A expressão `rir é o melhor remédio´ é muito conhecida e reflete a perspetiva de que o humor pode ter um efeito redutor do stress e ajudar a lidar com situações mais desafiadoras.
Também é do conhecimento comum que cuidar de pessoas e, particularmente de idosos, pode ser muito stressante, por vezes pode ser uma tarefa desgastante e frustrante, e os problemas médicos que os idosos geralmente enfrentam não são certamente motivo de riso.
Mas, isso não significa que os prestadores de cuidados não possam ter alguns momentos do dia em que o humor prevalece. Na verdade, podem acontecer momentos engraçados durante a prestação de cuidados e mesmo no meio do pior dia, ainda há espaço para o riso.
Os momentos engraçados podem surgir naturalmente enquanto se está a cuidar de alguém.
Permitir-se reparar quando acontecem coisas engraçadas e encorajar o idoso a fazer o mesmo alivia a tensão e torna a experiência mais positiva para tanto para os cuidadores como para os idosos.
Embora as condições médicas crónicas e o declínio físico possam ser muito graves e dignos de emoções e reflexões profundas, uma forma de lidar com a dor ou o stress é através do humor.
O humor do prestador de cuidados é útil para o cuidador e para o idoso e o cuidador não se deve sentir culpado por se rir.
Qualquer pessoa que tenha tido um ataque prolongado de riso sabe que sabe bem rir e brincar com as situações. Na prestação de cuidados o humor e o riso, podem ajudar a tolerar melhor as tarefas mais stressantes e desafiadoras dos cuidados.
A Novo Cuidar apresenta neste artigo, algumas estratégias para encontrar o humor, mesmo nas situações mais difíceis.
Porque é que o humor é importante?
O sentido de humor e uma visão mais humorada das situações acaba por ter um efeito transversal a toda a prestação de cuidados.
Estas são algumas das razões porque o humor e o riso são tão importantes:
Melhorar a qualidade de vida
Animar o ambiente é uma forma, também de melhorar a qualidade de vida do idoso e do cuidador.
O mundo não tem de ser constantemente sombrio, cinzento e deprimente, mesmo que o cuidador esteja a cuidar de um idoso com demência ou se a sua própria saúde estiver debilitada.
Pode parecer contraintuitivo, mas estas são, precisamente, as alturas em que uma boa dose de humor é mais necessária.
Além disso, estar zangado, infeliz e tenso não vai mudar uma situação má nem tornar a vida de ninguém mais agradável. Tentar ver o lado engraçado ou positivo das coisas sempre que possível alivia o humor e melhora o bem-estar geral de todos.
O riso ajuda as pessoas a lidar com emoções difíceis
O humor é uma forma muito eficaz de lidar com as emoções difíceis que acompanham a prestação de cuidados e o processo de envelhecimento.
Num estudo de investigação, a maioria dos doentes com cancro em tratamento afirmou que manter o sentido de humor era muito importante. A maioria disse que o humor diminuía a ansiedade e que rir também era importante.
O humor não é mau nem desrespeitoso
Uma das razões pelas quais os prestadores de cuidados podem resistir à procura de humor é a preocupação de parecerem maus ou desrespeitosos.
Na realidade, faz parte de ser um bom prestador de cuidados deixar-se rir e encorajar o idoso a rir também.
Afinal de contas, o cuidador não se está a rir da pessoa de quem cuida. Está a rir-se de uma situação engraçada, ridícula ou irónica a que ambos possam achar graça.
Melhor ainda nos momentos em que o idoso é o primeiro a fazer uma piada ou quando se ri ainda mais do que o próprio cuidador.
O humor protege contra o burnout
A prestação de cuidados é uma responsabilidade exigente, stressante, 24 horas por dia, 7 dias por semana. Não é de admirar que os prestadores de cuidados corram um grande risco de burnout ou esgotamento.
No entanto, existem formas de combater este stress crónico e ajudar a proteger contra o potencial desgaste. Uma destas formas é utilizar o humor.
Fazer um esforço consciente para encontrar algo engraçado ou animador todos os dias melhora o estado de espírito e ajuda a identificar mais facilmente as coisas positivas, mesmo nos dias mais difíceis.
O riso estimula a saúde e o bem-estar
Algo tão simples como sorrir ou rir pode ter um impacto direto na saúde física, para além de aumentar o bem-estar mental.
Rir e sorrir liberta dopamina, o que pode diminuir as hormonas do stress no nosso corpo, e também tem demonstrado elevar os limiares de dor.
