De que forma os problemas da tiroide afetam os idosos?

De que forma os problemas da tiroide afetam os idosos?

Os problemas da tiroide podem afetar muito os idosos, embora, na maior parte das vezes, é uma doença que nem sempre é diagnosticada.

Embora a incidência de problemas da tiroide aumente com a idade, é por vezes difícil de diagnosticar, uma vez que os sintomas nem sempre são tão generalizados ou óbvios como no caso das pessoas mais jovens afetadas pela doença.

As hormonas têm um papel muito importante no bom funcionamento do organismo, afetando em grande parte o funcionamento de todos os órgãos. 

As hormonas que são segregadas pela tiroide têm uma função essencial no controlo do metabolismo, atuando na forma como as células utilizam a energia, consomem oxigénio ou produzem calor.

Em Portugal cerca de 10% da população sofre de doenças da tiroide e quando esta glândula produz hormonas em excesso ou não produz o suficiente, todo o organismo se ressente.

Existem sobretudo duas grandes doenças da tiroide que se podem manifestar, o hipertiroidismo e o hipotiroidismo.

Enquanto alguns dos sintomas do hipertiroidismo e hipotiroidismo em pessoas mais velhas são semelhantes aos das pessoas mais jovens, os sintomas de ambas as perturbações manifestam-se frequentemente de forma subtil nos idosos, disfarçados de doenças do intestino ou do coração ou de uma perturbação do sistema nervoso.

A dificuldade em diagnosticar as pessoas mais velhas acontece porque as anomalias da tiroide podem aparecer de forma muito diferente do que seria expectável. Além disso, nos idosos existem semelhanças entre as duas doenças da tiroide.

Em ambas as condições, nas pessoas mais velhas pode haver confusão, depressão, quedas, insuficiência cardíaca e mudanças nos hábitos intestinais.

Estes sinais não só tornam difícil distinguir os problemas de saúde deste grupo etário, como também são sinais de doenças comuns das pessoas mais velhas.

O que é o hipertiroidismo?

O hipertiroidismo é uma doença provocada pelo excesso de produção de hormonas da tiroide.

A tiroide é uma glândula localizada no pescoço que produz várias hormonas que desempenham importantes funções no organismo, como a regulação do metabolismo e da temperatura corporal.

Quando a tiroide produz hormonas em excesso e estas são libertadas na corrente sanguínea, vários órgãos e funções do organismo são afetados, ocorrendo o hipertiroidismo

Nas pessoas que têm hipertiroidismo, se houver demasiada hormona da tiroide no organismo, todas as funções do corpo tendem a acelerar.

No entanto, enquanto as pessoas mais jovens com distúrbios da tiroide experimentam frequentemente múltiplos sintomas relacionados com a tiroide hiperativa como a perda de peso, palpitações, suor, nervosismo e tremores, as pessoas mais velhas podem ter apenas alguns sintomas.

Como por exemplo, algumas palpitações cardíacas e desconforto no peito ao subir escadas. Outras podem ter um tremor e sentir-se deprimidas, mas não têm quaisquer outros sintomas.

O que é o Hipotiroidismo?

O hipotiroidismo desenvolve-se quando há um mau funcionamento da tiroide e esta glândula não produz hormonas em quantidade suficiente para o normal funcionamento do organismo. 

A tiroide faz parte do sistema endócrino e está localizada junto à traqueia, no pescoço. Este órgão é responsável pela produção de duas hormonas: triiodotironina e a tetraiodotironina que por sua vez são responsáveis pela gestão da energia nas células, ou seja, pelo metabolismo.

A produção destas hormonas é regulada por outra hormona: a TSH que é produzida na hipófise. Quando as duas hormonas produzidas pela tiroide têm níveis baixos, o volume de TSH aumenta na circulação sanguínea, servindo assim como um equalizador dos valores hormonais no sangue.

O hipotiroidismo ocorre quando a produção das duas hormonas é baixa e pode manifestar-se como uma ocorrência aguda, um curto período de tempo ou de forma crónica.

A doença pode afetar todos os órgãos do organismo, se não for tratada, já que a função da tiroide é essêncial ao funcionamento de todas as células. Em casos extremos, perturbações no seu funcionamento podem levar a problemas cardíacos, coma e até mesmo à morte.

O hipotiroidismo é a doença da tiroide mais comum em pessoas com mais de 60 anos de idade e aumenta constantemente com a idade.

