Os cuidadores desempenham um papel fundamental no apoio e assistência a pessoas mais vulneráveis que podem ter necessidades físicas, emocionais ou cognitivas.
O seu papel, muitas vezes mal compreendido, acarreta alguns desafios e complexidades que necessitam de uma capacidade para os enfrentar e de alguma resiliência, pois assim poderão mais facilmente prestar cuidados de forma mais eficaz.
Por outro lado, a resiliência está, de alguma forma, também relacionada com uma visão mais positiva. Quanto maior a resiliência, tendencialmente, será maior a positividade.
Os prestadores de cuidados desempenham assim um papel preponderante na vida das pessoas que necessitam de assistência, sobretudo nos casos de doença, deficiência ou envelhecimento.
No entanto, as responsabilidades dos prestadores de cuidados podem variar muito, dependendo das necessidades da pessoa de quem estão a cuidar.
Por todos estes motivos, ser prestador de cuidados exige dedicação, compaixão e vontade de pôr as necessidades dos outros à frente das suas, o que pode ser desafiante e exigente, tanto a nível físico como emocional.
Desta forma, desenvolver uma boa resiliência e manter uma certa positividade nos cuidados prestados, são ferramentas essenciais para garantir uma prestação de cuidados com maior eficácia e qualidade.
O que é a resiliência
Quando se fala em resiliência nem sempre é muito claro do que se está a falar. Algumas pessoas confundem resiliência com resistência, mas não são a mesma coisa.
A resiliência pode ser entendida como a capacidade de recuperar rapidamente de dificuldades, contratempos ou situações stressantes.
É um mecanismo cognitivo e emocional de manter a força interior e a flexibilidade perante a adversidade, permitindo, neste caso aos prestadores de cuidados, lidar com as exigências do seu papel de forma mais eficaz.
A resiliência centra-se na capacidade não só de suportar uma situação difícil, mas também de recuperar e crescer a partir dela, é um tipo de força interna, que pode mudar o processo de prestação de cuidados.
Ser resiliente não faz com que a prestação de cuidados se torne subitamente mais fácil, mas à medida que a resiliência aumenta, é possível descobrir que muitas das tensões da prestação de cuidados se tornam menos significativas.
Porque é que a resiliência é tão importante para os cuidadores?
A prestação de cuidados pode ser muito estressante. Muitas vezes, implica vários desafios físicos, financeiros e emocionais. Mudar a perspetiva não fará com que esses desafios desapareçam.
Mas trabalhar as perspetivas e reações pessoais pode mudar a forma como o cuidador se sente em relação aos desafios que enfrenta e pode também mudar a forma como se debate com eles.
A forma como vivemos o nosso sofrimento está muito ligada às nossas expectativas e às histórias que contamos a nós próprios, mas ambas as coisas podem ser alteradas.
Por causa disto um prestador de cuidados pode sofrer e outro prosperar, mesmo que as suas situações sejam muito semelhantes.
A resiliência pode funcionar como um fator de proteção contra o esgotamento. Os cuidadores que conseguem recuperar de experiências difíceis têm menos probabilidades de sofrer o esgotamento físico e emocional associado ao burnout.
Os prestadores de cuidados resilientes tendem a manter uma visão mais positiva da vida, o que, por sua vez, pode reduzir os sintomas de ansiedade e depressão. Estes prestadores de cuidados também são normalmente mais capazes de encontrar alegria e satisfação no seu papel de cuidadores, mesmo em tempos difíceis.
Em suma: a prestação de cuidados pode ser emocional e fisicamente desgastante, levando frequentemente ao esgotamento e a sentimentos de sobrecarga.
O desenvolvimento da resiliência é essencial para os prestadores de cuidados por várias razões:
Gestão do stress
Os cuidadores enfrentam níveis elevados de stress devido às exigências do seu trabalho. A resiliência ajuda a gerir e a lidar com o stress, evitando que se torne avassalador.
Bem-estar emocional
Os prestadores de cuidados experimentam frequentemente uma série de emoções, incluindo tristeza, frustração e culpa. A resiliência permite que processem e naveguem por essas emoções, promovendo o bem-estar emocional geral.
Adaptabilidade
A prestação de cuidados pode ser imprevisível, com circunstâncias que mudam rapidamente. A resiliência permite que os cuidadores se adaptem a estas mudanças, encontrando novas formas de lidar com os desafios e manter a sensação de controlo.
Autocuidado
A resiliência incentiva os prestadores de cuidados a dar prioridade ao autocuidado.
Ao desenvolver a força interior, os cuidadores estão mais bem equipados para reconhecer as suas próprias necessidades e tomar medidas para cuidar de si próprios, evitando o esgotamento e mantendo o seu próprio bem-estar.
Melhoria das relações
A resiliência pode ter um impacto positivo nas relações pessoais dos cuidadores.
