A prestação de cuidados é uma responsabilidade complexa e exigente, quer se trate de cuidados pessoais práticos, de saúde ou de apoio emocional.
Os cuidadores, quer sejam informais ou profissionais podem correr o risco de desenvolver fadiga por compaixão. Esta situação pode ser um efeito secundário da prestação de cuidados e pode causar exaustão física e emocional e reduz a capacidade de empatia.
É uma situação comum em profissionais de saúde como médicos, enfermeiros e cuidadores, também pode ser designado por stress traumático secundário.
Essencialmente implica uma situação em que cuidadores ficam stressados por estarem constantemente a ajudar ou a querer ajudar os outros que estão a sofrer ou numa situação debilitante.
Se não for gerida, a fadiga por compaixão piora significativamente a saúde e bem-estar das pessoas afetadas.
Este tipo de fadiga também reduz a capacidade de cuidar do idoso. O cuidador não consegue ser empenhado, caloroso e carinhoso porque já não tem essa capacidade.
Para que os cuidadores se possam proteger, é essencial que aprendam boas estratégias de autocuidado e técnicas para lidar melhor com a situação, caso esta surja.
Fadiga da compaixão e burnout quais as diferenças?
A fadiga da compaixão e o burnout ou esgotamento, têm sintomas semelhantes, mas existem algumas diferenças importantes. O burnout desenvolve-se normalmente ao longo do tempo.
Os principais sinais de esgotamento incluem exaustão emocional e física, sentimentos de negatividade e indiferença, e a sensação de que não se está a conseguir fazer o trabalho bem.
A fadiga por compaixão ocorre quando se fica traumatizado com o sofrimento do idoso. Pode surgir mais rapidamente do que o esgotamento. Os cuidadores podem continuar a sentir empatia e vontade de ajudar, mas podem sentir-se sobrecarregados pelos sintomas.
No entanto, a fadiga por compaixão também pode levar ao esgotamento ou burnout.
A maioria dos prestadores de cuidados já deve ter ouvido falar de burnout, mas muitos não estão familiarizados com o conceito de fadiga por compaixão e com a diferença entre estas duas situações.
A compaixão pode ser definida como o ato de sentir e agir com profunda empatia e pesar por aqueles que sofrem. Os prestadores de cuidados informais são frequentemente indivíduos compassivos por natureza.
Esta caraterística é normalmente considerada uma mais-valia, mas deixa-os em risco de sofrerem os custos de cuidar dos outros.
A fadiga por compaixão é um estado extremo de tensão e stress que pode resultar em sentimentos de desespero, indiferença, pessimismo e desinteresse geral pelos problemas dos outros.
Ao contrário do burnout do prestador de cuidados, a fadiga por compaixão é uma perturbação de stress traumático secundário que resulta da exposição à experiência traumática de outra pessoa e cria níveis elevados de stress emocional.
Este tipo de fadiga é considerado um risco profissional para indivíduos que se deparam com stress e traumas no seu ambiente de trabalho, como enfermeiros, profissionais de saúde mental, agentes penitenciários, cuidadores e trabalhadores da proteção de crianças.
Este problema é um fator que contribui para que muitas pessoas nestas áreas deixem os seus empregos e procurem outros tipos de trabalho.
Um cuidador que está a prestar cuidados a tempo inteiro a um idoso com doença de Alzheimer e artrite, pode não estar a prestar cuidados de enfermagem especializados de alto nível, mas está a cuidar de alguém em sofrimento emocional e físico, com opções limitadas para proporcionar conforto.
Embora existam muitas semelhanças entre os profissionais com empregos de elevado stress e os prestadores de cuidados, estes últimos, sobretudo os cuidadores informais, não beneficiam das mesmas medidas preventivas que muitos empregadores oferecem, tais como dias de saúde mental, apoio de pares e aconselhamento profissional.
Abdicar de pausas, de descanso e de um apoio significativo acaba por afetar a qualidade de vida geral de uma pessoa e em especial de um cuidador.
Embora algumas pessoas possam simplificar e atribuir a fadiga por compaixão à frustração e ao ressentimento, é importante compreender que não se trata de algo que ocorre de um dia para o outro.
É o resultado cumulativo de dias, semanas, meses e anos de gestão de responsabilidades de prestação de cuidados que muitas vezes não são reconhecidas, parecem intermináveis, emocionalmente exigentes e fisicamente esgotantes.
Como resultado, não é invulgar que se manifestem sentimentos de frustração, ressentimento, desespero, culpa ou uma diminuição do sentido de si próprio e do seu papel.
A fadiga por compaixão também difere do burnout na medida em que faz com que os prestadores de cuidados tenham um sentido de empatia enfraquecido por aqueles que estão ao seu cuidado.