Um estudo de rastreio que avaliou mais de 25.000 indivíduos revelou que 10% dos homens e 16% das mulheres com idades compreendidas entre os 65 e os 74 anos tinham níveis de TSH que aumentaram acima do limite superior da faixa de referência, enquanto 16% dos homens e 21% das mulheres com 75 anos ou mais tinham aumentado os níveis de TSH.

Ao contrário dos sintomas de hipertiroidismo, particularmente em pessoas mais jovens, os sintomas de hipotiroidismo são muito pouco específicos em todos as pessoas, e ainda mais em pessoas mais velhas.

A gravidade e extensão dos sintomas também dependem do grau de hipotiroidismo. Tal como com o hipertiroidismo, a frequência de sintomas múltiplos como pele seca, queda do cabelo, prisão de ventre, aumento de peso, alterações do humor e cansaço, diminui com a idade.

Por exemplo, a perda de memória ou uma diminuição do funcionamento cognitivo, muitas vezes atribuída ao avanço da idade, pode ser o único sintoma de hipotiroidismo grave numa pessoa mais velha.

Os fatores que contribuem para a possibilidade de hipotiroidismo incluem o histórico familiar, com casos de doença da tiroide na família, tratamento passado para o hipertiroidismo ou um histórico de cirurgia extensiva ou radioterapia ao pescoço.

Quais são as causas do hipertiroidismo?

Em cerca de 70 a 80% dos casos de hipertiroidismo a causa é uma doença autoimune chamada doença de Graves ou bócio tóxico difuso.

No entanto, até ao momento não foi identificada uma razão especifica que leva o sistema imunitário a despoletar a estimulação excessiva da tiroide levando-a a produzir hormonas em excesso, ao iniciar uma produção elevada de anticorpos. 

Estes anticorpos alterados vão atuar sobre as células normais da tiroide, precipitando a sua hiperatividade. Apesar de ser a mais frequente, esta doença não é a única causa que leva ao hipertiroidismo.

Algumas das causas podem ser:

  • Inflamação da tiroide
  • Tumores benignos da tiroide ou da gandula pituitária
  • Ingestão excessiva de iodo
  • Tumores nos testículos ou nos ovários
  • Ingestão em excesso da hormona da tiroide por tratamento incorreto
  • Historial da doença na família

Quais são as causas do hipotiroidismo

As causas desta doença são muito variadas e pode abranger muitas influências tão diferentes como a falta de iodo na alimentação ou doenças inflamatórias.

Estas são algumas das causas:

Tiroidite autoimune

Em alguns casos o sistema imunitário ataca a tiroide provocando o seu funcionamento deficitário.

Hipertiroidismo

Por vezes a tiroide faz o posto e produz hormonas em excesso, nesta situação estamos perante o hipertiroidismo.

Esta situação obriga à tomada de medicamentos para estabilizar a produção, o que pode levar à situação inversa e a tiroide deixa de produzir as hormonas em quantidade suficiente.

Cirurgia

A intervenção cirúrgica na glândula pode afetar a sua capacidade de produção hormonal, o que leva o doente a ter que fazer substituição hormonal.

Radioterapia

Este tratamento cancerígeno pode afetar o funcionamento da tiroide.

Fatores congénitos

Uma malformação, ou interferências no desenvolvimento da tiroide no útero, durante a gravidez, pode deixar marcas e provocar hipotiroidismo mais tarde.

Medicamentos

Alguns medicamentos como o lítio podem interferir com o funcionamento da tiroide.

Perturbações na gandula hipófise

Esta gandula é responsável pela regulação das hormonas no organismo, se a dua função está perturbada por lesões ou pela existência de cancro, nomeadamente na produção de TSH, pode dar origem ao hipotiroidismo. 

Insuficiência de iodo

O baixo consumo de iodo na alimentação, que pode ser encontrado no marisco e peixe, pode prejudicar a produção das hormonas na tiroide e consequentemente ao hipotiroidismo. 

Doenças inflamatórias

A inflamação da glândula pode afetar a sua produção hormonal e desencadear o hipotiroidismo.

Tratamento de pessoas idosas com hipertiroidismo

Tal como para os mais jovens, o tratamento do hipertiroidismo em pessoas mais velhas inclui medicamentos e iodo radioativo.

A cirurgia raramente é recomendada devido ao aumento dos riscos associados a operações em pessoas mais velhas.

Embora a doença de Graves ainda seja uma causa comum de hipertiroidismo nesta faixa etária, o bócio nodular tóxico, sob a forma de múltiplos nódulos ou um único nódulo hiperativo, resultando em hipertiroidismo, é mais frequente do que em indivíduos mais jovens.