Quando os prestadores de cuidados são resilientes, são mais capazes de comunicar eficazmente, procurar apoio e manter limites saudáveis, melhorando as suas relações com os recetores de cuidados e as outras pessoas.
Desenvolver resiliência é um processo contínuo que requer prática e autorreflexão. Os prestadores de cuidados podem desenvolver a resiliência adotando práticas de autocuidado, procurando apoio e recursos e desenvolvendo estratégias de sobrevivência que funcionem para cada caso.
Ao cultivar a resiliência, os cuidadores podem vivenciar a sua prestação de cuidados com mais força, bem-estar emocional e uma mentalidade mais positiva.
Como manter a positividade e a resiliência
A resiliência é sobretudo um processo pessoal e individual, não tendo uma receita padrão que possa servir a toda a gente. No entanto, é possível adotar algumas estratégias mais gerais que podem ajudar a solidificar a resiliência de cada um.
Estas são algumas estratégias que podem ser aplicadas:
Construir a força interior
A prestação de cuidados pode ser emocional e fisicamente exigente, tornando essencial desenvolver a força interior e resiliência.
Dando prioridade ao autocuidado, procurando apoio e recursos, e desenvolvendo estratégias para enfrentar e lidar com as situações, os cuidadores podem lidar melhor com os desafios que enfrentam.
Práticas de autocuidado
Cuidar de si próprio é crucial para manter a resiliência enquanto prestador de cuidados. Ao incorporar práticas de autocuidado na rotina, os cuidadores podem recarregar energias e reforçar o seu bem-estar físico e emocional.
Estas são algumas práticas de autocuidado que se podem considerar:
- Praticar exercício físico regular ou atividade física
- Praticar técnicas de relaxamento, como a respiração profunda ou a meditação
- Ter um sono reparador suficiente
- Nutrir o corpo com uma dieta equilibrada
- Envolver em atividades que tragam alegria e relaxamento, como passatempos ou passar tempo na natureza
- Reservar tempo para a autorreflexão e o crescimento pessoal
- Reservar tempo para ligações sociais e relações afetivas
Procurar apoio e recursos
Os prestadores de cuidados não devem hesitar em procurar apoio e utilizar os recursos disponíveis.
Ao desenvolver a força interior, os cuidadores estão mais bem equipados para reconhecer as suas próprias necessidades e tomar medidas para cuidar de si próprios, evitando o esgotamento e mantendo o seu próprio bem-estar.
Estas são algumas formas de procurar apoio:
- Aderir a grupos de apoio a prestadores de cuidados ou comunidades online
- Procurar orientação de profissionais de saúde ou conselheiros
- Utilizar serviços de cuidados temporários para fazer pausas temporárias nas responsabilidades de prestação de cuidados
- Recorrer a amigos, familiares ou pessoas de confiança para obter apoio emocional
- Explorar recursos e organizações locais que prestam assistência aos prestadores de cuidados
Desenvolver estratégias para lidar com as situações
O desenvolvimento de estratégias eficazes para lidar com as situações que surgem na prestação de cuidados pode ajudar a gerir melhor o stress, manter o bem-estar e aumentar a capacidade de resistência.
Estas são algumas estratégias para enfrentar e lidar com as diferentes situações:
- Praticar técnicas de relaxamento, como a respiração profunda ou o relaxamento muscular progressivo
- Envolver em atividades que promovam a redução do stress, como ioga ou escrever um diário
- Definir expectativas e objetivos realistas
- Praticar a gestão do tempo e a definição de prioridades
- Dividir as tarefas em etapas que possam ser melhor geridas
- Procurar ajuda profissional, se necessário, como terapia ou aconselhamento
Utilizar competências de resolução de problemas para enfrentar desafios
Ao implementarem práticas de autocuidado, procurar apoio e desenvolver estratégias de sobrevivência, os prestadores de cuidados podem reforçar a sua resiliência interior e gerir melhor as exigências da prestação de cuidados.
É importante que os prestadores de cuidados se lembrem de que cuidar de si próprios não é egoísta, mas sim necessário para o seu bem-estar geral e para a sua capacidade de prestar cuidados de forma eficaz.
Atenção plena e aceitação
Para desenvolver a resiliência na prestação de cuidados, a prática da atenção plena e a aceitação são componentes essenciais. Ao incorporar estas práticas na prestação de cuidados, o cuidador pode cultivar a força interior e enfrentar os desafios com maior facilidade.
A atenção plena envolve estar totalmente presente no momento presente, sem julgamento ou apego. Enquanto prestador de cuidados, a prática da atenção plena pode ajudar o cuidador a manter-se firme e a reduzir o stress.
Ao concentrar-se no momento presente, o cuidador pode gerir melhor as suas emoções e responder às necessidades da pessoa de quem cuida com clareza e compaixão.