Esta é uma distinção importante porque a maioria dos prestadores de cuidados informais assume o seu papel por amor.
Ao contrário dos enfermeiros e dos assistentes sociais, que não têm a tarefa de cuidar de pessoas que conhecem pessoalmente, os prestadores de cuidados informais cuidam dos seus familiares e até de amigos próximos.
Estes cuidadores estão emocionalmente envolvidos no bem-estar dos seus familiares idosos, o que os torna especialmente vulneráveis.
A fadiga por compaixão geralmente ocorre quando uma relação de prestação de cuidados baseada na empatia resulta potencialmente numa resposta psicológica profunda ao stress que progride para a exaustão física, psicológica, espiritual e social do prestador de cuidados informal.
Embora a fadiga por compaixão exista num espetro, quando se desenvolve um certo nível de indiferença ou insensibilidade em relação a um recetor de cuidados, é aconselhável que o cuidador se afaste do papel de prestador de cuidados, pelo menos temporariamente.
A fadiga da compaixão pode manifestar-se através de ações como gritar, bater ou negligenciar um idoso.
Basicamente, qualquer ação que não seja caraterística do comportamento típico do prestador de cuidados, mas que esteja presente e seja consistente, pode ser considerada um resultado desta condição.
Como reconhecer os sinais da fadiga por compaixão?
Existem muitos sinais de alerta que apontam para o início do burnout e, especialmente, da fadiga por compaixão, mas os prestadores de cuidados devem saber quais os sinais a procurar e ser capazes de os detetar no seu próprio comportamento para poderem agir em conformidade.
Tanto a informação como a autoconsciência são fundamentais para evitar problemas emocionais duradouros e até doenças físicas relacionadas com o stress.
Ser pró-ativo é uma das melhores formas de combater a fadiga por compaixão ou, pelo menos, de evitar que fique fora de controlo.
Quando se usa demasiado a compaixão sem ter tempo para a recarregar regularmente, a capacidade de sentir e cuidar dos outros fica desgastada.
Estão são alguns dos sinais para prestar a tenção:
- Sentir-se sobrecarregado, exausto e esgotado
- Evitar e não querer estar perto do idoso ou da pessoa de quem se cuida
- Optar por trabalhar até tarde, sonhar acordado com o facto de já não ter de cuidar de alguém
- Diminuição da paciência e da tolerância
- Explosões de raiva que não são características do comportamento habitual
- Cinismo e falta de esperança
- Aumento da ansiedade
- Diminuição da capacidade de tomar decisões ou dificuldade em tomar decisões
- Dificuldade em dormir
- Sintomas físicos, como dores de cabeça ou problemas gastrointestinais
- Exaustão física ou emocional ou ambas
- Redução dos sentimentos de simpatia ou empatia
- Receio de tomar conta de alguém e sentir culpa por isso
- Sentir irritação, ansiedade ou constantemente num estado de fúria e zanga
- Dores de cabeça
- Isolamento
- Sentir-se desligado
- Sentimento reduzido de realização ou significado na prestação de cuidados
- Problemas nas relações pessoais
Como prevenir a fadiga da compaixão?
Se começarem a ser evidentes alguns dos sinais e sintomas referidos anteriormente, o próximo passo é fazer do próprio cuidador uma prioridade e atender, no mínimo, a algumas das suas necessidades.
A fadiga por compaixão não é um processo a preto e branco, é um continuum. Cada prestador de cuidados tem limites diferentes e há alturas ao longo da jornada de prestação de cuidados em que a suscetibilidade ao stress aumenta e diminui.
Muitos cuidadores podem sentir estes sinais de alerta de tempos a tempos. Estes sentimentos e comportamentos são indesejáveis, mas comuns num grupo de pessoas tão sobrecarregado de trabalho e com tão poucos recursos disponíveis.
Quando os sintomas começam a ser muito frequentes em vez de serem um comportamento fugaz num dia mau, é absolutamente altura de agir.
O cuidador deve reservar pelo menos cinco minutos por dia para comer, rezar, dançar, rir, dormir, caminhar, cantar, ler uma citação inspiradora, meditar ou conversar com um amigo.
Deve dar a si próprio uma pausa mental e física para cuidar ativamente dos outros. A capacidade de o fazer em pequenos intervalos pode permitir iniciar a prática de cuidar adequadamente de si próprio e, a aumentar esses esforços no futuro.
Ter uma forma de sem julgamentos, expressar os pensamentos também pode ser muito benéfico.
Formas de expressão como escrever num diário pessoal, falar com um confidente ou procurar o conselho de um profissional de saúde podem ajudar a processar os sentimentos e oferecer um local seguro para libertar pensamentos e emoções reprimidos.