Este último não está associado aos problemas oculares que por vezes são observados na doença de Graves.

Durante o tratamento de uma tiroide hiperativa, os efeitos da alteração da função da tiroide noutros sistemas corporais são monitorizados de perto.

Devido a uma maior probabilidade de doenças coexistentes, que afetam o sistema cardíaco, sistema nervoso central e a tiroide em doentes mais idosos.

Na maioria das vezes, a função da tiroide é controlada primeiro com medicamentos antes de se considerar o tratamento definitivo com iodo radioativo.

Durante a fase inicial do tratamento, os médicos verificarão de perto o funcionamento do coração devido ao efeito da alteração dos níveis da hormona tiroidiana no coração.

Os sintomas de hipertiroidismo podem ser controlados com outros medicamentos, tais como os betabloqueadores, que são frequentemente administrados para abrandar um ritmo cardíaco rápido.

O tratamento definitivo com iodo radioativo é considerado uma vez mantida a função tiroideia no intervalo normal com medicação oral. Para esta doença não existe só um tratamento.

Dos diversos tratamentos disponíveis, a melhor opção para cada doente deve ser debatida como o médico endocrinologista, que irá individualizar a terapêutica de acordo com a gravidade da doença, a idade e historial de alergias do doente.

Cada tratamento tem riscos e benefícios associados que devem ser amplamente debatidos entre o médico e o doente.

Após o início do tratamento, deve ser feita uma monitorização regular e um acompanhamento médico frequente.

Essencialmente existem 3 tipos de tratamento:

Medicamentos

Os fármacos ajudam a diminuir a quantidade de hormonas da tiroide que estão em circulação, controlando assim a sua produção. Estes medicamentos devem ser usados com cuidado e com acompanhamento médico, sendo que as doses variam de acordo com cada caso.

Os medicamentos betabloqueadores podem ajudar a melhorar alguns dos sintomas, no entanto não reduzem a produção de hormonas e o seu uso deve ser suspenso assim que a doença esteja controlada.  

Ingestão de iodo

Este tipo de tratamento permite curar o hipertiroidismo através da lesão das células da tiroide, levando à diminuição da sua capacidade de produção, o que por sua vez, permite normalizar a quantidade de hormonas na circulação sanguínea.

O iodo é administrado oralmente e atua lentamente sobre a glândula, causando lesões nas células. A administração da substância é acompanhada por medicamentos e acompanhamento médico.

Este tratamento pode ser repetido durante um período de tempo.

Frequentemente a repetição desta terapêutica leva à destruição da tiroide ou à diminuição da sua função, nestes casos é necessário que o doente continue tratamento até ao final da vida com as hormonas da tiroide através de comprimidos, para manter os níveis normais no organismo.  

Cirurgia

Para alguns doentes a opção de tratamento mais adequada é a cirurgia. O procedimento consiste na remoção de parte ou da totalidade da glândula.

A escolha por este tratamento tem de ser ponderada pelo médico e pelo doente, dado que, nos casos em que é feita a remoção da totalidade da tiroide, o doente tem que receber tratamento hormonal até ao fim da vida.  

Tratamento de pessoas idosas com hipotiroidismo

Se as pessoas mais velhas tiverem sintomas de hipotiroidismo e for necessário um tratamento, a dose do medicamento é iniciada gradualmente e aumentada de forma cautelosa, de modo a não colocar qualquer tensão no coração e no sistema nervoso central.

O tratamento começará normalmente com 25 a 50mcg diariamente, e a dose aumentada em etapas a cada 4 a 6 semanas até as análises ao sangue mostrarem um regresso gradual dos níveis de hormona tiroidiana e de hormona estimulante da tiroide (TSH) aos níveis normais.

Os doentes mais idosos sem evidência de doença cardíaca, acidente vascular cerebral ou demência podem ser iniciados com doses maiores, como por exemplo, metade da dose total de reposição antecipada e proceder à reposição hormonal total mais rapidamente.

O tratamento para o hipotiroidismo faz-se sobretudo com fármacos. A dose dos medicamentos varia de doente para doente dependendo da gravidade da doença e a fase de vida em que o doente se encontra.

Os medicamentos contem as hormonas em falta de forma sintética e a sua toma, normalmente diária, deve ser acompanhada pelo médico endocrinologista, que vai baseando a sua recomendação nos exames clínicos e nos resultados das análises periódicas aos níveis hormonais.

