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O que pode levar os cuidadores a terem sentimento de culpa?

O que pode levar os cuidadores a terem sentimento de culpa?

A prestação de cuidados é uma atividade multifacetada e complexa que tem tanto de gratificante como de desafiante e avassalador, especialmente se ocupar muito do tempo do cuidador e ser um entrave a outras atividades que poderia fazer com prazer.

Por tudo isto, muitos prestadores de cuidados sentem muitas vezes que são puxados em várias direções e podem sentir que não estão a fazer um bom trabalho, o que pode resultar em sentimentos de culpa.

A prestação de cuidados pode levar a que os cuidadores sintam algum grau de frustração, raiva e culpa. Todas estas reações emocionais são normais.

O cuidador, pode sentir-se frustrado e zangado com a sua vida caótica ou com a sua falta de controlo sobre a progressão da doença de quem cuida, sobretudo se for um familiar, e muitas vezes, a raiva transforma-se em culpa.

No entanto, os sentimentos não podem ser negados. O cuidador, pode, por outro lado sentir-se menos frustrado com o comportamento de quem cuida se encarar a situação como uma circunstância em que quem é cuidado não faz de propósito, a situação resulta de uma doença ou do processo natural de envelhecimento.

Os momentos de incerteza e de dúvida com os próprios sentimentos são normais. O importante é tentar identificar as limitações que não se conseguem ultrapassar, antes de sermos confrontados com elas.

O que desencadeia a culpa do prestador de cuidados

As expectativas impossíveis estão muitas vezes por trás dos sentimentos de culpa. O prestador de cuidados pode sentir que não fez o suficiente por quem cuida ou arrepender-se de ter sido impaciente.

Também pode haver culpa por o cuidador ter tirado tempo da prestação de cuidados para fazer algo por si próprio.

Um prestador de cuidados também pode sentir que, se a pessoa de quem cuida cai ou fica mais doente, a culpa é sua. Ou pode sentir que está a sacrificar a sua própria saúde ou a da sua família, porque passa muito tempo a cuidar de outra pessoa, ou familiar.

A mudança para um lar por parte do idoso também pode levar ao desenvolvimento de sentimentos de culpa no respetivo cuidador, seja informal ou formal.

Quem corre o maior risco de ter sentimentos de culpa na prestação de cuidados?

Quase todas as pessoas que prestam cuidados correm o risco de sentir culpa. Mas estes grupos podem estar em maior risco:

  • Prestadores de cuidados que desempenham essa função há vários anos
  • Cuidadores que tomam conta de alguém com grandes necessidades, como alguém com demência ou cancro

Quais são os sinais de culpa no prestador de cuidados?

Nem todos os prestadores de cuidados têm a mesma experiência, mas existem padrões de sentimentos comuns entre os prestadores de cuidados.

Os sinais podem incluir:

  • Ambivalência, raiva ou ressentimento em relação a quem se cuida ou a outros membros da família
  • Senti como se todo o peso da prestação de cuidados recaísse sobre si
  • Sentir-se pouco apreciado, especialmente pela pessoa de quem está a cuidar
  • Sentir-se como se a prestação de cuidados tivesse tomado conta da sua vida

O sentimento de raiva ou ressentimento para com a pessoa de quem se cuida, pode levar a sentimentos de culpa que, se não for tratada, pode levar ao esgotamento do prestador de cuidados.

Porque é que a culpa é má para a saúde do prestador de cuidados?

 As ideias sobre a forma como os prestadores de cuidados se devem sentir ou o que devem fazer podem exercer uma grande pressão sobre o cuidador, e a culpa surge do facto de não conseguirem corresponderem a esses padrões pouco razoáveis, o que pode ser prejudicial para a saúde.

Estas crenças podem levar o cuidador a assumir responsabilidades irrealistas, a evitar obter a ajuda de que necessita e merece e a ser demasiado duro consigo próprio.

Todos estes fatores aumentam o stress, pioram a saúde e podem levar a más escolhas de estilo de vida. Encontrar formas de lidar com a culpa de forma positiva ajuda a fazer escolhas que eventualmente melhoram a saúde em geral.

