Depressão nos idosos: quais os sinais de alerta?

Depressão nos idosos: quais os sinais de alerta?

A depressão é uma grave perturbação do humor. Pode afetar a forma como uma pessoa se sente, age e pensa.

Embora a depressão seja um problema comum entre os idosos, não é uma parte normal do envelhecimento.

No geral, a maioria dos adultos mais velhos sentem-se satisfeitos com as suas vidas, apesar de terem mais doenças ou problemas físicos do que as pessoas mais jovens. 

No entanto, a probabilidade de ter depressão na velhice aumenta quando existiram episódios depressivos na juventude.

A depressão pode ser uma doença grave, mas existem variados tratamentos que podem ajudar.

Para a maioria das pessoas, a depressão melhora com o tratamento. Aconselhamento, medicamentos, ou outras formas de tratamento associadas podem ajudar consideravelmente o idoso.

É comum pensar-se que é fácil detetar a existência de depressão num idoso porque pode apresentar sinais visíveis como tristeza, lágrimas e letargia.

Mas a depressão, como muitas outras doenças, manifesta-se muitas vezes de forma diferente nos idosos em comparação com os mais jovens.

Por exemplo, uma pessoa idosa deprimida não se sente necessariamente triste, mas pode queixar-se de falta de energia e atribuir os sintomas à idade.

Esta caraterística da doença pode tornar mais complicado o diagnóstico quer para os médicos, quer para os familiares e até para os próprios. 

Como certos medicamentos e doenças podem também provocar depressão ou imitar os sintomas, nem sempre é fácil ou evidente uma situação de depressão, o que pode implicar uma deteção da doença muito tardiamente.

Quando uma pessoa idosa tem depressão e esta não é tratada, o idoso pode perder o interesse em atividades que anteriormente tinham o seu interesse, acaba por se retirar da interação social e das atividades físicas, o que pode eventualmente levar à perda de funções cognitivas ou mesmo físicas.

Por esta razão é muito importante não escamotear quaisquer mudanças de comportamento e classificar como simplesmente parte da velhice.

Embora a depressão em idosos seja menos comum do que em adultos mais jovens, muitas vezes até os médicos são suscetíveis de negligenciar os sintomas e não identificar a doença.

Por vezes, os médicos de cuidados primários passam muito pouco tempo a discutir a saúde mental com os seus pacientes mais velhos, e a probabilidade de os encaminhem para um especialista em saúde mental é baixa, mesmo quando mostram sinais clássicos de depressão.

Por tudo isto é muito importante saber reconhecer os sinais de alerta da depressão nos idosos.

Quais os tipos de depressão que podem afetar os idosos?

A depressão manifesta-se de diferentes formas em diferentes pessoas. No caso dos idosos existem alguns tipos de depressão que são mais frequentemente relacionados com a idade avançada.

Grande Desordem Depressiva

Inclui sintomas que duram pelo menos duas semanas e que interferem com a capacidade de uma pessoa para executar tarefas diárias.

Distúrbio Depressivo Persistente

Manifesta-se como um humor depressivo que dura mais de dois anos, mas a pessoa pode ainda ser capaz de executar tarefas diárias, ao contrário de alguém com um distúrbio depressivo maior.

Transtorno depressivo

Um tipo de depressão relacionada com o uso de substâncias, como álcool ou medicação para a dor.

Transtorno depressivo relacionado com uma doença

Uma depressão relacionada com uma outra doença como a doença cardíaca ou esclerose múltipla.

Outras formas de depressão incluem depressão psicótica, depressão pós-menopausa, e desordem afetiva sazonal.

Quais são as causas para a depressão nos idosos?

Não há uma causa única de depressão em qualquer grupo etário. Alguns estudos indicam que poderia haver uma ligação genética ao desenvolvimento da doença.

No entanto, todos os fatores biológicos, sociais e psicológicos desempenham um papel na depressão nos idosos.

