Como falar com uma pessoa que tem Alzheimer?

Como falar com uma pessoa que tem Alzheimer?

Quando as pessoas idosas desenvolvem Alzheimer a sua comunicação e a forma como comunicam muda.

A comunicação é difícil para as pessoas com doença de Alzheimer, por exemplo, porque têm dificuldade em lembrar-se das coisas.

Podem ter dificuldade em encontrar palavras ou esquecer-se do que querem dizer. Podem sentir-se impacientes e desejar dizerem o que querem, mas não conseguem.

Quando uma pessoa tem Alzheimer ou ou tipo de demência, as alterações no cérebro provocam um declínio na sua capacidade de ouvir e responder a uma conversa normal.

Esta situação pode trazer dúvidas para os cuidadores ou familiares de como comunicar com a pessoa. Falar com frases curtas e diretas pode ser mais confortável para facilitar a comunicação.

Com menos informação para processar, torna-se mais fácil para o idoso com Alzheimer ou demência compreender o que se está a dizer e podem responder mais adequadamente.

Porque é que é importante saber comunicar com um idoso com demência ou Alzheimer?

A pessoa que tem Alzheimer pode ter problemas com vários aspetos da comunicação, como por exemplo:

  • Encontrar a palavra certa ou perder a linha de pensamento quando se está a falar
  • Compreender o significado das palavras
  • Prestar atenção durante conversas longas
  • Lembrar os passos de atividades habituais, como cozinhar uma refeição, pagar contas ou vestir
  • Bloquear os ruídos de fundo do rádio, da televisão ou das conversas
  • Frustração quando a comunicação não está a funcionar
  • Ser muito sensível ao toque e ao tom e intensidade das vozes

Além disso, a doença de Alzheimer faz com que algumas pessoas se confundam com a linguagem. Por exemplo, a pessoa pode esquecer-se ou deixar de compreender uma determinada língua, se tiver sido aprendida como segunda língua.

Em vez disso, pode compreender e utilizar apenas a primeira língua aprendida, a sua língua materna. A doença de Alzheimer e a demência afetam a capacidade do cérebro para processar e recuperar informação.

Isto pode fazer com que seja muito difícil para uma pessoa com demência ouvir, compreender e responder adequadamente a uma conversa normal.

É por isso que se recomenda a utilização de frases curtas e diretas com apenas um pensamento por frase, para comunicar com estas pessoas.

Assim, é mais fácil para a pessoa com demência ou Alzheimer compreender o que está a dizer. Pensamentos longos ou complexos podem ser esmagadores porque são demasiado difíceis de processar.

Esta técnica pode parecer estranha à primeira vista, porque geralmente usa-se uma conversa amigável para preencher o silêncio, informar alguém sobre o que está a acontecer ou para mostrar que nos preocupamos.

Mas combinar menos palavras com um tom caloroso e positivo será menos frustrante para os idosos com demência ou Alzheimer e é igualmente amável.

Como falar com alguém com Alzheimer ou outro tipo de demência

O mais importante é comunicar de forma simpática utilizando menos palavras. O primeiro passo é compreender que a doença provoca alterações nas capacidades de comunicação.

Estabelecer contacto visual e chamar a pessoa pelo nome. Ter em atenção o tom, a intensidade da voz, a forma como se olha para a pessoa e a linguagem corporal, são algumas coisas a ter em conta.

Incentivar conversas durante o máximo de tempo possível e utilizar outros métodos para além da fala, como toques suaves. Tentar distrair a pessoa se a comunicação criar problemas, são outras estratégias que se podem utilizar.

Para encorajar a pessoa a comunicar melhor podem utilizar-se também algumas estratégias:

  • Mostrar uma atitude calorosa, carinhosa e objetiva
  • Segurar a mão da pessoa enquanto fala
  • Mostrar abertura às preocupações da pessoa, mesmo que seja difícil de entender
  • Deixar a pessoa tomar algumas decisões e a manter-se envolvida no que se passa
  • Mostrar paciência com as explosões de raiva que possam ocorrer

Outras estratégias para cuidadores e familiares são:

Tirar momentos para tempo pessoal

Pode ser difícil conviver com alguém que vive com demência ou doença de Alzheimer em específico. Podem ser situações muito emocionais que podem até influenciar o próprio comportamento de quem cuida.

Reservar um minuto para acalmar antes de iniciar uma conversa. E procurar momentos de calma mais pessoais pode ajudar a ter maior disponibilidade e mais paciência.

Manter a calma e a positividade.

