A doença de Alzheimer e outros tipos de demência afetam milhões de pessoas no mundo e por isso é vital que familiares e cuidadores estejam informados e capacitados para lidar com os efeitos da doença nos idosos e mesmo noutras pessoas.
É fundamental capacitar a família e os prestadores de cuidados com apoio e competências em cuidados à demência, para que possam prestar cuidados que produzam resultados positivos tanto para a pessoa que vive com demência como para o próprio cuidador.
Por outro lado, quando os idosos com demência recebem visitas, também é importante preparar as visitas tendo em atenção algumas coisas que se devem ou não fazer para criar um ambiente calmo para que o idoso se possa concentrar melhor e apreciar a visita.
Saber mais sobre a demência e o que é mais apropriado fazer pode não só encorajar a família e os amigos a visitarem mais vezes o idoso, como contribuir para um cuidado mais adequado e eficaz.
Saber o que fazer e o que não fazer possibilita que o cuidador possa criar uma experiência positiva, ajudando a família e os amigos do idoso também a saberem o que dizer e fazer.
O que os cuidadores devem saber
Cuidar e falar com alguém que tem Alzheimer ou outro tipo de demência pode ser um desafio. Viver com demência também pode ser difícil. As conversas, por exemplo, podem ser carregadas de emoções como tristeza, raiva ou medo.
Aprender algumas técnicas simples, mas eficazes, de comunicação e de cuidados com a pessoa com demência torna mais fácil estabelecer uma ligação com ela e possibilitar um tempo significativo passado em conjunto.
Estas são algumas considerações a ter nos cuidados e na comunicação com os idosos com demência:
Reservar um tempo antes da interação
Pode ser difícil observar uma pessoa que vive com demência. Podem surgir muitas emoções que podem influenciar o comportamento. Por isso, é importante reservar um minuto para acalmar antes de iniciar a conversa ou a interação.
Manter uma atitude positiva, calorosa e calma
Uma pessoa com demência consegue captar as emoções, especialmente se estas não corresponderem ao tom de voz e aos gestos usados.
Mostrar que há preocupação, atenção e cuidado com o idoso, é fundamental.
Eliminar as distrações
O idoso pode ter dificuldades em comunicar ou focar a sua atenção quando há distrações à sua volta.
As televisões, as rádios e as crianças a correr podem ser foco de distração e causar desconforto às pessoas com demência.
Para minimizar as distrações, desligar todos os aparelhos eletrónicos ou colocar em modo silencioso durante os cuidados pessoais e a comunicação.
Identificação
As pessoas com demência podem ter dificuldade para identificar as pessoas ao seu redor.
Dizer gentilmente o nome e qual é sua relação, se é cuidador ou familiar. Isto pode ajudar a trazer de volta memórias, bem como ajudar o idoso a sentir-se seguro.
Se a pessoa idosa parecer especialmente confusa, ter outra pessoa a apresentar e identificar pode ajudar o idoso a sentir-se mais confortável.
Falar devagar
Falar num ritmo brando. Isso pode ajudar a dar tempo ao idoso para absorver o que está a ser dito e a estabelecer ligações melhor.
Utilizar frases curtas e palavras curtas
Na comunicação verbal deve evitar-se utilizar frases desconexas e palavras compridas, que podem ser confusas. Utilizar uma frase de cada vez, fazendo uma pausa para que o idoso possa digerir o que está a dizer antes de continuar. O tempo de pausa pode variar mediante a circunstância.
Ser exato e direto
Para evitar causar confusão, dizer exatamente o que se quer dizer. Se se estiver a referir a um objeto ou a outra pessoa, utilizar o nome em vez de usar pronomes ou metáforas.
Quando se fizer referência a uma pessoa em específico, indicar sempre qual a relação que tem com o idoso, por exemplo se é cuidador ou um membro da família.
Não fazer suposições
Pode ser tentador assumir o controle da situação e presumir as vontades do idoso, no entanto, este deve ter uma palavra a dizer sobre as atividades em que participa, bem como saber que está a ser acompanhado em todo o processo.
Praticar a escuta ativa
A escuta ativa é uma forma de comunicação que permite que a outra parte saiba que está a era ouvida. Acenar com a cabeça e responder com validação ajuda as pessoas a sentirem que são escutadas.
Mas, utilizar pequenas palavras de encorajamento, como “hum, hum” pode ter um efeito contrário. Reservar algum tempo para experimentar e avaliar o que funciona melhor.