Existem vários fatores que têm sido associados à depressão nos idosos:

  • Baixos níveis de químicos neurotransmissores no cérebro como a serotonina e a norepinefrina
  • História familiar de depressão
  • Eventos traumáticos na vida, como o abuso ou a morte de um ente querido

Outras complicações associadas ao envelhecimento podem contribuir para a depressão em idosos:

  • Mobilidade limitada
  • Isolamento
  • Sentimento de mortalidade
  • Transição do trabalho para a reforma
  • Dificuldades financeiras
  • Abuso prolongado de substâncias
  • Morte de amigos e entes queridos
  • Viuvez ou divórcio
  • Condições médicas crónicas

Há muitas coisas que podem ser fatores de risco de depressão.

Para algumas pessoas, alterações no cérebro podem afetar o humor e resultar em depressão. Outras podem experimentar depressão após um acontecimento importante da vida, como um diagnóstico médico ou a morte de um ente querido.

Por vezes, as pessoas que estão sob muito stress, especialmente as pessoas que cuidam de familiares com uma doença grave ou com incapacidade, podem sentir-se deprimidas. Outras podem ficar deprimidas sem uma razão aparente.

Foram encontrados alguns fatores que estão relacionados com o risco de depressão, mas não causam necessariamente depressão:

  • Condições médicas como AVC ou cancro
  • Genética
  • Stress
  • Problemas de sono
  • Isolamento social e solidão
  • Falta de exercício ou de atividade física
  • Limitações funcionais que dificultam o envolvimento em atividades da vida diária
  • Toxicodependência e alcoolismo

O que são sinais e sintomas de depressão nos idosos?

Com uma depressão que não foi tratada, os idosos podem mostrar uma perda de concentração e outras alterações cognitivas, sintomas que podem ser erroneamente atribuídos à demência.

Além disso, os idosos estão aptos a sofrer de uma ou mais doenças crónicas, algumas das quais podem causar depressão. Por exemplo, muitas pessoas com a doença de Parkinson desenvolvem depressão.

Juntamente com os sintomas cognitivos, a sensação de humor depressivo, perda de prazer nas atividades, perda ou ganho de peso significativo, diminuição ou aumento do apetite, dormir muito ou pouco, fadiga, sentimentos de inutilidade, ou culpa excessiva ou inapropriada, são sinais importantes que exigem uma visita ao médico.

Quando existem pensamentos recorrentes de morte ou suicídio ou tentativas de suicídio, é necessário que haja uma avaliação psiquiátrica de emergência.

A depressão em idosos pode ser difícil de reconhecer porque as pessoas mais velhas podem ter sintomas diferentes dos das pessoas mais novas. Para alguns adultos mais velhos com depressão, a tristeza não é o seu principal sintoma.

Em vez disso, podem estar a sentir mais entorpecimento, letargia ou falta de interesse pelas atividades e podem não estar tão dispostos a falar sobre os seus sentimentos.

Existem alguns sinais de alerta que se podem detetar, no entanto, porque as pessoas experimentam a depressão de forma diferente, pode haver outro tipo de sintomas que não estão aqui referenciados:

  • Estado de humor triste, ansioso ou vazio de forma persistente
  • Sentimentos de desespero, culpa, inutilidade ou impotência
  • Irritabilidade, agitação, ou dificuldades em ficar quieto
  • Perda de interesse em atividades que antes eram agradáveis
  • Diminuição da energia ou fadiga
  • Movimentos ou fala vagarosos
  • Dificuldade em concentração, memória ou na tomada de decisões
  • Dificuldade em dormir, acordar cedo demais de manhã ou ter excesso de sono
  • Comer mais ou menos do que o habitual
  • Ganho ou perda de peso não planeado
  • Pensamentos de morte ou suicídio, ou tentativas de suicídio

Se estes sintomas existirem e perdurarem por mais de duas semanas é importante procurar ajuda médica, porque podem ser sinais de depressão ou mesmo de outros problemas de saúde.

A depressão grave não tratada pode levar à morte.

Também é importante que os familiares, cuidadores e equipas médicas estejam atentos a estes sinais. A intervenção durante as prestações de cuidados primários é altamente eficaz para reduzir o suicídio mais tarde na vida.