O que é que leva os prestadores de cuidados a sentirem-se culpados?

São muitas as razões por que um cuidador se pode sentir culpado. Nem todos os cuidadores sentem da mesma forma e por isso nem todas as razões são válidas para os cuidadores.

Muitos sentimentos negativos são causados por crenças erradas, mas comuns, que impomos a nós próprios e influenciam o pensamento, aumentando o stress, mas não são simplesmente verdadeiros.

Estas são algumas das razões que podem contribuir para um sentimento de culpa:

  • Sentir ressentimento, preso, sem amor ou outros pensamentos negativos
  • Sentir que não é um prestador de cuidados tão bom como deveria ser ou que os outros estão a fazer um trabalho melhor
  • Não visitar a pessoa de quem cuida as vezes suficientes
  • Desejar que tudo acabe
  • Querer ter tempo para si próprio
  • Não se sentir feliz
  • Aperceber-se de como tratou ou julgou alguém com demência antes de saber o que estava a causar o seu comportamento
  • Fazer coisas sem o idoso que costumavam apreciar juntos, no caso dos cuidadores informais.

Algumas das crenças comuns incluem:

O que faço ou o quanto me esforço, não é suficiente

Algumas crenças pessoais podem indicar que é preciso cuidar de uma pessoa idosa ou que necessita de cuidado durante todos os segundos em que não se está a fazer outra coisa obrigatória, como fazer tarefas essenciais, ir para o trabalho, cuidar dos filhos, ou outras.

O cuidador sente que tem sempre de fazer mais, trabalhar mais e passar mais tempo com a pessoa de quem cuida.

Os cuidados que se prestam são essenciais e são o melhor que se pode fazer. Ninguém se deve destruir para prestar um nível ideal de cuidados que, muito provavelmente, não é realista.

Para ser um ótimo prestador de cuidados e não sofrer consequências prejudiciais para a saúde, é importante equilibrar as próprias necessidades com as da pessoa de quem se cuida.

Se a pessoa precisar de mais cuidados do que aqueles que o cuidador sozinho pode prestar, o melhor é pedir ajuda a uma equipa de cuidadores, que pode incluir familiares, amigos ou outros cuidadores profissionais, e não sentir culpa por ter de tirar algum tempo para cuidar de si próprio.

Se o idoso continuar a piorar é porque não estou a fazer um bom trabalho

O cuidador pode ter a falsa crença e dizer a si próprio que se fosse realmente um bom prestador de cuidados e estivesse a dar o meu melhor, o doso iria melhorar, tanto física como mentalmente.

Sim, há situações em que os idosos podem melhorar física ou mentalmente. Mas, a melhoria contínua não é realista, simplesmente porque estão a envelhecer.

Além disso, muitos idosos têm problemas de saúde graves e progressivos, o que são coisas que nenhuma quantidade de cuidados pode parar ou reverter

Deveria ter optado por outra solução

O cuidador pode encarar o facto de as coisas não estarem a correr bem num dado momento, por causa da escolha que teve que fazer. Pensando que fez a escolha errada e a culpa é sua.

Ninguém pode ver o futuro e saber o que vai acontecer por causa das escolhas que teve de fazer.

Geralmente, as pessoas tomam uma decisão com base no que sabem na altura e fazem a melhor escolha que podiam naquele momento.

Se as coisas não correrem bem, não é justo nem realista culpar-se por não ser capaz de ver o futuro e saber o resultado.

O máximo que se pode fazer para evitar uma decisão lamentável é aprender o mais possível sobre a situação em causa e tentar preparar-se para o que pode acontecer.

Embora seja importante fazer investigação e tentar preparar para o que pode acontecer, não se pode planear tudo ou prever o resultado de decisões importantes. Faz-se o melhor e ter em mente que ninguém pode controlar tudo ou conhecer o futuro.

Formas de lidar com a culpa do prestador de cuidados

A prestação de cuidados já é suficientemente difícil sem a culpa adicional que muitas vezes acompanha todas as responsabilidades. Por outro lado, a culpa pode surgir por razões que não são verdadeiras ou realistas.