Se o hipotiroidismo ocorrer durante um período mais problemático da vida do idoso, por exemplo, as doses têm que ser aumentadas em diferentes estádios.

A medicação consegue corrigir totalmente o deficit das hormonas no organismo, mas a vigilância médica é importante porque podem ser necessários alguns ajustes nas doses ao longo do decurso da doença.

Já que quantidades baixas ou elevadas de hormonas a circular no organismo podem ter efeitos colaterais como insónias, palpitações, tremores ou aumento de apetite. 

Os efeitos do tratamento costumam surgir entre uma a duas semanas depois do seu início e o efeito abrange não só os níveis hormonais, mas também outros efeitos provocados pela doença, como o aumento de peso ou o nível de colesterol no sangue.

Por vezes é adotado o sistema de substituição hormonal progressivo para dar ao organismo a possibilidade de se ir adaptando aos níveis hormonais que levam a um metabolismo mais acelerado.  

Alguns alimentos, suplementos ou mesmo outros medicamentos podem afetar a capacidade do organismo para absorver as hormonas do tratamento, por isso é importante informar o médico da existência destas situações.

Alimentos com grandes quantidades de soja, ricos em fibras ou suplementos de ferro e cálcio podem afetar o tratamento e a sua eficácia.

Conclusão

As necessidades do corpo humano relativas à hormona tiroide mudam com a idade e existe a dúvida sobre se a prática de tratar de forma uniforme todas as pessoas com uma tiroide pouco ativa, independentemente da sua idade, é adequada.

Em geral, um número crescente de pessoas idosas é diagnosticado com uma tiroide sub-ativa ligeira, ou seja, hipotiroidismo subclínico, quando os seus níveis de hormona da tiroide no sangue (T3 e T4) são normais e os seus níveis de TSH são elevados.

No entanto, verificou-se que os níveis de TSH aumentam nas pessoas idosas com 70 anos ou mais de idade e isto nem sempre está associado a uma saúde mais deficiente.

Além disso, a gama de referência padrão de TSH utilizada foi obtida principalmente de pessoas mais jovens e, portanto, pode não ser adequada para fazer um diagnóstico de hipotiroidismo em pessoas mais velhas.

Estima-se que mais de um milhão de portugueses é afetado por distúrbios da tiroide.

Da ansiedade às palpitações ou queda de cabelo, os sintomas dos problemas de tiroide são muito parecidos a outros problemas de saúde comuns, o que leva muitas vezes à desvalorização da doença ou à atribuição dos sintomas a outra patologia.

Por esta razão, quando existe um problema com a tiroide, é muito frequente que passe despercebido. Embora seja possível detetar algum distúrbio desta glândula através de análise sanguíneas.

Como o diagnóstico não é fácil, o tratamento também pode demorar, mas assim que este começa é habitual haver uma melhoria significativa dos sintomas logo a seguir. Por isso é extremamente importante consultar o médico assim que possível.

Ser mulher, ter 60 anos ou mais, ter uma doença autoimune e ter feito radioterapia são alguns dos fatores de risco do hipotiroidismo.

Sendo o distúrbio autoimune da tiroide uma das causas mais frequentes para o aparecimento do hipotiroidismo. 

Esta é uma doença em que o diagnóstico precoce e o tratamento atempado podem fazer toda a diferença na vida da pessoa afetada.

Neste sentido, as mulheres principalmente devem fazer testes regulares à função da tiroide, sobretudo a partir dos 65 anos, já que um episódio agudo nesta idade pode levar a que a doença se transforme num distúrbio crónico.

Sendo o acompanhamento e aconselhamento médico importantes para encontrar o tratamento mais adequado.

Nunca é demais lembrar a importância do exercício físico, uma alimentação equilibrada e uma regulação do stress, para uma melhor saúde.

Ter uma vida mais ativa ajuda a melhorar o tónus muscular, a diminuir o apetite, a aumentar os níveis de energia e a melhorar o sistema cardiovascular. A sua prática pode ajudar a pessoa com problemas na tiroide a sentir-se melhor.

É fundamental debater com o médico qual a abordagem terapêutica mais adequada a cada caso, porque os problemas da tiroide podem afetar grandemente a qualidade de vida da pessoa idosa e com o tratamento certo essa qualidade pode ser facilmente restabelecida.

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Referências:

  • Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo
  • Associação das Doenças da Tiroide
  • British Thyroid Foundation