cardíaco irregular.

Melhoria da qualidade do ar dentro de casa

O ar no interior da casa pode ser, às vezes, mais poluído do que o ar no exterior, e essa poluição pode aumentar a gravidade dos sintomas e até mesmo da própria doença.

Melhorar a qualidade do ar interior ajudará o ambiente mais limpo e mais saudável. Alguns dos produtos usados em casa podem contribuir para o mau estado do ar, como os produtos de beleza, perfumes, spray para cabelo, loções e aftershaves.

Estes produtos libertam odores fortes que podem irritar ainda mais as vias respiratórias inflamadas, causando o agravamento dos sintomas da doença.

Da mesma forma, os vapores de produtos químicos agressivos podem agravar a doença e exacerbar os sintomas. É aconselhável utilizar apenas produtos de limpeza não tóxicos para limpar a casa, e ter o cuidado de garantir uma ventilação adequada e constante.

Complicações

Embora a doença se possa manter estável durante algum tempo, acaba por progredir naturalmente para estádios cada vez mais graves, que se caraterizam pelo desenvolvimento de várias complicações.

O cuidador deve ter atenção ao aparecimento destes sinais:

  • Aumento da tendência para desenvolver infeções
  • A insuficiência respiratória torna-se crónica como necessidade constante de oxigénio
  • Aumento do número de crises respiratórias
  • Incapacidade para o trabalho e a realização das atividades diárias

Fim de vida

Os sintomas tendem a agravar-se com o passar do tempo e quando chega à fase de fim de vida, há um agravamento acentuado da falta de ar e da tosse acompanhado por outros sintomas como:

  • Aumento da dor
  • Ansiedade
  • Depressão
  • Confusão
  • Falta de apetite
  • Perda de peso
  • Atrofia muscular
  • Fadiga

O controlo destes sintomas envolve uma avaliação e tratamento cuidadosos, geralmente com o apoio domiciliário de um enfermeiro, utilizando uma combinação de medicamentos e intervenções não relacionadas com a medicação, tais como:

  • Broncodilatadores para reduzir a falta de ar
  • Diuréticos, se a retenção de líquidos devido a problemas cardíacos relacionados com a doença estiver a agravar a dificuldade para respirar
  • Medicamentos opioides
  • Oxigenoterapia
  • Uso de esteroides
  • Medicamentos para o alívio da ansiedade
  • Medicamentos para a agitação severa

Controlo da dor

Controlar a dor é um problema durante as fases finais da vida e devem ser feitos todos os esforços para aliviar o desconforto.

A medicação para a dor deve ser administrada 24 horas por dia para evitar um lapso no alívio que pode ocorrer quando um medicamento não está disponível ou quando há um atraso na administração.

Outros métodos podem também proporcionar um alívio da tosse mais eficaz, como por exemplo:

  • Oxigénio quente, humidificado ou uso de um humidificador na sala
  • Opioides, tais como codeína ou morfina, tomados por via oral
  • Todos os métodos paliativos nesta fase devem ser debatidos com a equipa de enfermagem ou com o médico.

Recusa da alimentação

Este é um sintoma muito comum entre os doentes em fim de vida. Muitos pacientes não conseguem comer nos últimos dias.

Algumas questões a ter em conta nesta altura:

  • A comida não deve ser dada à força ao paciente
  • Ofereça alimentos que o paciente goste, independentemente do seu valor nutricional, mesmo que possa parecer estranho.
  • Considere a possibilidade de dar uma alimentação por tubo enteral, mas apenas se for do desejo do paciente.
  • Providencie cuidados orais frequentes utilizando gelo para evitar condições orais relacionadas com a desidratação.
  • É também aconselhável assegurar que outro fator não está a contribuir para a perda de apetite, tais como dentaduras soltas, feridas na boca, dor ou náuseas.

Confusão mental 

Nesta fase final de vida há muitos fatores que podem contribuir para o aparecimento de confusão mental no paciente:

  • Efeito dos medicamentos
  • Concentração de oxigénio muito baixa no corpo
  • Dor descontrolada
  • Falta de sono
  • Retenção urinária
  • Desequilíbrios fisiológicos

As soluções de tratamento para estas condições devem ser discutidas com o médico.

Depressão

O fim da vida pode também ser um tempo de grande tristeza para o paciente. Nesta altura o simples ato de segurar a mão e ouvir pode proporcionar o conforto que as palavras não conseguem.

Tenha em mente também quaisquer necessidades espirituais que o familiar possa ter. Caso seja necessário, peça a ajuda de um conselheiro espiritual ou padre.

Encoraje o paciente a falar sobre os seus sentimentos e a abordar qualquer questão que ainda não esteja resolvida de forma aberta e livre.

O final

Quando o corpo atinge o final surgem alguns sinais que é importante reconhecer. Entre eles estão, por exemplo:

  • Aumento da sonolência
  • Aumento da confusão e agitação
  • Visões e alucinações
  • Alternar entre consciência ou inconsciência
  • Diminuição do interesse por alimentos ou água
  • Padrões respiratórios irregulares
  • Gargarejar ou outros ruídos perturbadores ouvidos durante a respiração
  • Movimento involuntário
  • Alterações na pressão sanguínea, respiração e ritmo cardíaco
  • Perda de reflexos

Conclusão

A doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) é uma das principais causas de morbilidade e mortalidade em todo o mundo.

Estima-se que a sua prevalência aumente nas próximas décadas, devido ao envelhecimento da população, e à exposição contínua a fatores de risco que se sabe estarem associados ao desenvolvimento da doença, e a tratamentos específicos que atuam no melhoramento da qualidade de vida.

Por outro lado, espera-se também que o impacto social e económico da doença também aumente significativamente nas próximas décadas.

Cuidar de um doente com DPOC em casa pode ser um desafio. Mas seguir as instruções da equipa médica e encorajar o seu familiar a aderir ao plano de tratamentos, pode desempenhar um papel importante na melhoria da sua qualidade de vida.

Apesar de tudo, a melhoria da qualidade de vida mesmo com a doença é possível, através da implementação de mudanças no estilo de vida e aprendendo formas de lidar com a doença, retardando a sua progressão e vivendo um dia de cada vez, na medida do possível.

Na Novo Cuidar a prioridade é a sua saúde e o seu bem-estar. Aqui encontra uma equipa de cuidadores coordenada por profissionais de saúde qualificados e com vasta experiência.

Tem ainda ao seu dispor o serviço de cuidados de saúde ao domicílio tais como o apoio domiciliário, estimulação cognitiva, terapia da fala , bem como a fisioterapia e  o serviço de enfermagem 24h/dia, para o ajudar e apoiar sempre que precisar, com um plano de cuidados à sua medida a preço competitivo.

Referências:

  • European Respiratory Review
  • Very Well Health