Sono nos idosos: principais problemas e tratamentos

Sono nos idosos: principais problemas e tratamentos

Os padrões de sono mudam com a idade. O relógio interno das pessoas mais velhas parece ser mais rápido, levando a que os idosos se cansem mais cedo à noite e acordam muito cedo de manhã.

Os padrões de sono são em parte controlados por este relógio interno do corpo. O relógio ajuda a determinar quando a pessoa se sente desperta e quando se sente sonolenta.

Da infância à velhice, as alterações hormonais e as alterações naturais no relógio do corpo causam mudanças nos padrões de sono.

Isto pode levar os idosos a fazerem mais sestas durante o dia, o que, por sua vez, pode dificultar o adormecer à noite.

Uma má rotina de sono pode tornar-se um hábito difícil de combater. No entanto, os idosos precisam da mesma quantidade de sono que os mais jovens para se sentirem descansados.

O sono acontece em quatro fases, começando com o sono leve e avançando para um sono mais profundo.

A partir da meia-idade, os adultos começam a passar menos tempo nas duas últimas fases do sono. Isto significa que o sono se torna menos repousante à medida que se envelhece.

Os idosos tendem a ter um sono mais leve e a fazer intervalos de sono mais curtos.

Esta alteração pode fazer parte do processo normal de envelhecimento, mas também pode ser um resultado de outros problemas de saúde, hábitos de vida, ou de um efeito secundário dos medicamentos que o idoso toma.

Cerca de 30% de todos os adultos com mais de 65 anos sofrem de perda de sono ou insónias. Para a maioria das pessoas, o problema não ocorre todas as noites, mas regressa após algumas noites com um melhor sono.

As mulheres idosas, têm distúrbios do sono frequentes, em alguns casos associados à menopausa.

A maioria dos adultos, cerca de 86%, relata ter sonolência pelo menos três vezes por semana, e que a sonolência interfere com as suas atividades diárias.

Entre os adultos que dormem a sesta durante o dia, 62% relatam que têm sintomas de insónia.  

Uma boa noite de sono ajuda a melhorar a concentração e a formação da memória, permite ao corpo reparar qualquer dano celular que tenha ocorrido durante o dia, e refresca o sistema imunitário, o que por sua vez ajuda a prevenir doenças.

Os idosos que não dormem bem são mais propensos a sofrer de depressão, problemas de atenção e de memória, sonolência diurna excessiva, e experimentam mais quedas noturnas.

O sono insuficiente também pode levar a problemas de saúde graves, incluindo um risco acrescido de doenças cardiovasculares, diabetes, problemas de peso, e cancro da mama nas mulheres.

Para melhorar a qualidade de sono é importante compreender as causas subjacentes aos problemas de sono.

Porque muda o sono com o envelhecimento?

A qualidade do nosso sono deteriora-se frequentemente à medida que envelhecemos. As pessoas tendem a dormir menos e são propensas a terem mais episódios em que estão acordadas depois de adormecerem inicialmente.

O tempo necessário para adormecer também pode aumentar. Alguns estudos sugerem que, a partir da meia-idade, uma pessoa perde em média 27 minutos de sono por noite para cada década subsequente.

Estas diminuições na qualidade e duração do sono estão ligadas aos sistemas internos de cronometragem do corpo. O corpo não pode processar os sinais circadianos de forma tão eficiente, o que, por sua vez, pode levar as pessoas mais velhas a irem para a cama e a acordarem mais cedo.

A nossa arquitetura do sono também muda à medida que envelhecemos. Um ciclo de sono normal é dividido em quatro fases.

Estas incluem duas fases de sono “ligeiro” de movimento ocular não-rápido (NREM), uma fase de sono NREM pesado e uma fase final de sono de movimento ocular rápido (REM) antes de o ciclo recomeçar.

Estudos sobre o sono mostraram que os idosos experimentam uma percentagem menor de sono pesado e REM do que as pessoas mais jovens. Isto deixa-os mais suscetíveis a acordarem mais frequentemente durante a noite e também afeta o estado de alerta que sentem de manhã.

Quais são os problemas de sono nos idosos?

Devido às alterações provocadas pelo envelhecimento, as alterações do sono podem apresentar diferentes caraterísticas e condições. Estes são alguns dos problemas de sono mais comuns entre os idosos:

Insonia

A insónia e a idade andam muitas vezes de mãos dadas.

A insónia designa uma situação em que há dificuldade em adormecer ou permanecer a dormir, apesar da oportunidade de o fazer (por exemplo, estar na cama), e experimentar uma diminuição da função diurna devido a isso.

É um dos problemas mais comuns que afeta tantas pessoas de meia-idade e idosos.

Cerca de 23 a 24% dos idosos relatam sintomas de insónias.