Remover as distrações

Como qualquer pessoa, uma pessoa com demência pode ter dificuldades de comunicação quando há distrações noa seu ambiente.

A televisão, rádio e as crianças a correr podem facilmente captar a atenção. No entanto, o que é vagamente uma distração para nós, pode ser torturante para as pessoas com demência.

Para minimizar estas distrações, garantir que todos os aparelhos eletrónicos estão desligados ou em modo silencioso. Pedir às outras pessoas que rodeiam a pessoa que saiam da área ou que passem para uma atividade calma.

Observar o ambiente ou consultar os prestadores de cuidados em casa para ver que outras distrações podem ter de ser eliminadas.

Identificar-se

Quando uma pessoa sofre de demência, pode não se lembrar imediatamente de quem são as pessoas que interagem consigo.

É importante dizer gentilmente o nome e qual é a relação que existe com a pessoa. Isto pode ajudar a trazer de volta memórias, bem como ajudar a pessoa a sentir-se segura.

Se a pessoa parecer especialmente confusa, ter outra pessoa, como um cuidador domiciliário, a fazer a apresentação pode ajudar a pessoa a sentir-se mais confortável.

Falar devagar

Quando se fala com a pessoa que tem Alzheimer, deve-se reservar algum tempo para abrandar o ritmo. Isso pode ajudar a dar tempo para absorverem o que se está a dizer e a estabelecerem ligações com os outros.

Utilizar frases mais curtas e palavras mais pequenas

Frases desconexas e palavras grandes podem ser confusas. Deve-se tentar evitá-las se possível.

Utilizar uma frase de cada vez, fazendo uma pausa para que o idoso possa digerir o que está a ser dito antes de continuar. O tempo de pausa pode variar de dia para dia.

Ser direto

Para evitar causar confusão, é melhor dizer exatamente o que se quer dizer. Se se estiver a fazer referência a um objeto ou a outra pessoa, utilizar o nome em vez de usar pronomes.

Não fazer suposições

Pode ser tentador terminar as frases de alguém ou mesmo assumir que essa pessoa não quer participar numa atividade social.

Mas, deve-se evitar isto tanto quanto possível. O idoso com demência merece ter uma palavra a dizer nas atividades em que participa, bem como saber que está a ser acompanhado por alguém.

Praticar a escuta ativa

A escuta ativa é uma forma de comunicação que permite que a outra parte saiba que quem escuta está mesmo a ouvir. Acenar com a cabeça e responder de forma a validar o que foi dito, ajuda as pessoas a sentirem que são ouvidas e compreendidas.

No entanto, algumas competências de escuta ativa podem ser mais perturbadoras do que úteis para algumas pessoas ou em algumas situações. Por exemplo, utilizar pequenos sons de encorajamento, como “hum hum”, pode fazer mais mal do que bem.

Reservar algum tempo para experimentar e avaliar o que funciona melhor. Se o idoso é acompanhado por cuidadores, considerar a possibilidade de pedir também a opinião ao prestador de cuidados.

Não bloquear a conversa

Não há problema em ter limites em relação ao que pode e não pode ser discutido. No entanto, existem alguns obstáculos à conversa que devem ser evitados.

Evitar perguntar, porquê ou forçar o idoso a falar sobre algo que não lhe apetece. Isso tende a impedir conversas produtivas.

Mais importante ainda, resistir ao impulso de interromper, porque perturba o fluxo da conversa. É melhor dar preferência ao ouvir do que ao falar.

Redirecionar

Em vez de tentar impedir o idoso de fazer algo potencialmente perigoso, é preferível tentar redirecionar para uma atividade mais segura ou mais positiva.

Dar a escolher entre duas coisas ou fazer perguntas com resposta de sim ou não

É muito mais fácil comunicar quando nos é dada a escolher entre duas coisas diferentes.

Em vez de perguntar ao idoso o que quer comer ao almoço, é melhor fazer sugestões concretas sobre tipos de alimentos.

Esta estratégia permite que o idoso se concentre em escolher entre duas opções claras em vez de ter demasiadas ideias e ficar sobrecarregado.

Fazer perguntas com reposta de sim ou não funciona de forma semelhante. Em vez de se perguntar o que é que o idoso quer beber, é melhor perguntar diretamente se quer água, por exemplo.

A linguagem corporal também é comunicação

O contacto visual pode ajudar o idoso a saber que está a ser ouvido. Tente adequar a linguagem corporal à emoção que se pretende exprimir para facilitar uma melhor compreensão por parte do idoso.