O stress pode contribuir para doenças físicas, pelo que um aumento da dopamina pode ajudar a proteger contra os efeitos negativos para a saúde do stress crónico.
A curto prazo, o riso aumenta o consumo de oxigénio, o que estimula o coração, os pulmões e os músculos. Aumenta também a produção de endorfinas, que ajudam a aliviar o stress.
Alivia as tensões, estimulando a circulação e o relaxamento muscular, o que reduz os sintomas físicos do stress.
A longo prazo, rir melhora o sistema imunitário. Tanto os pensamentos positivos como os negativos produzem reações químicas no corpo.
Substituir essa energia negativa pela libertação de neuropeptídeos que combatem o stress e são libertados quando o cérebro experimenta energia positiva, como o riso, pode ser extremamente útil.
O riso pode também ajudar a aliviar a dor. O riso liberta endorfinas, estas hormonas funcionam como um analgésico natural porque produzem dopamina que ajuda os cuidadores a sentirem-se mais felizes e estimulados.
E o riso ou sentido de humor também melhora o humor, ou o estado de espírito do cuidador. Quando as pessoas se estão a rir, os maus pensamentos tendem a ser afastados da mente. Não só ajuda a lidar com a situação em causa, como o riso também melhora a autoestima.
Como acrescentar riso e encontrar o humor na prestação de cuidados?
Embora o riso possa parecer que tem que ser sempre espontâneo, algumas estratégias podem ajudar a incorporá-lo no dia a dia de forma intencional.
Uma estratégia eficaz e de fácil execução é ver comédias. Os filmes de comédia, as sitcoms ou os espetáculos de standup comedy podem desencadear gargalhadas fortes e são uma adição fácil às rotinas diárias.
A incorporação do riso e do humor na prestação de cuidados pode ter inúmeros benefícios, incluindo a redução do stress, a melhoria do humor e o aumento da qualidade de vida global do prestador de cuidados e da pessoa a quem prestam cuidados.
Procurar pelo que é engraçado. Quer seja encontrar anedotas engraçadas em artigos para contar aos outros ou ver comédias na televisão com o idoso, o cuidador deve reservar algum tempo durante o dia para simplesmente desfrutarem da companhia um do outro.
Outras estratégias incluem:
Partilhar histórias e recordações engraçadas
A partilha de histórias e recordações engraçadas pode ser uma excelente forma de criar laços com o idoso que se está a cuidar e de lhe trazer um sorriso ao rosto.
Falar sobre experiências passadas ou incidentes engraçados que tenham partilhado ou vivido em conjunto.
Ver filmes ou programas de televisão divertidos
Ver um filme ou um programa engraçado pode reduzir significativamente o stress e aliviar o humor. Procurar algo de que ambos gostem e cuidador e idoso podem ver juntos.
Jogar jogos que envolvam humor
Jogar jogos que envolvam humor, como charadas ou Pictionary, pode ser uma forma divertida de passar o tempo e trazerem algumas gargalhadas para a rotina da prestação de cuidados.
Utilizar o humor para aliviar situações de tensão
Se uma situação se tornar tensa ou stressante, tentar usar o humor para atenuar a situação. Por exemplo, pode usar-se uma voz engraçada ou fazer uma cara de parvo para aliviar o ambiente e reduzir a tensão.
Incorporar o humor nas atividades diárias
Também se pode incorporar o humor nas atividades diárias, como cozinhar ou limpar. Por exemplo, pode usar-se um avental engraçado ou usar sotaques engraçados quando se fala com o idoso.
Partilhar piadas engraçadas ou desenhos animados
Partilhar piadas engraçadas ou ver desenhos animados em conjunto pode ser uma ótima forma de trazer algum riso à rotina dos prestadores de cuidados. No entanto, o cuidador deve certificar-se de que o humor é apropriado e não ofensivo para a pessoa de quem cuida.
Assistir a um espetáculo ou evento de comédia
Assistir a um espetáculo ou evento de comédia pode ser uma forma divertida de o idoso sair de casa e de se rir com os acompanhantes.
Incorporar o riso e o humor na prestação de cuidados pode ajudar a melhorar o bem-estar geral do prestador de cuidados e da pessoa de quem está a cuidar. No entanto, é importante lembrar de usar o bom senso e ser sensível às necessidades e preferências da pessoa de quem se cuida.