A insónia tem sido associada à ansiedade, depressão, fadiga, pior qualidade de vida, declínio cognitivo, e uma variedade de outros problemas de saúde a longo prazo.

Enquanto muitos idosos experimentam problemas de sono devido a alterações naturais do seu ritmo circadiano e do ciclo sono-vigília, no que toca à insónia existem um conjunto de sintomas que persistem apesar de haver tempo suficiente e uma área confortável para dormir.

Estes são alguns dos sintomas associados à insónia:

  • Dificuldade para adormecer ou em permanecer a dormir
  • Repetição de casos de despertar mais cedo do que desejado
  • Sentimentos de resistência sobre ir para a cama a uma hora razoável
  • Dificuldade em dormir sem intervenção de outros fatores

A insónia implica também outros sinais como sonolência diurna excessiva, sentimentos de fadiga e mal-estar, perturbações do humor e irritabilidade, e problemas de concentração e de atenção.

As pessoas com insónia correm maior risco de acidentes, e muitas têm dificuldades em situações sociais e familiares.

Se estes sintomas ocorrem pelo menos três vezes por semana e persistem durante pelo menos três meses, então os médicos podem diagnosticar o doente com insónia crónica. Caso contrário, a condição é considerada como uma  insónia de curto prazo.

Apneia do sono

A apneia diz respeito a perturbações respiratórias relacionadas com o sono e são extremamente comuns nas populações mais idosas.

Estas perturbações são particularmente comuns em pacientes idosos com demência em lares. A obesidade, o consumo de álcool e o tabagismo também podem contribuir para estes distúrbios ao longo do tempo.

Os distúrbios respiratórios relacionados com o sono provocam frequentemente o ressonar intenso dos idosos, o que pode levar a acordarem mais frequentemente durante a noite e a terem sonolência diurna excessiva.

Estes distúrbios são também considerados como preditores de outras condições médicas, tais como insuficiência cardíaca congestiva, enfarte do miocárdio e AVC.

Distúrbios do sono do ritmo circadiano

Quando o ritmo circadiano de uma pessoa não está alinhado com o seu ambiente exterior, pode causar distúrbios de sono.

As pessoas mais velhas correm um risco mais elevado destas perturbações porque os mecanismos internos que regulam o ritmo circadiano deterioram-se com a idade.

Os distúrbios avançados da fase de dormir e acordar são particularmente comuns em populações mais velhas. Mesmo que vão para a cama mais tarde do que o habitual, acordam frequentemente muito cedo devido ao seu ciclo sono-vigília.

Outro exemplo é o distúrbio do ritmo sono-vigília irregular, que se encontra predominantemente em adultos com condições neurológicas e neurodegenerativas, como a doença de Parkinson e a doença de Alzheimer.

Este distúrbio é caracterizado por padrões de sono fragmentados que não seguem um ciclo dia-noite normal de 24 horas.

Síndrome das pernas inquietas

Os movimentos periódicos dos membros são movimentos involuntários e repetitivos dos braços e pernas durante o sono que ocorrem mais de 15 vezes por hora de sono.

A síndrome das pernas inquietas, um distúrbio neurológico, caracteriza-se pela vontade avassaladora de mover as pernas enquanto o corpo está em repouso.

Estas condições podem causar despertares noturnos que levam a episódios de vigília e cansaço no dia seguinte. Estudos demonstraram que a taxa de prevalência destas condições quase duplica com a idade.

Quais os tratamentos?

O tratamento deve ser adequado à causa que levou ao distúrbio de sono e deve ser debatido com o médico.

Insónia

Para um tratamento mais eficaz para a insónia, o tratamento deve começar pela educação para o sono e uma melhor higiene do sono.

O quarto de dormir ideal deve ser escuro e calmo, com uma temperatura inferior a 23 graus Celsius. A cama só deve ser utilizada para dormir e não para outras atividades como trabalhar ou ver televisão.

O ar condicionado pode ser útil durante os períodos mais quentes do ano. É também aconselhável o exercício regular e refeições equilibradas, e o corte com o consumo de estimulantes como a cafeína e o tabaco.

Outros tratamentos não farmacológicos podem ajudar a aliviar os sintomas de insónia para os idosos sem receita médica. Estes incluem:

Controlo dos estímulos

Se a pessoa ficar acordada na cama durante 20 minutos sem dormir, deve levantar-se e ocupar-se noutro quarto até se sentir novamente cansada. Além disso, deve evitar dormir a sesta durante o dia e comprometer-se a acordar à mesma hora todas as manhãs.

Restrição do sono

Muitos doentes com insónias são instruídos a manter um diário de sono que regista o tempo de sono e de vigília, quanto tempo leva a adormecer todas as noites, e outros padrões importantes.

Com base em notas do diário de sono, o médico pode dizer ao paciente para restringir o seu tempo de sono todas as noites até que a sua eficiência de sono melhore.

