Falar com uma pessoa idosa sobre assuntos delicados como o envelhecimento e as mudanças necessárias no estilo de vida pode ser desafiador.
Para tornar as conversas mais bem-sucedidas, é importante perceber porque os idosos podem tornar-se mais resistentes a ouvir os outros e como ultrapassar estes desafios.
Numa situação ideal os idosos ouviriam os médicos, familiares e prestadores de cuidados sem qualquer tipo de resistência. No entanto, o idoso tem as suas próprias opiniões e é preciso respeitá-las.
Pode ser frustrante e até assustador tentar comunicar algo importante aos idosos e eles não ouvirem ou não aceitarem o que se está a dizer.
Os idosos foram autossuficientes e produtivos que criaram famílias, geriram empresas entre outros feitos, quando chega o momento de lhes ser dito que já não podem viver a vida da mesma forma que antes e da forma que desejam, pode ser muito problemático.
Por isso, é essencial encontrar formas de chegar a um compromisso para evitar que a teimosia ou resistência do idoso se torne um risco para o seu bem-estar, e encontrar formas de comunicar com um idoso que facilitarão a abordagem de temas difíceis da vida e decisões importantes.
Formas de comunicar quando os idosos não querem ouvir
Os idosos são pessoas adultas e têm o direito de tomar decisões respeitantes à sua vida pessoal, ainda que essas decisões sejam más.
Por isso é importante aceitar que não se pode obrigar um idoso a fazer alguma coisa e a ir contra a sua própria natureza e utilizar formas de comunicar que ajudem ao diálogo e á compreensão mútua.
Estas são algumas estratégias que podem ajudar a comunicar melhor:
Remeter a preocupação para os outros
Por vezes argumentar com um idoso que estamos preocupados com ele, pode não resultar na argumentação. Nestas situações, remeter a preocupação para os outros, como por exemplo, um familiar indicar que se preocupa, ou que a situação é prejudicial para a família, poderá ser uma melhor estratégia.
Decidir a importância do assunto
A situação em concreto é uma questão de segurança relacionada com uma doença como a demência ou uma questão que é apenas irritante, mas inconsequente?
Se for uma questão de segurança relacionada com a demência ou a doença de Alzheimer, então é importante intervir.
Por outro lado, a maioria das pessoas não reage bem se sentir que está constantemente a ser importunada, por isso, a longo prazo, pode ser útil deixar de insistir com os idosos para fazerem determinadas coisas menos importantes num plano mais abrangente, como atualizar o telemóvel ou ir mais vezes ao ginásio.
Tratar os idosos como adultos
Embora às vezes possa parecer que os idosos se portam como crianças, é importante lembrar-se de que eles continuam a ser adultos e que desejam e merecem respeito.
Deve evitar-se fazer uma infantilização dos idosos, porque lidar com um idoso teimoso não é o mesmo que lidar com uma criança teimosa.
As pessoas mais velhas devem ser autónomas, por isso deve evitar-se comportamentos como ameaçar transferir o idoso para um lar de idosos ou insistir que se sabe sempre o que é melhor, este tipo de comportamento pode criar um fosso entre o idoso e os cuidadores.
Acima de tudo, o objetivo é ajudar os idosos a receberem os melhores cuidados possíveis. É muito mais provável obter resultados positivos se forem tratados como os adultos que são.
Isto aplica-se tanto a tarefas simples, como ajudar os idosos a lembrarem-se de tomar os medicamentos, como a tarefas mais difíceis, como ajudá-los a obter tratamento para a demência.
Não é o que se diz, é como se diz
A forma como se dizem as coisas faz toda a diferença. O tom é importante bem como a construção da frase. Qualquer pessoa que se sinta maltratada, intimidada ou ouve gritos irá frequentemente afastar-se da conversa e fechar a comunicação.
Analisar cuidadosamente a forma como se está a comunicar, porque pode ser essa a razão pela qual os idosos não estão a ouvir ou não querem ouvir.
Remeter o assunto para si próprio e não para o idoso
Uma forma eficaz de fazer com que um idoso ouça é fazer com que o assunto não seja sobre si.
O pior medo de muitos idosos é o de se tornarem um fardo para as suas famílias, este fator alimenta grande parte da resistência em pedir e obter ajuda ou mudarem de circunstâncias.