Não bloquear a conversa
Não há problema em ter limites em relação ao que pode e não pode ser discutido. No entanto, existem alguns obstáculos à conversa que devem ser evitados.
Evitar perguntar “Porquê” ou forçar o idoso a falar sobre algo que não lhe apetece e resistir ao impulso de interromper.
Redirecionar a atividade
Em vez de tentar impedir o idoso de fazer algo potencialmente perigoso, tentar redirecioná-lo para uma atividade mais segura ou mais positiva.
Dar a escolher entre duas coisas
É muito mais fácil comunicar quando é dada a escolher entre duas coisas diferentes, ou são feitas perguntas de resposta sim ou não.
Ser mais específico nas opções diminui o stress de ter que escolher. Isto permite que o idoso se concentre em escolher entre duas opções claras em vez de ter demasiadas ideias e ficar sobrecarregado. Fazer perguntas de resposta “sim” ou “não” funciona de forma semelhante.
Linguagem corporal também é comunicação
O contacto visual pode ajudar o idoso a saber que está a ser ouvido. Tentar adequar a linguagem corporal à emoção que se pretende exprimir.
Considerar formas de comunicação não verbais
É importante encontrar as técnicas de comunicação que funcionam melhor para o cuidador e para o idoso. Dependendo de como este se está a sentir, a comunicação verbal pode não ser a melhor opção.
Algumas pessoas ficam melhor quando podem dedicar algum tempo a escrever uma nota do que quando têm uma conversa oral, o mesmo com o desenhar.
Escrever dá mais tempo e também pode ajudar a detetar erros, como encontrar uma palavra incorreta. Isso pode ajudar o idoso a sentir-se mais à vontade para interagir com os outros.
Utilizar também os outros sentidos. A visão, o som, o olfato, o paladar e o tato podem ser vitais para a comunicação.
Dar atenção e mostrar presença
O mais importante no cuidado de um idoso com demência é a experiência e o tempo que passa com os outros, sejam os cuidadores ou os familiares. Por isso mostrar ao idoso que não está sozinho e tem alguém lá para ele, é fundamental.
Obter a ajuda e o apoio necessários
Quer se trate de um familiar ou de um prestador de cuidados, como um enfermeiro, ou um cuidador formal, é importante criar uma equipa de gestão da demência para obter conhecimentos especializados e apoio emocional.
Por exemplo, o cuidador informal não deve sentir-se ou estar sozinho. Um primeiro passo importante é juntar-se a um grupo de apoio.
Além disso, deve utilizar os muitos recursos profissionais disponíveis para receber aconselhamento e orientação essenciais ao longo de todo o período em que presta os cuidados.
Por exemplo, as associações que se dedicam a apoiar os doentes com demência e os seus familiares e cuidadores.
Por outro lado, o médico de família ou médico assistente pode também indicar onde obter informação sobre a doença e como fazer um cuidado mais adequado a cada caso, os cuidadores informais devem recorrer atempadamente e com frequência a estes recursos.
Da mesma forma, os cuidadores formais, não devem prestar cuidados à demência de forma isolada, mas sim ajudarem-se mutuamente como recurso de conhecimento, assistência na resolução de problemas e apoio emocional.
Por exemplo, na gestão da resistência aos cuidados ou o comportamento agressivo manifestado por um idoso com Alzheimer durante um duche, o cuidador formal deve ter um método para comunicar com os membros da sua equipa sobre o desafio, a fim de obter apoio e descobrir uma solução.
Tanto os cuidadores informais como os cuidadores formais sofrem frequentemente de stress e de sentimentos de sobrecarga ou incerteza. Por isso, a criação de equipas de cuidados de gestão da demência na comunidade é essencial para todos os que estão envolvidos na prestação de cuidados.
O apoio emocional, os conselhos e os conhecimentos obtidos através de uma equipa são essenciais para que todos os cuidadores sejam bem-sucedidos e livres de stress quanto possível.
Prestar cuidados capazes de lidar com a demência
Os cuidadores devem ter uma compreensão adequada das várias componentes dos cuidados aos idosos com demência.
Para melhorar a independência funcional e o bem-estar emocional, o cuidador deve começar por compreender as fases da demência e saber como prestar cuidados, com uma abordagem de ganhar a confiança, o acordo e a compreensão do idoso, mudar o ambiente para que seja de apoio e não um obstáculo ou distração e simplificar a atividade para o nível de desafio certo.
Em cada fase, há uma certa quantidade de compensação que precisa de ocorrer. Nas fases mais avançadas da demência, é necessária uma maior compensação e assistência.
