O stress que os prestadores de cuidados estão sujeitos pode ser bastante intenso, o que pode ter consequências na saúde física e mental. Por esta razão é importante adicionar à rotina diária estratégias para reduzir o stress e como lidar com ele.
Um dos desafios da prestação de cuidados que não é, muitas vezes falado ou encarado é lidar com as emoções fortes que inevitavelmente surgem no trabalho do apoio dos cuidadores.
A prestação de cuidados pode ser agitada e cansativa, pelo que é natural pôr de lado os sentimentos e concentrar-se em tarefas concretas, especialmente quando esses sentimentos são algo que não se quer admitir. O problema é que, se não lidarmos com as emoções, elas podem prejudicar seriamente a saúde.
Lidar com as emoções fortes em vez de as ignorar reduz significativamente o stress, melhora a capacidade de cada um cuidar de si próprio e ajuda a ser realista e a obter a ajuda que é necessária.
Emoções mais comuns no trabalho dos prestadores de cuidados
Ao cuidar de um idoso, muitos prestadores de cuidados têm sentimentos fortes e contraditórios. Por vezes as emoções podem ser avassaladoras e não é fácil nem identificar, nem gerir.
As principais emoções que podem surgir relacionadas com os cuidados incluem:
- Raiva perante o comportamento frustrante do idoso
- Raiva da doença ou do próprio processo de envelhecimento
- Raiva pela responsabilidade imposta
- Culpa por pensamentos e sentimentos, como desejar que o idoso morra mais cedo para evitar mais sofrimento, sentir-se zangado, querer desistir ou outros
- Ansiedade por não saber o que vai acontecer a seguir
- Frustração por não conseguir parar o que está a acontecer
- Desespero por não existirem tratamentos que permitam reverter a situação
- Tristeza por tudo o que o idoso já perdeu
- Lidar com a perda do idoso antes de ele falecer realmente
Como identificar as emoções?
Identificar e reconhecer as emoções é o primeiro passo para lidar com elas e fazer a sua gestão.
Estes são alguns exemplos de emoções mais comuns que os cuidadores podem sentir:
Culpa
A culpa implica ter pensamentos ou sentimentos como não estar a fazer o suficiente, promessas não cumpridas, sensação de que poderia fazer-se melhor do que o que se faz, e que não se deveria sentir raiva ou ressentimento.
Tristeza e depressão
A tristeza e a depressão podem surgir por diversas razões, entre elas podem estar, o volume de trabalho, a sensação de perda, a sensação de que é tudo de mais e não dá para aguentar, não aceitar que as coisas são como são e a falta de esperança de que não há nada a fazer ou não se pode mudar nada.
Solidão
A solidão pode ser muito debilitante para a saúde física. A sua manifestação pode incluir a sensação de abandono e de que se está sozinho a fazer tudo sem apoio de ninguém, sentir que não há ninguém com quem falar e a vida social é inexistente.
Os cuidadores informais podem ainda sentir que foram abandonados pelos amigos e restante família e que estão presos a uma situação de cuidar de um idoso e não podem ter vida social ou relacionamentos.
Estratégias para gerir as emoções dos prestadores de cuidados
Não há como dourar a pílula, cuidar de alguém é de facto, uma tarefa difícil e, por vezes, ingrata, que pode desencadear muitas emoções fortes.
Estas são algumas estratégias que podem ajudar a lidar melhor com as emoções:
Aceitar as emoções
É importante não ignorar os seus sentimentos. Ignorar a raiva, a tristeza e outras emoções só vai piorar as coisas.
Forçar os sentimentos a desaparecer pode causar muito stress, explosões súbitas de raiva, seguidas de sentimentos de culpa, falta de esperança, escolhas de vida pouco saudáveis, problemas de sono ou depressão.
Reconhecer e identificar os sentimentos pode ser desconfortável no início. Mas quanto mais se aceitar o que se está a sentir, menor será a probabilidade de se ser atormentado por os efeitos negativos para a saúde.
Tentar lutar contra os sentimentos pode levar à frustração. É comum um cuidador sentir-se feliz por ser um prestador de cuidados num momento e questionar a decisão de o ser no momento seguinte.
Não se se forçar a sentir-se de uma forma ou de outra. O mais importante é perceber que estas emoções são passageiras e que a boa disposição voltará a acontecer.