Explicar honestamente como a falta de vontade de ouvir está a causar fardo aos familiares ou cuidadores pode ajudar muito a trazê-los de volta à conversa.
Incluir o idoso na tomada de decisões
Em vez de seguir uma estratégia de decidir tudo sobre o que se relaciona com o idoso como contratar alguém para os ajudar em casa, mudar para um lar ou simplesmente de ajuda para arrumar a casa, é melhor adotar a estratégia de os incluir na tomada de decisões.
Perguntar o que querem e tentar ir ao encontro das suas necessidades é a melhor forma de manter uma boa comunicação e estimular a atenção dos idosos.
Ouvir as opiniões dos idosos é fundamental. Os idosos podem recusar-se a seguir planos de cuidados que não incluam nenhum dos seus desejos.
O idoso deve ter voz ativa no que diz respeito à sua vida, tratamentos médicos, atividades sociais e outras atividades pessoais.
A não inclusão no processo de planeamento pode aumentar a resistência e a falta de cooperação. A melhor estratégia é sentar e conversar calmamente sobre os planos de cuidados a curto e a longo prazo, independentemente da dificuldade da discussão.
Usar de honestidade e ter seriamente em conta a opinião dos idosos, pode ser um fator de extrema importância para conseguir comunicar.
Viver de forma independente é importante para os idosos que querem manter uma elevada qualidade de vida. Para alguns, isto significa simplesmente receber ajuda para tarefas que se tornaram mais difíceis de gerir ao longo do tempo.
Explicar os benefícios da mudança
Quando os idosos compreendem os benefícios das mudanças, é mais fácil para eles fazerem transições na vida quotidiana.
Por exemplo, pedir ao médico que explique os benefícios das mudanças alimentares pode ajudar muito.
Manter o idoso informado pode facilitar a adoção de hábitos mais saudáveis. Um prestador de cuidados ao domicílio pode também ajudar o idoso a adotar hábitos de vida mais saudáveis.
Escolher as batalhas
Chegar a um acordo com os idosos nem sempre é possível, e é por isso que se tem de determinar o que vale a pena debater e insistir.
Se a questão em causa não causar danos ao idoso ou a outras pessoas, pode-se deixar passar e tentar ter a conversa numa outra altura. Ao escolher as batalhas, pode-se reduzir a tensão entre o idoso e os cuidadores ou familiares.
Utilizar estratégias de comunicação eficazes
Por vezes, os idosos recusam-se a ouvir os seus cuidadores ou familiares por causa de problemas de compreensão. Se o idoso tiver dificuldade em comunicar, é melhor criar formas de tornar as conversas mais fáceis de gerir.
Por exemplo, os idosos com demência podem mostrar-se zangados e recusar-se a cumprir os horários estabelecidos pelos seus familiares ou prestadores de cuidados.
Neste caso, os cuidadores têm de falar devagar e com clareza ou procurar utilizar pistas não verbais, blocos de notas, cartões com fotografias ou utilizar quadros brancos para escrever.
As estratégias de comunicação eficazes podem facilitar a comunicação positiva entre os idosos e os prestadores de cuidados.
Manter a positividade
É importante não desanimar quando o idoso se recusa a ouvir. Deve-se manter a positividade o mais possível e continuar a prestar cuidados com qualidade da melhor forma possível.
Haverá sempre dias bons e momentos difíceis, no entanto, manter uma perspetiva positiva pode mais facilmente ajudar a gerir situações stressantes.
Manter a calma e ser persistente
Quando se pede a alguém para alterar o seu estilo de vida, é um assunto importante, pelo que não se deve esperar chegar a uma conclusão logo após uma conversa.
Quer se trate de uma mudança para um lar ou de um pequeno ajuste na dieta, o idoso pode ficar nervoso e vai precisar de tempo para processar toda a informação e a situação.
Sempre que for necessário falar de qualquer assunto relacionado com os cuidados do idoso, planear fazê-lo quando as coisas estiverem a correr bem e quando há menos stress.
Falar de mudanças significativas na vida quando os intervenientes estão perturbados só irá dificultar a discussão e a conversa.