Estas são algumas formas de incorporar a atenção plena na rotina da prestação de cuidados:
Exercícios de respiração
Reservar alguns momentos para concentrar na respiração. Inspirar profundamente e expirar lentamente, permitindo relaxar e libertar a tensão.
Exame corporal
Fechar os olhos e prestar atenção a cada parte do corpo, começando pelos dedos dos pés e subindo até à cabeça. Reparar em quaisquer áreas de tensão e libertar conscientemente enquanto se respira.
Ativar os sentidos
Fazer uma pausa consciente para despertar e ativar os sentidos. Reparar nas imagens, sons, cheiros, sabores e texturas à volta. Isto pode ajudar a regressar ao momento presente e a promover uma sensação de calma.
Ao incorporar práticas de atenção plena na rotina de prestação de cuidados, o cuidador pode aumentar a sua capacidade de lidar com o stress, melhorar o seu bem-estar geral e prestar melhores cuidados.
Aceitar e desprender das coisas
Um dos desafios que os cuidadores enfrentam frequentemente é a luta para aceitar as limitações e as mudanças que surgem com a prestação de cuidados.
Aceitar significa reconhecer a realidade da situação e deixar de lado as expectativas e o autojulgamento. Implica reconhecer que se está a fazer o melhor possível e compreender que não se pode controlar tudo.
Eis algumas estratégias para adotar a aceitação e deixar ir:
Praticar a autocompaixão
Ser gentil e compreensivo consigo próprio. Reconhecer que a prestação de cuidados pode ser um desafio e que é natural ter limitações. Tratar-se a si próprio com a mesma bondade e compaixão que se tem para com os outros.
Concentrar no que se pode controlar
Manter o foco nos aspetos da prestação de cuidados sobre os quais se tem algum controle. Isto pode incluir dar apoio emocional, defender a pessoa que é cuidada ou procurar recursos e assistência.
Procurar apoio
Recorrer a grupos de apoio ou procurar ajuda profissional para processar emoções e ganhar uma nova perspetiva. Partilhar as experiências com outras pessoas que as compreendem pode fornecer validação e ajudar a encontrar a aceitação.
Ao aceitar e deixar ir, é possível reduzir a carga emocional da prestação de cuidados e encontrar uma sensação de paz no meio dos desafios.
Não há problema em pedir ajuda e fazer pausas quando necessário. Cuidar de nós próprios é uma parte integrante da prestação de cuidados aos outros.
Incorporar a atenção plena e aceitar as realidades da prestação de cuidados pode ajudar a criar resiliência, a manter o bem-estar e a continuar a prestar os melhores cuidados possíveis.
Encontrar o equilíbrio
Aderir a grupos de apoio a prestadores de cuidados ou comunidades online, procurar orientação de profissionais de saúde ou conselheiros, utilizar serviços de cuidados temporários para fazer pausas temporárias nas responsabilidades de prestação de cuidados, recorrer a amigos, familiares ou pessoas de confiança para obter apoio emocional, são tudo estratégias para encontrar um melhor equilíbrio.
O desenvolvimento de estratégias eficazes para lidar com a situação pode ajudar os prestadores de cuidados a gerir o stress, manter o seu bem-estar e aumentar a sua capacidade de resistência.
Praticar a gestão do tempo e a definição de prioridades
Dividir as tarefas em etapas que possam ser melhor geridas, fazer um planeamento ou escala de tarefas, com um horário definido e um calendário bem organizado, pode ser muito útil para gerir melhor o stress e alcançar mais agilidade e eficácia na execução das tarefas.
Como manter a positividade na prestação de cuidados?
Com uma atividade tão complexa e exigente, a prestação de cuidados pode parecer, por vezes, um conjunto de tarefas intermináveis que sugam a energia do cuidador, não deixando muito espaço para a positividade e leveza.
No entanto, manter uma mentalidade positiva pode fazer uma diferença significativa no bem-estar geral de um prestador de cuidados e é possível, através de algumas estratégias e comportamentos encontrar a positividade.
Estas são algumas formas de promover e manter a positividade na prestação de cuidados:
Conversa interior positiva
Os prestadores de cuidados podem ser incentivados a substituírem a conversa interna negativa por afirmações positivas. Lembrando-se de se concentrarem nos seus pontos fortes e nas suas realizações e reconhecendo o valor dos seus esforços de prestação de cuidados.
Prática da gratidão
Os cuidadores poderão aderir à prática da gratidão, refletindo sobre os aspetos positivos da sua experiência de prestação de cuidados. Isto pode incluir a apreciação de pequenos momentos de alegria, atos de bondade, ou a força e resiliência que demonstram diariamente.
