A dinâmica entre idosos e prestadores de cuidados pode apresentar desafios, tais como diferenças de personalidades, expectativas e estilos de comunicação.
Estas dificuldades podem prejudicar a relação, pelo que é essencial perceber como melhorar ou manter a relação de forma harmoniosa.
Demonstrar compaixão, respeito e manter uma comunicação aberta e honesta são formas eficazes de construir uma relação. Uma das melhores formas de mostrar a uma pessoa preocupação por ela enquanto pessoa é ser paciente e sensível às suas necessidades.
Criar e estabelecer uma relação de confiança exige uma postura aberta e disponibilidade para o outro, o que é essencial para criar uma relação estável e segura na prestação de cuidados a idosos.
Para o prestador de cuidados, pode ser difícil criar e manter uma relação positiva com um idoso, devido aos desafios complexos que a prestação de cuidados implica.
Mas, existem inúmeros aspetos desta relação única que devem ser tidos em conta e estratégias que se podem utilizar para garantir uma relação entre cuidadores e idosos, saudável e produtiva.
Comportamentos que podem prejudicar a relação entre cuidador e idoso
Muitas vezes podemos não ter consciência das mensagens negativas que transmitimos através das nossas ações e comportamentos.
Na relação entre cuidadores e idosos é importante ter cuidado para não executar comportamentos ofensivos que possam prejudicar a relação entre ambos.
Estes são alguns exemplos de comportamentos a evitar:
Linguagem corporal
A linguagem corporal negativa, como revirar os olhos ou suspirar, pode transmitir desrespeito e frustração.
Tom de voz condescendente
Evitar usar um tom que menospreze ou subestime as capacidades ou sentimentos da outra pessoa.
Não responder
O facto de não reconhecer ou não responder às preocupações do idoso pode prejudicar a confiança e dificultar a comunicação. Pode fazer com que a outra pessoa se sinta desconfortável ou inferior.
Estratégias para estabelecer relação de confiança entre cuidador e idoso
O cuidador é responsável por cuidar de tudo o que um idoso precisa. Isto pode incluir cuidados pessoais, como tomar banho, comer ou tarefas quotidianas.
Uma vez que desempenha um papel importante em algumas das circunstâncias mais íntimas do dia do idoso, deve estabelecer uma relação honesta, aberta e de confiança.
Ao fazê-lo, os idosos podem sentir-se confiantes para dizerem o que sentem ou o que pensam, o que significa também que se podem adaptar melhor os cuidados às necessidades deles.
A confiança é a base de qualquer relação bem-sucedida entre um prestador de cuidados e um idoso.
Quando a confiança é estabelecida, a comunicação é facilitada e a experiência de prestação de cuidados é mais tranquila.
A confiança permite que os idosos se sintam seguros e apoiados, e permite que os prestadores de cuidados desempenhem as suas funções de forma mais eficaz e positiva.
Estas são algumas estratégias que se podem aplicar para desenvolver uma melhor relação:
Fazer um esforço para conhecer melhor o idoso
No início, pode haver alguma tendência a manter as conversas estritamente relacionadas com o aspeto prático da própria prestação de cuidados. No entanto, dedicar algum tempo a conhecer o idoso é crucial para estabelecer confiança e criar uma ligação forte.
Podem-se fazer perguntas sobre a família, os interesses e as experiências de vida no passado. Não se vai ficar a saber toda a informação de uma só vez, mas fazer perguntas abertas é uma ótima forma de iniciar conversas significativas.
Poderão descobrir-se interesses partilhados que permitam criar laços entre ambos. Dedicar algum tempo a conhecer o passado, os interesses e as preferências de cada um para criar uma ligação mais pessoal e fazer perguntas que incentivam a partilha, são tudo opções que podem ser utilizadas.
A partilha de histórias pessoais pode criar empatia e reforçar a ligação entre o idoso e o prestador de cuidados.
Mostrar empatia e compaixão
Ser um bom prestador de cuidados exige que o cuidador seja aberto e verdadeiro com o idoso. É também crucial respeitar e simpatizar com os idosos.
Os idosos estarão mais inclinados a respeitar o cuidador se este lhes mostrar que os aprecia. Além disso, se mostrar que se preocupa com a sua vida e que tem empatia por eles, eles estarão mais recetivos ao que tem para oferecer.
Mostrar empatia e compaixão em todas as interações, reconhecendo os desafios enfrentados por cada uma das partes, é uma ótima forma de criar uma relação mais estreita.
Por vezes, as necessidades físicas e emocionais do outro serão óbvias, enquanto outras vezes será necessário demonstrar compaixão para perceber o que precisa a um nível mais profundo.
Mostrar respeito
Tratar alguém com respeito vai para além de usar “por favor” e “obrigado” nas conversações. Tratar com respeito também envolve ser paciente, falar com tato e ouvir ativamente as preocupações do outro.