A comunicação deve ser feita tendo em vista a capacidade de lidar com a demência.
O cuidador deve saber como comunicar com o idoso com demência tal como já referimos anteriormente. São necessárias modificações simples na comunicação para aumentar a compreensão.
As modificações necessárias incluem:
- Esperar por uma resposta
- Tornar uma situação complexa numa simples, dividindo-a em instruções de um passo de cada vez
- Utilizar pistas visuais ou de mão sobre mão com palavras
Por outro lado, o cuidador deve fazer a gestão do comportamento do idoso. O cuidador deve saber como reduzir a prevalência de comportamentos negativos.
Para isso, deve entender que a grande maioria dos comportamentos negativos expressos por uma pessoa com demência tem uma razão ou um gatilho e que o comportamento é, na maioria das vezes, simplesmente uma comunicação de uma necessidade não satisfeita.
As razões típicas para um comportamento negativo podem ser a dor não controlada, a perda de controle, o medo ou o tédio. O cuidador deve ter a capacidade de observar a situação e o comportamento para tentar descobrir o fator desencadeante.
Para isso, poderá fazer perguntas durante a análise do comportamento, como quem está presente durante o comportamento, o que está a acontecer e quando acontece, por exemplo. Este questionamento pode revelar um padrão que leva à identificação do fator que desencadeia o comportamento.
Se o comportamento não estiver a causar uma situação de emergência, é importante que os cuidadores dediquem algum tempo a procurar padrões que levem à identificação das razões prováveis por detrás do comportamento.
Quando o fator desencadeante é encontrado, pode ajudar a reduzir ou eliminar completamente o comportamento negativo.
Não esquecendo que o guia principal para orientar os cuidados das pessoas com a doença de Alzheimer ou outro tipo de demência, é a fase da demência em que a pessoa se encontra.
Por outro lado, podem aplicar-se muitas estratégias de cuidados infantis, ou cuidados às crianças, aos cuidados às pessoas com doença de Alzheimer ou outro tipo de demência.
Aceitar a situação
Muitas vezes, os cuidadores têm dificuldade em encontrar o valor e o significado das suas interações, cuidados e relações.
Se a pessoa com demência não consegue comunicar normalmente, não se lembra do que aconteceu há uma hora atrás, ou não consegue participar numa atividade como antes, os prestadores de cuidados têm dificuldade em encontrar o objetivo e o valor da interação ou da atividade.
Mesmo que um idoso com demência esteja em pleno declínio, isso não deve diminuir a imensa importância da atividade e da interação com o idoso.
Se por um lado, mesmo com a ajuda de uma equipa de cuidados capaz de lidar com a demência, pode levar algum tempo até que o cuidador informal consiga passar pelas fases de luto e aceitação da situação.
Por outro, o cuidador formal tem a vantagem única de não ter uma história prévia com o idoso e, por isso, entra na vida do idoso, livre de bagagem emocional e, portanto, pode ser capaz de criar e celebrar momentos significativos, sem recordar como as coisas foram antes.
Uma perspetiva positiva deve, assim, envolver todas as situações de cuidados.
Estes são alguns exemplos:
Falta de memória
É verdade que uma pessoa com demência pode chegar a uma fase da demência em que não se lembra das visitas, mas isso não significa que os momentos passados durante a visita não tenham sido especiais e, portanto, valiosos para a criação de qualidade de vida.
Falta de destreza física
A pessoa com demência pode não ser capaz de jogar um jogo de dados com a mesma destreza e perícia de outrora, mas isso não significa que não goste de se sentar à mesa a ouvir o som familiar dos dados a rolar, ou de lançar os dados enquanto os outros batem palmas e os encorajam. O que importa é a experiência social e a atividade, não ganhar o jogo.
Falta de capacidade para as tarefas diárias
O idoso pode não ser capaz de planear e cuidar do jardim como antigamente, mas isso não significa que não gosta de plantar uma planta com a ajuda do cuidador, enquanto sente o sol no rosto e ouve o canto dos pássaros.
Seja qual for o tipo de cuidador ou de cuidados prestados, não se pode assumir que uma vida ou uma relação tem menos valor simplesmente porque mudou. As pessoas com demência também têm potencial para levar uma vida com significado em todas as fases da demência.
O que fazer quando se visita uma pessoa com demência?
As pessoas com demência podem continuar a querer e a gostar de receber visitas, apesar das suas circunstâncias.