Como é tratada a depressão?

A depressão, mesmo na sua forma mais grave, pode ser tratada. É importante procurar tratamento assim que se começam a notar os primeiros sinais da doença.

Certos medicamentos ou condições médicas podem por vezes causar os mesmos sintomas que a depressão.

O médico pode descartar estas possibilidades através de um exame físico, estado de saúde, história pessoal e através de testes laboratoriais.

Se o médico concluir que não há nenhuma condição médica que esteja a causar a depressão, pode sugerir uma avaliação psicológica e encaminhar para um profissional de saúde mental, como um psicólogo, por exemplo, para realizar testes.

Esta avaliação irá ajudar a determinar um diagnóstico e um plano de tratamento.

O tratamento vai sempre depender de a pessoa ter uma avaliação abrangente e as intervenções vão depender se os sinais ou sintomas são uma depressão, do tipo de depressão que existe, ou se há depressão misturada com outros distúrbios de saúde.

As intervenções podem incluir medicamentos, terapia de conversa, socialização ou mudança no ambiente social, otimização do cuidado de outros distúrbios físicos, ou mudança de medicamentos que estejam a ser tomados para outras doenças.

As formas comuns de tratamento da depressão incluem:

Psicoterapia, aconselhamento, ou terapia conversacional

Este tipo de tratamento pode ajudar uma pessoa a identificar e mudar emoções, pensamentos, e comportamentos perturbadores.

Pode ser feito com um psicólogo, assistente social, psiquiatra, ou outro profissional de saúde mental habilitado para o fazer. Exemplos de abordagens específicas ao tratamento da depressão incluem a terapia cognitivo-comportamental e a terapia interpessoal.

Medicamentos para a depressão

Estes medicamentos podem equilibrar hormonas que afetam o humor, tais como a serotonina. Existem muitos tipos diferentes de medicamentos antidepressivos que são geralmente utilizados.

Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina são antidepressivos frequentemente prescritos a idosos. Um psiquiatra, enfermeiro de saúde mental, ou médico de cuidados primários pode prescrever e ajudar a monitorizar os medicamentos e os seus potenciais efeitos secundários.

Terapia Electroconvulsiva (TEC)

Durante este tratamento elétrodos são colocados na cabeça de uma pessoa para permitir a passagem de uma corrente elétrica segura e suave através do cérebro. Este tipo de terapia é geralmente considerado apenas se a depressão da pessoa não tiver melhorado com outros tratamentos.

Combinação de tratamentos

Uma combinação de psicoterapia e medicamentos, demonstrou ser eficaz para idosos. No entanto, nem todos os medicamentos ou terapias serão adequados para todos.

As escolhas de tratamento diferem para cada pessoa, e por vezes é necessário experimentar vários tratamentos para encontrar um que funcione.

É importante informar o médico se o plano de tratamento não está a resultar e continuar a tentar encontrar algo que funcione.

Além do tratamento médico existem algumas mudanças de estilo de vida que podem ajudar também a tratar a depressão.

As mudanças de estilo de vida usadas para tratar a depressão incluem:

  • Aumento da atividade física
  • Encontrar novos passatempos ou interesses
  • Ter visitas regulares da família e amigos
  • Dormir o suficiente diariamente
  • Ter uma dieta equilibrada

Outras terapias podem também ajudar uma pessoa idosa com depressão. A estimulação cognitiva ou a terapia artística, por exemplo, é um processo em que se expressam os sentimentos de forma criativa.

Algumas pessoas podem tentar outras abordagens complementares de saúde, como o yoga, para melhorar o bem-estar e lidar com o stress, que podem ser utilizadas em combinação com outros tratamentos prescritos pelo médico.

Não se deve evitar obter ajuda por causa dos custos do tratamento. O tratamento para a depressão pode ser coberto por um seguro de saúde ou através do Sistema Nacional de Saúde, nos serviços de apoio a idosos, ou mesmo em serviços prestados a nível local.