Pedir ao idoso para contar algumas histórias engraçadas
O idoso poderá ter algumas histórias engraçadas da juventude que gostaria de contar. A maioria das pessoas não passa pela vida sem que algo hilariante aconteça pelo caminho e revivê-las pode muitas vezes ser tão engraçado como o momento em que aconteceu.
Praticar yoga do riso
O yoga do riso é uma prática real em que as pessoas riem em grupo. O riso é forçado, no início, mas logo se torna espontâneo. Há um ditado que diz: “Ri-te e o mundo ri-se contigo”, que poderá estar por trás das motivações do yoga do riso.
Rir da vida quotidiana
O cuidador não deverá ter medo de se rir quando algo engraçado acontece durante a sua rotina diária. A prestação de cuidados pode proporcionar oportunidades ricas para que o engraçado simplesmente aconteça e não é irreverente rir quando isso acontece.
Convidar amigos
Se o cuidador ou o idoso tiverem alguns amigos ou conhecidos divertidos, poderá ser boa ideia convida-los para almoçar ou jantar. Ter uma cara nova não só quebra a rotina, como ter uma troca de ideias engraçada ou divertida torna a visita muito mais agradável.
Estar disponível para a tolice
Experimentar perucas e roupas coloridas e engraçadas, dançar, mesmo sozinho e quando ninguém estiver a dançar e rir em voz alta em locais públicos, podem ser formas de escape ao stress e descontração.
Agir de forma tola, dentro do razoável, pode muitas vezes quebrar a monotonia da vida quotidiana. E se isso fizer com que as pessoas à volta também se riam, então ainda melhor.
O humor em si não é mau nem desrespeitoso. Embora rir das ações dos outros durante uma determinada situação possa ser inofensivo, rir dos defeitos de alguém não tem piada.
Se o idoso se estiver a rir das suas próprias palhaçadas, junte-se a ele, mas tenha o cuidado de se rir com ele e não dele.
Como no teatro de improviso ou na comédia, para manter a conversa em movimento em vez de corrigir ou questionar alguém, manter uma conversa improvisada em que se diz sempre sim, pode resultar numa história engraçada que cuidador e idoso criam juntos.
Contar anedotas
Se o cuidador não souber nenhuma, pode comprar um livro de anedotas e ler algumas em conjunto com o idoso todos os dias.
Mesmo que seja uma piada parva, pode ser divertida e gozar um pouco connosco próprios e pode ajudar a libertar o humor.
Colocar as coisas em perspetiva pode ser relaxante e divertido, afinal de contas estamos todos a envelhecer.
Explorar o humor na internet
Existem inúmeros vídeos de acontecimentos engraçados no YouTube e noutros serviços de transmissão de vídeo que podem ser apreciados pelo cuidador e pelo idoso.
No entanto, o cuidador terá de se certificar de que a comédia é adequada aos gostos do idoso, mas os vídeos inofensivos que poderiam aparecer na televisão são uma boa opção para começar.
Riscos e limitações potenciais ao uso de humor
Embora o riso e o humor possam ser benéficos na prestação de cuidados, existem também potenciais riscos e limitações de que os prestadores de cuidados devem estar cientes.
Estes são alguns dos riscos e limitações que podem surgir:
Ofensa ou desconforto
O riso e o humor podem ser subjetivos, e o que uma pessoa acha engraçado, outra pessoa pode achar ofensivo ou desconfortável. É essencial que os prestadores de cuidados sejam sensíveis às preferências e sensibilidades da pessoa a quem prestam cuidados e evitem utilizar humor que possa ser inadequado ou ofensivo.
Uso excessivo de humor
Embora o riso e o humor possam ser úteis, é essencial evitar o seu uso excessivo. Demasiado humor pode parecer insensível ou desdenhar dos sentimentos da pessoa, o que pode não ser benéfico em situações mais graves.
Deficiências cognitivas
As pessoas com deficiências cognitivas ou demência, podem não compreender o humor como os outros, e as tentativas de humor podem confundi-las ou perturbá-las. Os prestadores de cuidados devem ter em conta as capacidades cognitivas e as preferências da pessoa quando incorporam o riso e o humor.
Limitações físicas
As pessoas com limitações físicas podem não conseguir participar em certos tipos de atividades que envolvam movimentos físicos que possam ser engraçados. Os prestadores de cuidados devem estar atentos a quaisquer limitações físicas e adaptar a sua abordagem em conformidade.