As pessoas, em geral, têm tendência para se imporem padrões pouco razoáveis, como serem capazes de fazer tudo sem ajuda, ter uma solução para todos os problemas, tomar sempre a decisão certa, nunca ficar chateado ou frustrado, entre outras.

Nenhuma destas ideias é realista, mas mesmo assim, surge a autocritica quando inevitavelmente se fica aquém das expectativas desumanas.

Estas são algumas sugestões para lidar com a culpa que pode surgir na prestação de cuidados:

Ressentimento pela perda de tempo pessoal

É normal sentir que se está a perder alguma coisa quando se ocupa muito tempo a cuidar de outra pessoa. A pessoa que cuida pensa que não deveria sentir-se assim, o que leva a sentimentos de culpa.

Comparar com os outros

É normal sentir culpa de vez em quando. Quando a reconhecemos, conseguimos lidar melhor com ela.

Alguns prestadores de cuidados olham para outro prestador de cuidados e pensam que nunca conseguiriam fazer o que a outra pessoa fez. O aconselhável, nesta situação é focar no trabalho que se faz e tentar fazer o melhor que se consegue, sem fazer comparações com outras pessoas.

Reconhecer que o sentimento de culpa existe

O primeiro passo para resolver um problema é admitir que ele existe. Quando se suprime um sentimento, ele só se torna mais intenso.

Identificar quando surge a culpa e reconhecer os pensamentos e as emoções, pode ajudar a reduzir o sentimento e a deixá-lo passar.

Reconhecer e aceitar que há um sentimento de culpa porque se está exausto e não se consegue fazer tudo ou porque se precisa de um tempo para recarregar energias, é uma forma mais saudável de lidar com o sentimento de culpa, do que a frustração ou o ressentimento.

Comparar as expectativas com a realidade

Ter expectativas irrealistas causa culpa desnecessária. Quando o cuidador pensa que devia ser capaz de tratar de tudo sem se sentir ressentido ou exausto, deve comparar isso com a realidade.

Um cuidador não pode estar sempre em modo de cuidado. É irrealista e não é algo que se deva esperar de si próprio.

É importante pensar na realidade das circunstâncias e da situação. Há muitas situações em que manter um idoso em casa, por exemplo, não é realista e pode causar danos graves ao idoso ou à pessoa que cuida dele.

Não comparar os piores momentos com os melhores momentos de outra pessoa

Com base no que se vê ou ouve sobre outros prestadores de cuidados, pode parecer que eles estão a fazer um trabalho melhor.

O cuidador poderá pensar que eles são melhores a lidar com o stress, a prestar cuidados práticos, a trabalhar com a família ou a encontrar recursos. A verdade é que só se conhece uma pequena parte das suas vidas.

Não é realista nem justo comparar o pouco que se sabe sobre a situação de outros cuidadores com a realidade quotidiana própria. Muito provavelmente, outros cuidadores estão a lutar tanto ou mais.

Nesta situação, também é útil ter honestidade consigo próprio sobre o quão realistas são as expectativas. Ninguém consegue fazer tudo sozinho e não existe um prestador de cuidados perfeito.

É mais útil definir objetivos exequíveis e razoáveis, obtendo ajuda na prestação de cuidados, se necessário e reservar tempo para o autocuidado.

 Utilizar estratégias positivas para lidar com a situação

Os sentimentos de culpa também podem ser atenuados com técnicas positivas de autocuidado.

Escrever num diário, programar pausas regulares e utilizar técnicas de relaxamento rápidas e simples podem fazer uma grande diferença na forma como um cuidador se sente.

Não encarar a culpa como arrependimento

É impossível fazer tudo o que, teoricamente, deveria ser feito. Este é o mundo real e há sempre compromissos que têm de ser feitos.

Pensar que a prestação de cuidados pode ser uma situação difícil, mas não é realista nunca fazer pausas e não fazer autocuidado.

Pode ser necessário tomar a decisão difícil de deixar outra pessoa ajudar, mas isso tem de ser feito para que se possa continuar a cuidar a mais longo prazo.

Procurar apoio

Procurar o apoio da família e dos amigos, procurar grupos de apoio a prestadores de cuidados ou ajuda profissional para ultrapassar os sentimentos de culpa.