A depressão pode ser evitada?

Embora muitas pessoas se questionem se a depressão pode ser mesmo prevenida ou se pode ser possível reduzir o risco de depressão, é possível, de facto, minimizar o risco fazendo alterações ao estilo de vida.

Apesar de a maioria dos casos de depressão não poder ser prevenida, as mudanças de estilo de vida saudável podem ter benefícios a longo prazo para a saúde mental e até física.

Eis algumas alterações que podem ajudar:

Ser fisicamente ativo e comer uma dieta saudável e equilibrada, é fundamental para ajudar a evitar doenças que podem provocar incapacidade ou depressão. Algumas dietas, incluindo a dieta de baixo teor de sódio parecem reduzir o risco de depressão.

Dormir 7 a 9 horas por noite, para descansar a mente e o corpo de forma adequada.

Manter o contacto com amigos e familiares e participar em atividades agradáveis e divertidas, são outras estratégias importantes.

Mas, a coisa mais importante é que o idoso seja capaz de informar os amigos, a família e o seu médico quando está a sentir sintomas de depressão para que possa ser ajudado o mais cedo possível.

Conclusão

A depressão é uma perturbação mental e emocional que afeta os idosos de forma diferente.

Sentimentos de tristeza e ocasionais alterações de humor são normais. No entanto, a depressão duradoura não é uma fase típica do envelhecimento.

Os idosos são mais propensos a sofrer de uma forma de depressão mais subtil. Este tipo de depressão nem sempre preenche todos os critérios para uma depressão grave. No entanto, pode levar a uma depressão grave se não for tratada.

A depressão nos idosos pode reduzir a qualidade de vida, e aumenta o risco de suicídio. É importante perceber os sinais de alerta para que o tratamento comece o mais cedo possível.

Sentir-se em baixo de vez em quando é uma parte normal da vida, mas se estes sentimentos durarem algumas semanas ou meses, pode ser um sinal de depressão.

Outro fator importante para compreender o quadro de depressão nos idosos é a questão do estigma. A depressão é uma doença que acarreta muitos preconceitos o que pode prejudicar o acesso a um tratamento em tempo útil.

Um aspeto que pode tornar os idosos relutantes em obter tratamento para a depressão, ou dificultar a ida ao médico, é a crença de que obter tratamento para a depressão é um sinal de fraqueza ou de falta de fibra moral.

Para muitos idosos com mais de 85 anos, em particular, ter depressão é um sinal de grande fraqueza e de perda de faculdades que antes tinham.

Mas a depressão é uma doença como outras e não é algo pelo qual a pessoa seja responsável, exigindo um tratamento agressivo, porque se não for tratada, pode causar sofrimento prolongado e perda significativa das funções habituais.

O lado positivo é que o tratamento da depressão, quer seja através de medicação, terapia, ou uma combinação de ambas, pode ser tão eficaz em pessoas mais velhas como em pessoas mais jovens.

Uma vez tratada a depressão, as capacidades cognitivas podem voltar, bem como a qualidade de vida. Por outro lado, a depressão nos idosos pode agravar os problemas associados ao envelhecimento.

Nem sempre é fácil de diagnosticar, mas um tratamento adequado pode aumentar substancialmente a qualidade de vida e devolver alguma alegria de viver aos idosos.

Neste sentido, também a família e os entes queridos podem ter um efeito profundo nos cuidados dos mais velhos. Encorajar o tratamento e oferecer apoio para ajudar o idoso a viver uma vida plena e feliz é essencial para o bem-estar de todos.

Na Novo Cuidar a prioridade é a sua saúde e o seu bem-estar. Aqui encontra uma equipa de cuidadores coordenada por profissionais de saúde qualificados e com vasta experiência.

Além disso, tem ainda ao seu dispor o serviço de cuidados de saúde ao domicílio mais completo e mais qualificado para o ajudar e apoiar sempre que precisar, com um plano de cuidados à sua medida a preço competitivo.

Referências:

  • National Institute on Aging
  • Healthline