Diferenças culturais
As diferenças culturais podem influenciar o humor, e o que pode ser engraçado numa cultura pode não o ser noutra. Os prestadores de cuidados devem ter em conta as diferenças culturais e evitar utilizar humor que possa ser insensível ou inadequado.
Situações sérias ou sensíveis
Embora o humor possa ser um mecanismo útil para lidar com a situação, não deve ser utilizado para evitar ou minimizar problemas graves ou agudos.
Os prestadores de cuidados devem ser honestos e transparentes com a pessoa de quem cuidam e abordar os problemas diretamente, em vez de utilizarem o humor para os evitar ou reduzir.
Incorporar o riso e o humor na prestação de cuidados pode ser benéfico, mas é essencial ter em atenção os potenciais riscos e limitações. Os prestadores de cuidados devem usar de bom senso e adaptar a sua abordagem com base nas necessidades e preferências individuais da pessoa a quem prestam cuidados.
Quando é que não se deve utilizar o riso e o humor na prestação de cuidados?
Embora o riso e o humor possam ser úteis em muitas situações, há algumas circunstâncias em que podem não ser apropriados. Os prestadores de cuidados devem usar o seu discernimento e considerar a pessoa de quem cuidam antes de incorporar o humor na sua rotina de cuidados.
Estas são algumas situações em que pode ser melhor evitar o uso do riso e do humor:
O idoso está a sofrer com dores físicas ou emocionais
O riso pode não ser apropriado se o idoso estiver a sentir dores físicas ou emocionais. É essencial ser sensível às suas necessidades e prestar apoio e cuidados adequados.
O idoso está a sentir-se triste ou deprimido
Embora o riso possa ajudar a melhorar o humor e a reduzir o stress, pode não ser apropriado se a pessoa se estiver a sentir triste ou deprimida. Nestas situações, dar apoio emocional e validação pode ser mais útil.
Quando a pessoa idosa tem uma deficiência cognitiva
As pessoas com deficiências cognitivas podem não compreender o humor como os outros, e as tentativas de humor podem confundi-las ou perturbá-las. É essencial ser sensível às suas necessidades e preferências.
O humor é inapropriado ou ofensivo
O humor inapropriado ou ofensivo pode ser ofensivo e prejudicial e deve ser evitado. Os prestadores de cuidados devem ter em atenção a pessoa de quem estão a cuidar e evitar usar humor que possa ser inadequado ou ofensivo para ela.
Evitar ou minimizar problemas graves
Embora o humor possa ser um mecanismo útil para lidar com a situação, não deve ser utilizado para evitar ou minimizar assuntos sérios, especialmente se forem preocupações de saúde.
Os prestadores de cuidados devem ser honestos e transparentes com a pessoa de quem cuidam e abordar os problemas diretamente, em vez de utilizarem o humor para os evitar ou minimizar.
Conclusão
O riso, muitas vezes designado como o melhor remédio e tem um impacto significativo no bem-estar geral.
É especialmente benéfico para melhorar o bem-estar dos idosos, o que o torna uma ferramenta valiosa na prestação de cuidados. Não se trata apenas de partilhar uma anedota, a terapia do riso, uma abordagem única e útil aos cuidados a idosos, utiliza o humor para promover a saúde e o bem-estar dos idosos.
É importante não considerar só os benefícios do riso e do humor, mas também incorporá-lo de forma mais eficaz na vida diária do idoso e do cuidador.
A prestação de cuidados é uma responsabilidade exigente que provoca stress e contribui para o burnout ou esgotamento e a fadiga da compaixão.
Uma forma eficaz de combater os efeitos negativos do stress a longo prazo é acrescentar algum humor ao dia a dia. Os sorrisos e as gargalhadas beneficiam tanto os prestadores de cuidados como os idosos.
Para a maioria dos prestadores de cuidados, os cuidados podem ser, por vezes, muito desafiantes e desgastantes. A alegria pode ser encontrada nas coisas simples: uma piada, um momento engraçado partilhado ou tempo passado a ver vídeos hilariantes.
O ato de cuidar pode muitas vezes fazer com que o cuidador se sinta sobrecarregado, ansioso ou mesmo deprimido.
Mas, em vez de o foco ser nos aspetos negativos que muitas vezes fazem parte da prestação de cuidados, uma boa gargalhada pode afastar esses pensamentos negativos da mente e ajudar a encontrar a simples alegria que também pode existir na prestação de cuidados.
Juntos Cuidamos Melhor!
Referências:
- Seniorhelpers.com
- Family Caregivers