Também se deve ter em consideração as suas preferências pessoais, como por exemplo, se o idoso preferir ser tratado por “senhor” ou “senhora”, deve-se cumprir. Em alternativa, se preferir ser tratado pelo primeiro nome, deve-se respeitar essa vontade.
É também essencial tratar o idoso como um adulto. Apesar de poder precisar de ajuda, é um adulto que poderá ter sido mais independente no passado, que teve uma carreira profissional e, potencialmente, criou uma família.
Não se deve infantilizar o idoso quando o cuidador estiver a atender às suas necessidades. Em vez disso, fazer um esforço para os considerar sempre iguais, quer seja a ajudar nas suas atividades da vida diária ou simplesmente a conversar.
Mostrar paciência
A paciência é fundamental para navegar nas complexidades da relação entre cuidador e idoso.
Compreender a posição do idoso em que já foi um indivíduo autossuficiente e aceitar a sua necessidade de ajuda deve ser um desafio difícil. Usar paciência e prestar atenção às necessidades do idoso é assim crucial.
Um elevado nível de paciência é uma das caraterísticas mais importantes que um cuidador pode ter. Se um prestador de cuidados não tiver paciência, terá dificuldade em estabelecer uma ligação com qualquer idoso.
Ser um bom prestador de cuidados também requer prestar muita atenção ao idoso e ter a capacidade de antecipar as suas necessidades.
Estabelecer a confiança
A confiança é a base de qualquer relação sólida. Ao serem fiáveis, consistentes e respeitadores dos limites um do outro, tanto o idoso como o prestador de cuidados aprenderão a confiar um no outro.
Desenvolver a confiança entre o idoso e o prestador de cuidados é um passo essencial no processo de estabelecer a ligação que o cuidador tem com o idoso. Não sem antes se ter debruçado sobre a importância dos comportamentos de honestidade e paciência.
Uma das melhores formas de estabelecer a confiança é cumprir as promessas. Se o cuidador prometer a um idoso que o verá em casa às 8:00 todas as manhãs e, em vez disso, aparecer às 8:05, estará a trair a sua confiança ao quebrar a sua palavra.
Este incidente aparentemente trivial pode fazer toda a diferença quando se trata de construir uma relação de confiança.
Fazer uma escuta ativa
Garantir que os idosos se sentem ouvidos. Todas as pessoas têm um estilo de comunicação diferente e, à medida que envelhecemos, é especialmente importante sermos ouvidos.
No entanto, as condições físicas ou cognitivas podem levar a algumas barreiras de comunicação entre os idosos e os outros.
Enquanto prestador de cuidados, é importante reconhecer os sinais verbais e não verbais do idoso para saber exatamente o que ele precisa.
A prática da escuta ativa garante que o idoso se sinta valorizado e compreendido. Esta abordagem ajuda a que se sinta confortável e promove uma comunicação aberta entre cuidador e idoso.
Prestar toda a atenção ao idoso e responder atentamente às suas preocupações e perguntas. Não olhar à volta da sala nem consultar o telemóvel quando o idoso estiver a falar.
Nalguns casos, pode ser difícil conversar com idosos que sofrem de declínio cognitivo. Mas. Não esquecer que também é frustrante para o idoso, e abordar pacientemente as suas frustrações e preocupações pode ajudar a construir uma relação mais forte.
A relação que se estabelece entre um prestador de cuidados e um idoso é muito pessoal.
Ao comunicar mais e ao certificar-se de que ambos se sentem à vontade para falar abertamente um com o outro, pode reforçar a relação entre ambos.
Para que o cuidador do idoso preste cuidados de excelência, o idoso deve sentir-se à vontade para o contactar para obter ajuda. Da mesma forma, o idoso deve ser capaz de responder a quaisquer perguntas ou abordar quaisquer preocupações que o prestador de cuidados possa ter relativamente ao estado do idoso.
Ouvir sempre o idoso, mesmo que ele não peça ajuda. Esta é uma parte fundamental da aprendizagem de como motivar outras pessoas. O idoso sentir-se-á mais à vontade para dizer o que precisa se souber que o cuidador está a ouvir o que ele tem para dizer.
A concretização de objetivos também pode ser muito ajudada por palavras de encorajamento. Se o idoso está a utilizar uma cadeira de rodas enquanto recupera da lesão, durante este período difícil, dizer palavras de encorajamento pode ajudar à recuperação mais rapidamente.
Mostrar interesse
Mostrar entusiasmo pelas atividades que o seu idoso gosta. Independentemente do que o idoso goste de fazer nos seus tempos livres, seja tricotar, cozinhar, ler ou qualquer outra atividade, mostrar interesse por isso e envolver-se ativamente irá provavelmente deixar o idoso feliz.
Um passatempo ou atividade feita em conjunto é uma boa forma de motivar o idoso e criar mais aproximação.