Para ajudar a que tanto idosos como cuidadores tenham uma experiência positiva quando há visitas, uma pequena preparação prévia é muito útil.
Estas são algumas sugestões para planear visitas de forma estratégica:
- Limitar as visitas a 1 ou 2 pessoas de cada vez. Demasiadas pessoas podem tornar o ambiente demasiado pesado para o idoso
- Marcar as visitas para a altura do dia em que o idoso está normalmente no seu melhor
- Minimizar as distrações mantendo o ambiente calmo e silencioso
- Desligar a televisão ou a música alta
- Pedir às pessoas que estão a visitar para irem para outra divisão, caso o idoso se sinta cansado ou alterado
- Enviar uma lista do que fazer e do que não fazer a quem vai visitar com antecedência, para que tenham tempo de absorver a informação
O que fazer e não fazer durante a visita
O que fazer
- Manter o tom de voz e linguagem corporal amigáveis e positivos
- Não falar demasiado alto
- Estabelecer contacto visual e manter-se ao nível dos olhos do interlocutor
- Fazer uma apresentação pessoal, mesmo que haja a certeza de que o idoso conhece essa pessoa
- Falar devagar com frases curtas, com apenas uma ideia por frase
- Dar mais tempo ao idoso para falar ou responder a perguntas, não apressar a conversa
- Utilizar perguntas abertas para que não haja respostas certas ou erradas
- Não se preocupar com o facto de se sentarem juntos em silêncio. Os idosos podem gostar disso
- Não forçar tópicos de conversa ou atividades
- Validar os sentimentos do idoso e permitir-lhe expressar tristeza, medo ou raiva
- Entrar na realidade do idoso
- Seguir o fluxo da conversa, mesmo que se fale de coisas que não são verdadeiras ou que não fazem sentido
- Partilhar memórias do passado
- Trazer uma atividade pensada e preparada para fazer, como algo para ler em voz alta, um álbum de fotografias para ver ou algumas músicas para ouvir
- Dar abraços, toques suaves ou massajar os braços ou os ombros se a pessoa o permitir e gostar
O que não fazer
- Perguntar se o idoso se lembra, isso pode causar raiva ou embaraço
- Discutir. Se a pessoa disser algo que não está correto, deixe passar
- Apontar os erros. Isso só faz sentir mal e não ajuda a conversa
- Partir do princípio de que a pessoa não se lembra de nada
- Levar a peito as coisas más ou desagradáveis que a pessoa diz. A doença pode distorcer as palavras ou levar a reagir mal por confusão, frustração, medo ou raiva
- Falar mal com a pessoa. Não é uma criança e deve-se mostrar o devido respeito
- Falar sobre as pessoas com demência com outras pessoas como se não estivessem presentes
Conclusão
A relação entre os cuidadores e as pessoas com demência pode ser rica e gratificante, apesar dos desafios.
Os prestadores de cuidados não podem cuidar dos idosos ou de outras pessoas com demência em detrimento de si próprios, devendo antes procurar ajuda, apoio e orientação para que não o façam sozinhos.
O ideal é criar e ser membro de uma equipa de gestão da demência, que inclui várias pessoas ou até vários profissionais de saúde como enfermeiros, médicos, fisioterapeutas ou outros.
Os cuidadores precisam de saber sobre como cuidar das pessoas com demência em cada fase, para que possam ser capazes de lidar com a demência e as circunstâncias que a doença acarreta.
De uma certa forma, cuidar de uma pessoa com demência aproxima dos cuidados infantis e de como cuidar de uma criança.
Devido a este fator, uma pessoa pode aprender mais rapidamente a ser capaz de cuidar de pessoas com demência aplicando o que já sabe sobre cuidados infantis, tendo sempre presente, no entanto, que nunca deve tratar um adulto como uma criança.
Apesar dos desafios que os cuidados a pessoas com demência possam existir, os cuidadores devem também aprender a desfrutar dos momentos significativos passados com estas pessoas e a encontrar formas de apreciar os momentos passados em conjunto.
É importante não permitir que a doença defina a vida ou as relações quer dos cuidadores quer dos idosos ou de outras pessoas que vivem com demência.
Escolhendo uma perspetiva positiva, aumentará a possibilidade de surgirem muitos momentos especiais ao longo do cuidado, possibilitando que o prestador de cuidados possa parar para os ver, ouvir e sentir, proporcionando também uma maior qualidade de vida quer para as pessoas com demência, quer para os próprios cuidadores.
Juntos Cuidamos Melhor!
Referências:
- Today´s Caregiver
- Daily Caring