Afastar-se quando as coisas estão fora de controlo e não ceder à culpa. Por vezes, não há muito que se possa fazer, a não ser esperar, prestar atenção, observar de perto e ser capaz de intervir quando necessário.
Pensar antecipadamente
Para evitar potenciais problemas, ajudar os idosos a lembrarem-se de datas importantes com antecedência é melhor do que mostrar ressentimento ou frustração com eles se se esquecerem.
Se houver alguma data importante para a qual eles queiram estar presentes, como um aniversário, ou jantar de família é melhor falar disso com antecedência.
Mesmo que os idosos não tenham sido diagnosticados com Alzheimer ou demência, viver com a perda de memória pode ser muito difícil de aceitar e de gerir.
Tentar compreender a motivação por detrás do comportamento
O envelhecimento é um processo difícil para toda a gente. Muitos idosos vivem com demência ou problemas de saúde mental, incluindo ansiedade.
Tirar um tempo para analisar e perceber como os idosos se sentem podem ajudar a comunicar melhor. Perceber que a autonomia é importante para eles pode ajudar a reduzir muitas emoções negativas e a resistência a ouvir os outros.
Como comunicar com um idoso que sofre de demência
Quando os idosos sofrem de demência a comunicação pode ser ainda mais complexa e difícil, podendo haver uma grande resistência ou mesmo bloqueio do idoso para ouvir os familiares ou cuidadores.
Estas são algumas estratégias que podem ajudar:
Aceitar a situação
Aceitar a situação tal como ela é em primeiro lugar é meio caminho andando para facilitar a comunicação. A situação implica perceber que não se está a falar com a mesma pessoa com que se cresceu ou da mesma forma que era anteriormente.
A demência pode alterar a personalidade, as perceções e muitas outras capacidades cognitivas. O ideal é falar e conversar com a pessoa de acordo com o que é no momento.
Manter a simplicidade
Quando falar com uma pessoa com demência, manter a comunicação simples e as escolhas limitadas. Perguntas longas e sequenciais com uma variedade grande de respostas possíveis podem despoletar frustração.
Procurar a altura certa
Fale com os idosos quando eles puderem concentrar-se no que se está a dizer. Evitar fazer perguntas quando estiverem visivelmente cansados ou distraídos.
Ao comunicar com um idoso, é provável que, a dada altura, se desencadeie algum comportamento irritante.
Quando isto acontece, é melhor esquecer o assunto ou fazer uma pausa, pedir a outros familiares ou pessoas para intervir ou procurar aconselhamento profissional, mas não se deve deixar arrastar para uma luta pelo poder na conversa.
Ninguém sai a ganhar, especialmente quando se faz um ultimato ou se critica.
Concentrar a atenção no respeito e na aceitação
O envelhecimento é um processo longo e complexo. O respeito e a aceitação são muito importantes para que seja um processo mais harmonioso e agradável.
Quando o respeito e a aceitação orientam a comunicação com os idosos, esta será sempre mais eficaz.
Conclusão
O envelhecimento é um processo difícil para praticamente toda a gente. Muitos idosos vivem com demência ou problemas de saúde mental, incluindo ansiedade e depressão.
Reconhecer o ponto de vista do idoso, para que se possa escolher a melhor abordagem quando se comunica com ele é fundamental para estimular a sua recetividade ao que é comunicado.
Poderá fazer todo o sentido que os idosos precisem de ajuda, por exemplo, na limpeza da casa ou nos cuidados pessoais. No entanto, podem recusar a ajuda e não quererem sequer ouvir falar nisso.
Falar com os idosos quando ainda são autónomos e numa altura em que estão bem permite falar sobre hipóteses e soluções possíveis sem qualquer stress.
Não só a altura certa para falar como a forma como se fala fazem toda a diferença, para que o idoso mostre mais recetividade à conversa e tenha menos resistência a ouvir.
Incluir os idosos nas decisões e pensar na forma como as necessidades deles podem afetar a vida no futuro é fundamental para que haja reciprocidade na comunicação.
Mas o mais importante é manter o respeito e a consideração pois só assim será possível manter as vias de comunicação abertas e conseguir que os idosos ouçam as recomendações de familiares e cuidadores.
Juntos Cuidamos Melhor!
Referências:
A Place for Mom