Terapia cognitiva comportamental

A terapia cognitiva comportamental para a insónia ajuda os idosos a identificar atitudes negativas e crenças incorretas que têm sobre o sono, e depois substituí-las por uma mentalidade mais informada e positiva.

Terapia da luz brilhante

Para os idosos que vão para a cama e acordam relativamente cedo, a exposição temporizada a luzes brilhantes à noite pode ajudá-los a permanecer acordados um pouco mais tempo e a adormecer mais tarde.

Se estas intervenções não farmacológicas não forem eficazes, então o médico pode considerar medicamentos para o sono.

A escolha de medicação apropriada para a insónia de doentes idosos requer muitos cuidados e consideração. Alguns medicamentos produzem efeitos hipnóticos e podem aumentar o risco de queda para as pessoas idosas.

Estes fármacos também apresentam uma elevada tolerância, dependência e risco de abstinência, e deve-se ter em conta outros medicamentos, a fim de evitar interações medicamentosas negativas.

Apneia do sono

Muitos idosos com apneia do sono são tratados com terapia de pressão de ar positiva contínua durante a qual os pacientes recebem ar pressurizado através de uma máscara respiratória enquanto dormem.

Aqueles que cumprem com este tratamento ressonam frequentemente menos e experimentam menos episódios de apneia durante a noite.

Ritmo circadiano

Exposições de luz temporizadas à noite podem ser usadas para tratar estas perturbações para alguns pacientes idosos. Um horário de sono regulamentado também pode ser eficaz. Tratamentos com melatonina devem ser acompanhados pelo médico.

Pernas inquietas

O tratamento mais comum costuma ser a administração de medicamentos, mas no caso dos idosos é necessário ter alguma cautela, especialmente se tomam outros medicamentos ou têm condições pré-existentes.

Outras medidas para uma boa higiene do sono

Além dos tratamentos dirigidos existem outras práticas que podem ajudar a melhorar a qualidade do sono. Eis alguns exemplos:

  • Definir horários para dormir e para estar acordado rigorosos, e manter os horários mesmo aos fins-de-semana ou em viagem
  • Evitar dormir a sesta sobretudo ao final do dia. Se forem necessários alguns minutos de sono, é melhor fazer as sestas de manhã ou ao início da tarde
  • Estabelecer uma rotina que ajude a acalmar todas as noites. Ler ou ouvir música calma pode ser eficaz
  • Não utilizar dispositivos eletrónicos tais como televisores, telemóveis, ou computadores no quarto. Estes dispositivos emitem uma luz azul que pode tornar mais difícil o adormecer
  • Manter uma temperatura equilibrada e confortável e baixos níveis de luz no quarto
  • Fazer exercício durante o dia, mas evitar fazer exercício físico três horas antes de dormir
  • Evitar o consumo de cafeína ao fim da tarde ou à noite
  • Não beber álcool para ajudar a dormir. Embora o álcool tenha propriedades sedativas, pode na realidade causar distúrbios do sono

Conclusão

Uma boa noite de sono pode parecer cada vez mais como uma coisa do passado à medida que os anos passam.

Pode já não se ter a sensação de descanso e restauro ao acordar de manhã. A sonolência diurna e a sesta da tarde podem ter-se tornado uma parte normal da rotina.

A ideia de que precisamos de dormir menos à medida que envelhecemos é realmente apenas um mito.

Há muitas ideias erradas sobre o sono e os idosos, como a ideia de que precisamos de menos sono à medida que envelhecemos, dormir durante o dia é comum ou um pouco de álcool antes de dormir pode ajudar a adormecer.

No entanto, a realidade é bem diferente já que é mais difícil adormecer e permanecer num sono profundo à medida que envelhecemos e os ritmos cerebrais dos idosos não seguem os padrões habituais dos cérebros dos mais novos quando dormem.

Sete ou oito horas de sono com boa qualidade são importantes para todos, incluindo os idosos, se manterem saudáveis.

Embora o envelhecimento por si só mude o sono, é também bastante comum que os idosos desenvolvam problemas de saúde que podem causar distúrbios do sono.

Para tratar a maioria dos problemas de sono dos idosos, a abordagem deve ser o mais natural possível, deixando para último a opção de usar medicamentos.

Em alguns casos, os tratamentos naturais podem não ser suficientes para ultrapassar os problemas de sono no idoso. Ainda assim, mesmo que seja feita medicação para tratar as perturbações, a abordagem natural deve ser mantida em paralelo.

O mais importante é sobretudo conseguir um sono de qualidade suficiente para ajudar a manter a saúde cerebral, a saúde física e o bem-estar do idoso.

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Referências:

  • Associação Portuguesa de familiares e Amigos dos Doentes de Alzheimer
  • Sleep Foundation
  • Health in Aging