Se o cuidador já estiver a sentir estes sentimentos e sintomas, deve procurar imediatamente ajuda profissional e cuidados temporários.
Acreditar que os sentimentos não vão desaparecer, especialmente quando ainda está a cuidar ativamente de um familiar idoso, pode levar algumas pessoas a ficarem deprimidas, a desenvolverem ataques de pânico ou a colocarem potencialmente os idosos em perigo.
Assim que o cuidador se sentir revigorado e recuperar o equilíbrio e a perspetiva, pode tomar algumas decisões importantes em matéria de cuidados que ajudarão a evitar futuros casos de fadiga da compaixão.
Poderá ser de considerar, no caso dos cuidadores informais, optar por uma colocação permanente em cuidados de longa duração ou reforçar o plano de cuidados com pausas regulares e descanso.
Estas decisões de prestação de cuidados poderão ajudar a virar para um tipo diferente de experiência de prestação de cuidados, uma experiência que se define pela satisfação da compaixão e não pela fadiga.
Como lidar com a fadiga por compaixão?
No caso de a fadiga já se tenha instalado, ainda que numa fase inicial, é importante adotar algumas estratégias para lidar melhor com a situação.
Estas são algumas estratégias que se podem usar para lidar com a fadiga por compaixão:
Prestar atenção às mudanças no nível de fadiga
O nível de stress e a forma como o cuidador se sente em relação à prestação de cuidados podem mudar de dia para dia e podem também depender do estado de saúde do idoso.
Se o cuidador tomar notas regularmente sobre como se sente, pode acompanhar os níveis de stress e de fadiga por compaixão ao longo do tempo. Pode mesmo tentar classificar a forma como se sente numa escala de 1 a 10.
Por exemplo, se o cuidador normalmente se sente irritado e sobrecarregado e tem dificuldade em dormir devido a preocupações, pode decidir que se encontra num nível 7 e anotar alguns dos principais sintomas.
A escala depende de cada cuidador, o 1 pode significar que não tem quaisquer sintomas, um 5 pode corresponder a uma variedade de sintomas que vão e vêm e um 10 pode significar que os sintomas são tão graves e persistentes que a saúde está em sério risco.
Manter a atenção aos níveis de fadiga por compaixão e aos principais sintomas ajuda a perceber se a fadiga se instalou e a tomar medidas antes de atingir uma fase grave, como um 9 ou 10.
Fazer do autocuidado uma prioridade
Cuidar de nós próprios não é um luxo. O autocuidado é essencial para a prestação de cuidados a longo prazo. Mantém o cuidador mental e fisicamente saudável e protege contra a fadiga da compaixão.
Pode parecer egoísta reservar algum tempo para si próprio, mas se o cuidador estiver esgotado, sobrecarregado e tiver um temperamento explosivo, isso irá certamente transparecer quando estiver a cuidar do idoso.
Cada pessoa tem uma forma diferente de cuidar de si própria, mas, em geral, estes são algumas das coisas que se podem fazer:
- Fazer exercício físico regularmente
- Fazer uma dieta saudável
- Ter uma boa rotina de sono e dormir o melhor possível
- Reservar tempo para si próprio todos os dias, mesmo que sejam apenas 10 minutos
- Obter ajuda para a prestação de cuidados ou para as tarefas domésticas
- Encontrar formas de fazer pausas na prestação de cuidados, como recorrer a cuidados temporários ou fazer pausas breves durante a prestação de cuidados.
Passar algum tempo com amigos
Uma parte importante da manutenção do equilíbrio durante a prestação de cuidados é manter as ligações sociais. Isto ajuda a prevenir a solidão, o isolamento e a depressão.
Passar algum tempo com os amigos a conversar, a partilhar uma refeição ou a dar um passeio em conjunto são excelentes formas de relaxar e afastar a mente das preocupações com a prestação de cuidados.
Participar em grupos de apoio
Os grupos de apoio aos prestadores de cuidados estão cheios de pessoas em situações semelhantes e compreenderão verdadeiramente aquilo por que o cuidador está a passar.
Participar em grupos de apoio a prestadores de cuidados, online ou presenciais, pode melhorar significativamente a qualidade de vida do cuidador, porque se sentirá menos sozinho e poderá obter conselhos sobre como lidar com situações difíceis, desabafar frustrações, aprender novas competências para lidar com a situação e muito mais.
Em Portugal existem vários grupos de apoio que podem ser uma fonte de apoio:
- Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais (movimentocuidadoresinformais.pt)
- Associação Nacional de Cuidadores Informais
- Associação Cuidadores (cuidadores.pt)
Escrever num diário ou journaling
Uma técnica eficaz de redução do stress que pode ser uma boa opção para os prestadores de cuidados é escrever um diário. A colocação dos pensamentos e sentimentos no papel e fora da cabeça pode ser uma atividade muito terapêutica.