Dar prioridade ao descanso
Os prestadores de cuidados ficam por vezes surpreendidos com a exaustão que sentem ao fim do dia. Também podem dar-se conta de que nem sequer têm tempo para sentir nada.
Mas quando o cuidador começa a sentir-se exausto, é altura de agir. Garantir que está a dormir o suficiente e delegar certas tarefas a outros membros da família ou a um prestador de cuidados profissional, no caso dos cuidadores informais. Ou, respeitar as pausas e os tempos de trabalho, no caso dos cuidadores formais.
Deixar de lado o ressentimento
Pode haver alturas em que o cuidador sente que está a fazer todo o trabalho, ou que o trabalho é demais, o que pode gerar ressentimento. No entanto, o ressentimento pode trazer infelicidade.
Se a sua família e amigos não puderem ou não quiserem ajudar, os cuidadores informais, podem tentar encontrar uma rede de apoio mais alargada, ou contratar um prestador de cuidados profissional para ajudar nas tarefas consideradas mais difíceis, como dar banho ao idoso.
O cuidador formal também pode sentir ressentimento, neste caso poderá falar com um colega, ou membros da equipa sobre o que sente, ou alterar o ritmo de trabalho.
Aprender a gerir a perda
Se o cuidador se sentir triste, é importante tentar identificar a origem da perda para a poder ultrapassar. Se possível e necessário, considerar a possibilidade de frequentar sessões de aconselhamento para aprender a gerir a perda.
Planear atividades sociais
Quando a única pessoa com quem se fala durante todo o dia é um idoso, é normal sentir alguma sensação de que se está sozinho.
No caso dos cuidadores informais, os seus amigos também podem ter deixado de convidar para fazer coisas porque sabem que o cuidador está sempre ocupado.
Pode-se combater a solidão fazendo planos para socializar pelo menos uma vez por semana.
Dar valor a si próprio
A sensação de que se é desvalorizado pode ser muito perturbadora. Para lidar com esta sensação, poderá utilizar-se um diário de apreciação no qual se enumera os feitos e as coisas que foram concretizadas e conseguidas.
Embora esta atividade possa parecer disparatada, pode mostrar também como tudo o que se faz é importante.
Evitar a impaciência
Pode ser fácil perder a paciência quando o idoso demora muito tempo a realizar uma tarefa simples. Tentar deixar tempo extra no dia para compensar qualquer coisa que demore mais do que o esperado.
Criar tempo extra na agenda diária é especialmente eficaz para aliviar a frustração durante os longos períodos de espera por uma situação.
Não meter as coisas para dentro
Não é preciso fingir que está tudo bem. A situação de cuidar de alguém é séria, por vezes assustadora e literalmente pode mudar a vida de um cuidador, quer seja informal ou formal.
Não se permitir chorar, mostrar raiva ou dizer que está frustrado e que precisa de ajuda tende a aumentar uma grande quantidade de stress a uma situação já de si stressante.
É mais produtivo, permitir a partilha com familiares e amigos que podem dar apoio. Falar sobre o que está realmente a acontecer, como o cuidador se sente em relação a isso e de que tipo de ajuda precisa.
Desta forma alivia-se o stress extra de fingir, e pode obter-se mais compreensão dos outros e mais abertura ao apoio.
Evitar sentir culpa pelo que se sente
O que quer que um cuidador esteja a sentir está a ser sentido por prestadores de cuidados em todo o mundo.
O cuidador não se deve prender a expectativas irrealistas, como encontrar alegria em todas as partes da prestação de cuidados, nem se martirizar por causa de sentimentos negativos. Isso só aumenta o stress e a negatividade.
Por exemplo, o cuidador pode ficar muito zangado porque o idoso fez uma grande confusão no final de um dia difícil, o que significa mais horas de limpeza exaustiva. Sentir-se zangado é uma reação normal a esta situação e não significa que o cuidador seja um monstro sem coração.
Encontrar um escape para os sentimentos mais intensos
Não se deve guardar sentimentos fortes ou negativos, mas também não se deve descarregar no idoso, o que não vai melhorar a situação. Em momentos de stress ou frustração, o cuidador deve tentar ser o mais calmo e gentil possível, mesmo que isso signifique ficar calado perante o idoso.
Assim que for possível afastar, usar um escape seguro para a raiva, frustração, tristeza ou outras emoções. Dar-se a si próprio um escape ajuda a reduzir o stress e a diminuir a intensidade dos sentimentos.