Comunicar de forma aberta e honesta
A comunicação honesta é fundamental para compreender as necessidades e resolver os problemas rapidamente.
Por vezes, pode ser difícil para uma pessoa expressar as suas necessidades ou expectativas, procurar formas de compreender melhor o que a outra pessoa precisa e verificar frequentemente se está feliz e confortável, são formas de estimular uma comunicação mais eficaz.
Estabelecer limites
Estabelecer limites pessoais e profissionais claros na prestação de cuidados também é importante, porque ajuda a garantir que todos se sintam respeitados e seguros.
Estabelecer e respeitar expetativas
Discutir e chegar a acordo sobre as expectativas relativas aos cuidados, responsabilidades e rotinas antes do início do processo de prestação de cuidados, é crucial.
Mesmo depois de os serviços de prestação de cuidados estarem implementados, garantir que se mantém uma comunicação aberta e transparente e fazer ajustes sempre que necessário.
Respeitar a privacidade
Respeitar a privacidade e a dignidade do idoso, garantindo a confidencialidade e a discrição. Ter em consideração os pedidos do idoso, mesmo que não pareçam importantes na perspetiva do cuidador.
Cumprir as promessas
Como dissemos atrás, as promessas são simultaneamente responsáveis pela construção e pela quebra da confiança.
Quando se faz uma promessa ao idoso, deve-se fazer todos os esforços para a cumprir. Se o cuidador disser que vai estar em casa num determinado dia ou que vai terminar uma tarefa a uma determinada hora, deve esforçar-se ao máximo para cumprir dentro desse prazo.
Isto não só mostrará ao idoso que o cuidador é de confiança, mas também que o respeita, reforçando a ligação.
Nunca fazer uma promessa que não se possa cumprir ou que não se possa garantir. Isto pode significar prometer a conclusão de um serviço que não se pode prestar, ou prometer que os familiares vão telefonar. Fazer promessas apenas para coisas que se podem controlar.
Melhorar a relação entre cuidador e familiares dos idosos
Além de promover uma relação saudável e de confiança com o idoso, é igualmente importante que o cuidador possa construir uma relação forte com a família do idoso.
Esta relação assegura a coesão dos cuidados e do apoio e contribui significativamente para a saúde emocional do idoso.
Exemplos de comportamentos que podem ajudar na relação com os familiares:
Respeitar o tempo de todas as partes
Reconhecer e valorizar os compromissos de tempo quer dos prestadores de cuidados quer dos membros da família promove o respeito mútuo. Ser pontual e flexível demonstra consideração pelos horários de cada uma das partes.
Partilhar informações
A partilha aberta de informações sobre o estado do idoso, as suas preferências e o plano de cuidados garante a continuidade e a qualidade dos cuidados. Uma comunicação transparente entre cuidador e familiares evita mal-entendidos e melhora a colaboração.
Praticar a empatia
Demonstrar empatia e sensibilidade às perspetivas e emoções dos membros da família, especialmente se o idoso só começou a demonstrar a necessidade de mais ajuda, algum tempo depois de os cuidados terem começado.
Este reconhecimento dos seus sentimentos e dos respetivos papéis no processo de prestação de cuidados promove um ambiente de apoio e respeito.
Aprendizagem mútua
Reservar algum tempo para conhecer a dinâmica e os valores da família aumenta a colaboração e a confiança. Ajuda cada parte a ver a outra num contexto mais amplo e promove o respeito e a apreciação mútuos.
Conclusão
Os prestadores de cuidados são responsáveis por algumas das partes mais essenciais do dia de um idoso. Sem uma relação forte entre cuidadores e idosos, cuidar dos idosos e realizar as tarefas diárias pode tornar-se mais difícil.
Pode ser difícil comunicar com os idosos quando ainda não foi construída uma base de confiança na relação com o cuidador. Os idosos são mais propensos a falar livremente sobre as suas preocupações quando sentem que podem confiar no seu prestador de cuidados.
A construção de uma relação positiva entre o idoso e o cuidador pode fazer toda a diferença nas experiências que ambos têm diariamente e na forma como se sentem.
Demonstrar empatia, respeitar o espaço e as particularidades do idoso, bem como cumprir sempre as promessas feitas, são alguns dos ingredientes essenciais para garantir uma relação bem-sucedida entre cuidador e idoso.
Criar honestidade e confiança na relação é também essencial para manter o conforto do idoso e pode levar a uma melhor qualidade de vida.
Além disso, pode também manter os idosos cognitivamente mais saudáveis, já que uma relação de confiança e bem-sucedida permite que se expressem com mais liberdade e confiança.
O papel do prestador de cuidados é assim determinante para estabelecer uma relação de confiança com o idoso, porque não só cuida, como também desafia e apoia os idosos nas suas atividades favoritas e ajuda-os a manterem o seu estilo de vida normal.
Juntos Cuidamos Melhor!
Referências:
- National Institutes of Health
- Considracare