Considerar formas de comunicação não verbais, como a escrita

É importante encontrar as técnicas de comunicação que funcionam melhor para quem cuida e para o idoso.

Dependendo de como o idoso se está a sentir, a comunicação verbal pode não ser a primeira escolha. Algumas pessoas ficam melhor quando podem dedicar algum tempo a escrever uma nota do que quando têm uma conversa oral.

Escrever permite ter mais tempo e também pode ajudar a detetar erros, como identificar uma palavra incorreta, por exemplo. Este processo pode ajudar o idoso a sentir-se mais confortável a interagir com os outros.

Não esquecer de utilizar também os outros sentidos. A visão, o som, o olfato, o paladar e o tato podem ser vitais para a comunicação.

Cada pessoa com doença de Alzheimer ou demência é diferente e terá um nível diferente de incapacidade cognitiva.

Estes são alguns exemplos que servem como ponto de partida. O importante é experimentar para descobrir o que funciona melhor para tos os intervenientes em diferentes situações:

Idas à casa de banho

Quando é necessário ir à casa de banho, é melhor dizer diretamente que está na hora de ir à casa de banho, do que elaborar frases mais complexas como por exemplo:

Já passou cerca de uma hora desde a última vez que foi à casa de banho, por isso, porque é que não vamos à casa de banho? Está bem? O que é que lhe parece? Quer ir à casa de banho agora?

Refeições

Quanto está na altura de o idoso almoçar, por exemplo, pode dizer-se: está na hora de comer, vamos para cozinha, em vez de dizer: tem fome? É hora do almoço. Vamos para a cozinha para poder comer. Depois do almoço, vamos dar um passeio lá fora para apanhar um pouco de ar fresco.

A segunda frase é demasiado complexa para ser facilmente entendida pelo idoso.

Ida a consultas médicas

Quando é necessário ir a uma consulta médica, pode dizer-se ao idoso: está na hora de sair, vamos vestir o casaco e ir para o carro.

Esta frase é melhor do que dizer: hoje vamos ver o doutor, ele vai ver como está a reagir aos novos medicamentos. Lembra-se que tivemos de remarcar a consulta do mês passado? Ainda bem que ela tinha uma vaga tão cedo. Hoje está um pouco frio, porque é que não veste o casaco enquanto eu vou buscar as chaves e depois vamos juntos até ao carro.

Visitas de familiares ou amigos

É mais benéfico dizer: é o teu irmão (dizer o nome da pessoa que visita) e acrescentar: ele veio dizer olá.

Não se deve dizer: Tem uma visita! Sabe quem é? O seu irmão esteve cá na semana passada. Não se lembra?

Conclusão

A doença de Alzheimer, uma doença cerebral que afeta muitos idosos em todo o mundo tem um grande impacto na capacidade de pensar, raciocinar e recordar.

À medida que a demência progride e os sintomas ligeiros se tornam mais graves, as dificuldades na utilização da linguagem intensificam-se, o que torna mais difícil para as pessoas com a doença expressarem os seus pensamentos, desejos e sentimentos aos outros.

Mas há estratégias a que as famílias, os amigos e os prestadores de cuidados podem recorrer quando os métodos tradicionais de comunicação não funcionam.

O que é importante é ir ao encontro da pessoa onde ela está e estabelecer uma ligação com ela da forma que ela é capaz de comunicar.

Não existe uma abordagem infalível ou única para toda as pessoas. Comunicar com alguém que tem Alzheimer ou outro tipo de demência, pode parecer diferente de uma pessoa para outra e de uma fase para outra.

Mesmo uma técnica que ajuda uma pessoa num dia pode não funcionar para essa pessoa num dia diferente.

Falar com alguém que sofre de Alzheimer ou demência pode ser um desafio. As conversas podem ser carregadas de emoções como tristeza, raiva ou medo.

Aprender algumas técnicas de comunicação simples, mas eficazes, torna mais fácil estabelecer uma ligação com essa pessoa e desfrutar de um tempo significativo em conjunto.

A maior parte do que importa quando se visita e passa tempo com alguém com demência é exatamente isso, o tempo que as pessoas passam juntas.

Em última análise, a comunicação com alguém que sofre de Alzheimer depende de uma coisa: respeito.

Apesar da incapacidade, a doença não apaga a dignidade humana nem torna os idosos menos merecedores de respeito e dignidade.

Juntos Cuidamos Melhor!

Referências:

  • Associação Alzheimer Portugal
  • National Institute on Aging