Escrever num diário ajuda a processar pensamentos e emoções e pode mesmo ajudar a encontrar soluções para desafios ou a tomar decisões difíceis.
Além disso, escrever num diário é gratuito, leva tanto ou tão pouco tempo quanto o cuidador tiver, e pode ser feito em qualquer lugar.
Utilizar formas positivas de lidar com o stress
Depois de um dia difícil, é tentador ficar à frente da televisão com um saco de batatas fritas ou bolachas e uma garrafa de vinho, mas essas não são técnicas positivas para lidar com o stress.
Em vez disso, elaborar uma lista de estratégias de sobrevivência que sejam positivas e saudáveis. A ideia é fazer coisas que façam a pessoa sentir-se melhor a curto prazo e que melhorem a saúde e bem-estar a longo prazo.
Estas são algumas sugestões de estratégias saudáveis:
- Dar um passeio
- Meditar
- Fazer um treino de 4 minutos
- Praticar uma respiração profunda
- Telefonar, enviar mensagens de texto ou visitar um amigo
- Ver alguns vídeos engraçados no YouTube
- Tomar um banho ou duche quente
- Obter sugestões adicionais sobre como relaxar
Dedicar algum tempo a passatempos
Antes de ser prestador de cuidados, havia passatempos e atividades de que o cuidador gostava. Dedicar regularmente tempo a essas atividades é uma excelente forma de fazer uma pausa na prestação de cuidados ao idoso.
Isto melhora a qualidade de vida e reduz o risco de fadiga por compaixão, porque é algo divertido e criativo que a pessoa faz só para si própria e não está relacionado com a prestação de cuidados, o trabalho ou as tarefas.
Falar com um conselheiro ou terapeuta
Se os níveis de fadiga por compaixão estão a aumentar, falar com um conselheiro ou terapeuta pode trazer alívio. Estes profissionais ajudam as pessoas a lidar com pensamentos negativos, stress, depressão, ansiedade, grandes mudanças na vida e outros desafios.
Um terapeuta pode orientar para formas eficazes de reduzir a fadiga da compaixão e gerir as emoções difíceis que advêm do facto de ser prestador de cuidados.
Conclusão
A compaixão é uma qualidade vital para os prestadores de cuidados, especialmente para os familiares, ou cuidadores informais, que dedicam desinteressadamente o seu tempo e energia a apoiar os idosos.
No entanto, por muito gratificante que a prestação de cuidados possa ser para aqueles que têm um grande coração, também pode afetar o bem-estar emocional de uma pessoa ao longo do tempo.
Este impacto é muitas vezes referido como fadiga da compaixão, um termo utilizado para descrever a exaustão física, emocional e psicológica que os prestadores de cuidados sentem quando cuidam de outros.
A maioria dos prestadores de cuidados passa por alturas em que o cansaço e a frustração de prestar cuidados a um idoso podem atingir o limite e podem entra em esgotamento ou fadiga extrema.
Apesar de um cuidador conseguir lidar razoavelmente bem com o facto de cuidar de vários idosos e das suas necessidades específicas, pode haver momentos em que o cuidador se pergunta quanto tempo mais consegue aguentar.
Nessas alturas, o cuidador pode estar perigosamente perto do esgotamento, mas pode também conseguir manter alguma qualidade de vida, mantendo a concentração no descanso e nos cuidados pessoais.
A fadiga por compaixão é um fenómeno que afeta os prestadores de cuidados, em especial os cuidadores informais que desempenham vários papéis em simultâneo.
Por exemplo, os cuidadores que cuidam dos seus pais idosos e, simultaneamente, cuidam dos seus próprios filhos ou netos, ao mesmo tempo que tentam manter um emprego e as relações sociais.
Este tipo de fadiga é frequentemente caracterizado por um declínio gradual da capacidade de empatia e de prestação de cuidados compassivos por parte do prestador de cuidados.
A exposição prolongada ao sofrimento, ao trauma e às necessidades emocionais dos idosos pode sobrecarregar os prestadores de cuidados, deixando-os emocionalmente esgotados e desligados.
Ao avaliar-se a si próprio quanto aos possíveis efeitos negativos de uma carreira compassiva, o cuidador deve avaliar também as emoções positivas, como a felicidade, o orgulho e a satisfação.
Para que possa prestar bons cuidados, o cuidador deve estar em equilíbrio emocional, físico e psicológico, sendo imperativo que procure ajuda quando sente que não pode continuar.
Tal como é necessário procurar criar um ambiente seguro e com qualidade de vida para os idosos, também é necessário que os cuidadores tenham qualidade de vida, descanso e bem-estar.
Juntos Cuidamos Melhor!
Referências:
AgingCare