Celebrar marcos importantes
Reconhecer e comemorar os marcos e as conquistas, grandes e pequenas. Isto pode ajudar os prestadores de cuidados a manterem-se motivados e a manterem uma perspetiva mais positiva.
Encontrar apoio
Os cuidadores podem ser estimulados a contactar com outras pessoas que compreendam as suas experiências. Os grupos de apoio ou as comunidades online podem proporcionar um espaço seguro para os cuidadores partilharem os seus desafios, procurarem aconselhamento e encontrarem encorajamento.
Cultivar a esperança e o otimismo
Manter uma mentalidade positiva é crucial para que os prestadores de cuidados possam desempenhar as suas funções com resiliência.
Cultivar a esperança e o otimismo pode proporcionar um sentido renovado de propósito e motivação, ajudando os cuidadores a ultrapassar desafios e a encontrar realização na sua prestação de cuidados.
Encontrar alegria
Apesar dos desafios inerentes, a prestação de cuidados também pode trazer momentos de alegria, ligação emocional e crescimento pessoal.
Ao abraçar a gratidão e focar nos aspetos positivos do papel de prestador de cuidados, os cuidadores podem cultivar a esperança e o otimismo.
Estes são alguns exemplos de como encontrar a alegria na prestação de cuidados:
Valorizar as ligações significativas
Manter o foco nas ligações profundas construídas através da prestação de cuidados. Celebrar os momentos de riso, as memórias partilhadas e o apoio emocional.
Focar a atenção no presente
Se os cuidadores adotarem uma postura de procurar estar no momento presente a cada momento, ficando totalmente presentes nos momentos de prestação de cuidados, poderão saborear melhor as alegrias simples e encontrar gratidão no dia a dia.
Abraçar o humor
Procurar criar ou encontrar momentos de humor e leveza no meio dos desafios e do stress, pode ser muito benéfico. O riso pode proporcionar uma libertação muito necessária e aumentar o bem-estar geral.
Apreciar o crescimento pessoal
A prestação de cuidados é também uma oportunidade de crescimento pessoal e profissional.
Reconhecer o crescimento pessoal e a força adquirida através das experiências de prestação de cuidados, pode ser muito inspirador e até reconfortante.
Celebrar a resiliência e as lições aprendidas ao longo do caminho, pode ser muito benéfico para o bem-estar do cuidador.
Ao manter uma mentalidade positiva e encontrar alegria e gratidão na prestação de cuidados, os cuidadores podem cultivar a esperança e o otimismo.
Todas estas estratégias podem contribuir para o bem-estar geral e resiliência, permitindo prestar os melhores cuidados possíveis enquanto se alimenta a própria força interior.
Conclusão
O prestador de cuidados, quer esteja a cuidar de um familiar, de um amigo ou de um idoso, conhece bem os desafios e as exigências únicas que este papel implica.
Cuidar de alguém doente, idoso ou com deficiência pode ser emocional e fisicamente desgastante, deixando o cuidador, muitas vezes, sobrecarregado e esgotado.
No entanto, a resiliência é fundamental para o cuidador manter o bem-estar e prestar os melhores cuidados possíveis
A resiliência desempenha um papel muito importante no percurso do cuidador da prestação de cuidados. Remete para a capacidade de adaptação, recuperar e manter uma mentalidade positiva perante a adversidade.
Porque a prestação de cuidados pode ser emocional e fisicamente exigente, torna a resiliência essencial para os prestadores de cuidados enfrentarem os desafios e exigências com que se deparam.
Por outro lado, há uma tendência para muitos cuidadores negligenciaram inadvertidamente o seu próprio bem-estar, aceitando de forma mais ou menos resignada, a situação em que estão.
Mas, apesar de as exigências físicas e emocionais do papel de prestador de cuidados poderem ser esgotantes, se não cuidar da saúde e não fortalecer o próprio bem-estar, os desafios podem tornar-se esmagadores com o tempo.
O autocuidado e a capacidade de obter experiências positivas na prestação de cuidados são importantes para ajudar os cuidadores a manterem-se mentalmente saudáveis e resilientes.
A resiliência permite-lhes não só adaptarem-se a situações difíceis, mas também crescer enquanto pessoas a partir delas.
A promoção de uma atitude mais otimista e resiliente nos cuidadores pode ajudar a reduzir o stress, a angústia e o cansaço, que normalmente resulta das alterações relacionadas com a evolução da prestação de cuidados.
Ao diminuir o risco de stress e sobrecarga e promover a adaptação do prestador de cuidados às situações que surgem através da resiliência e da positividade, permite ao cuidador não só executar as suas tarefas de forma mais eficaz, mas também alcançar uma melhor qualidade de vida e satisfação pessoal.
Juntos Cuidamos Melhor!
Referências:
- National Library of Medicine
- Multicultural Caregiving
- Atpeacehealth.com