Estas são algumas sugestões para encontrar um escape:
- Esmurrar, pontapear, atirar ou gritar para uma almofada
- Telefonar ou enviar mensagens de texto a familiares, amigos ou colegas prestadores de cuidados que podem apoiar
- Participar numa reunião de um grupo de apoio a prestadores de cuidados
- Enviar mensagens a outros prestadores de cuidados num grupo de apoio a prestadores de cuidados online
- Permitir-se chorar
- Exprimir os pensamentos num diário (journaling)
- Falar com um conselheiro ou terapeuta
- Concentrar-se em algo que exija muito esforço físico e concentração, como limpar a banheira
- Encontrar apoio de pessoas que compreendem
Exprimir a raiva e frustração e partilhar as experiências poderá ajudar o cuidador a sentir-se melhor e tirar um peso dos seus ombros. Falar com outras pessoas é também uma oportunidade para dar e receber dicas para resolver os problemas mais preocupantes.
Por vezes, falar sobre um problema pode levar a uma solução brilhante ou ajudar a aceitar uma decisão difícil.
Encontrar o humor nas situações sempre que possível
Encontrar o humor onde quer que seja, mesmo em tempos sombrios, é uma técnica de sobrevivência e de coping, ou seja, pode ajudar a lidar com a situações difíceis.
O cuidador não se deve sentir culpado por procurar momentos de humor, não se está a rir do idoso, mas sim a rir-se de uma situação ridícula. Muitas vezes, o riso pode inspirar o idoso a rir também. Isso alivia a tensão e alivia o ambiente.
Outra razão para falar com outras pessoas que também cuidam de idosos é para poderem rir juntos de coisas que só os prestadores de cuidados entenderiam.
Escrever num diário ou journaling
Uma técnica eficaz de redução do stress que pode ser útil para os prestadores de cuidados é escrever um diário. Escrever num diário é gratuito, pode ajustar-se ao tempo que o cuidador tem disponível, e pode ser feito em qualquer lugar.
Para começar a escrever um diário, tudo o que é preciso é um caderno de papel ou um ficheiro de notas no computador ou dispositivo móvel. Deve manter-se privado para não haver a preocupação da possibilidade de alguém ler o que se escreveu.
Pode ser até um ritual relaxante conseguir escrever num diário durante um determinado período de tempo todos os dias, mas não tem de se seguir quaisquer regras para obter todos os benefícios do diário. Pode-se escrever durante o tempo que se quiser e com a frequência que se deseja.
Alguns especialistas recomendam escrever continuamente e utilizar uma abordagem de fluxo de consciência, ou seja, escrever todos os pensamentos que vierem à cabeça.
É importante deixar fluir e não editar os pensamentos ou preocupar com a gramática ou a ortografia. Nem sequer é preciso de usar frases completas, pode ser tudo deixado ao estilo e disposição pessoal.
O registo em diário facilita a prestação de cuidados porque escrever ajuda a ver padrões de comportamento. Isso permite detetar coisas que podem ser melhoradas, simplificadas ou eliminadas para que a vida corra melhor.
Pode permitir perceber como as coisas funcionam melhor e de que forma, como por exemplo, que o idoso está muito mais disposto a tomar banho ao início da tarde do que à noite.
Conclusão
O dia a dia de um prestador de cuidados está muitas vezes cheia de desafios que podem criar emoções variadas. Embora, por vezes, o cuidador possa sentir-se como se estivesse a viver numa montanha-russa de emoções, ajuda saber que tudo isto é muito normal.
Pode ser difícil ver o idoso a envelhecer e a perder capacidades, por isso é importante aprender a gerir o lado emocional da prestação de cuidados. Cuidar de um idoso é um desafio stressante que muitas vezes pode afetar a saúde dos cuidadores.
Mas apenas uma parte do stress dos cuidadores resulta das tarefas do dia a dia. Uma grande parte do stress resulta das fortes emoções que surgem naturalmente durante a prestação de cuidados.
Os prestadores de cuidados, formais ou informais, podem enfrentar problemas verdadeiramente difíceis, por isso, saber identificar as emoções mais comuns e como as gerir ajuda a ter uma maior satisfação no trabalho de cuidador e a proporcionar também uma maior qualidade de vida ao idoso.
Juntos Cuidamos Melhor!
Referências:
DailyCaring