É importante perceber que não se está sozinho na prestação de cuidados e que a ajuda está disponível.

Um grupo de apoio a prestadores de cuidados é uma boa opção para conhecer pessoas que se encontram em situações semelhantes.

Estas pessoas compreenderão melhor como outro cuidador se está a sentir e a culpa que possa ter.

Ouvir os outros ajuda a perceber que não se é o único a sentir assim, e que provavelmente não se está a ser justo com o próprio.

Ter em mente as realizações positivas

A culpa faz pensar em todas as formas como não se consegue cumprir os padrões demasiado elevados. É fácil esquecer todas as coisas boas que foram feitas pela pessoa de quem se cuida.

Reconhecer e apreciar as realizações como prestador de cuidados é essencial. Reduz o stress, melhora o humor e aumenta o respeito próprio e a confiança.

Ver o panorama geral

 Embora o cuidador possa estar stressado com uma determinada situação num dado momento, ela não durará para sempre. Focar nas coisas boas que foram feitas e no bem-estar que se está a proporcionar a outra pessoa.

Aceitar que se é humano e se tem defeitos

Todos nós cometemos erros de vez em quando. Alguns podem ser bons nos aspetos físicos da prestação de cuidados, enquanto outros podem ser mais capazes de lidar com os aspetos emocionais. Reconhecer os pontos fortes e não focar nos aspetos negativos.

Arranjar tempo para si próprio

Mesmo que seja apenas uma ou duas horas por semana, sair e tomar um café com um amigo, ver um filme, participar num grupo de apoio a prestadores de cuidados ou simplesmente ler um livro. Tirar algum tempo ajuda a perspetivar melhor a situação.

Fazer o melhor a cada momento

Encarar a prestação de cuidados como tomar a melhor decisão a pessoa de quem se cuida e o cuidador a cada momento.

Uma mudança na situação pode forçar a quebrar promessas que foram feitas, mas perceber que a promessa foi feita em circunstâncias diferentes e se está a tomar a melhor decisão com as novas circunstâncias.

Lidar com questões não resolvidas ou aceitá-las como são

Muitas vezes, o cuidador pode estar a tomar conta de alguém de quem está ressentido, por muitas razões, especialmente se for um cuidador informal.

Nesta circunstância, o cuidador, pode optar por tentar resolver esses sentimentos do passado para poder cuidar da pessoa de forma justa. Também pode optar por deixar que outra pessoa cuide dessa pessoa porque sabe que não o pode fazer por direito.

Em qualquer dos casos, é algo que deve se ser considerado se o passado com a pessoa de quem se cuida for um problema.

Conclusão

Cuidar de uma pessoa com uma doença ou deficiência pode suscitar algumas emoções complicadas. Pode haver dias em que se sente uma profunda satisfação e ligação. E outros dias difíceis, cheios de culpa, mágoa ou raiva.

Pode até haver sentimentos contraditórios, como amor e ressentimento, ao mesmo tempo. Pode ser um desafio e, se o cuidador não prestar atenção, pode acabar por se desgastar.

Não há duas experiências de prestação de cuidados iguais. O que afeta uma pessoa pode não ser um problema para outra.

Cada cuidador tem a sua própria relação com a pessoa de quem cuida, rica e complexa com a história que têm em comum.

Por isso, é importante saber que não existe uma fórmula para saber o que se vai sentir ou quando. E não há sentimentos que devemos ou não devemos ter. As emoções surgem, quer queiramos quer não.

Uma das emoções que surge mais frequentemente entre os cuidadores é a culpa, que pode surgir por muitas e variadas razões.

Para prestar os melhores cuidados possíveis, é útil conhecer os tipos de sentimentos que podem surgir, como os reconhecer e o que se pode fazer para os gerir.

Muitas pessoas têm sentimentos na prestação de cuidados que são desafiantes, pelo menos por vezes. E estas emoções podem manifestar-se de diferentes formas, dia após dia.

No entanto, os cuidadores devem acreditar que fazem o melhor que podem e não devem negligenciar o tempo dedicado a si e o autocuidado.

Juntos Cuidamos Melhor!

Referências:

  • Alzheimer’s Association
  • United Healthcare