Quando o tempo começa a arrefecer começam a surgir as doenças respiratórias. O tempo mais frio coincide com o início da época da gripe, uma época em que os casos de gripe começam a aumentar.
É importante prestar atenção aos sintomas da gripe sazonal nos idosos durante o tempo frio, porque os seus resultados nesta população podem ser mais graves.
Os idosos têm sistemas imunitários mais fracos, assim como a maioria dos prestadores de cuidados, muitas vezes devido à falta de sono e ao stress crónico.
E se passarem muito tempo juntos, é mais provável que passem germes entre eles.
No entanto, há várias estratégias para evitar que os idosos adoeçam e para reduzir a duração ou gravidade de uma constipação ou gripe, com o objetivo de impulsionar o sistema imunitário e reduzir a exposição a germes.
Enquanto a gripe partilha sintomas com uma constipação comum, tosse, e um nariz a pingar, a gripe pode resultar em consequências muito mais devastadoras.
Especialmente para os idosos, que podem sofrer hospitalização ou mesmo a morte.
Entre 2010 e 2019, 336.000 pessoas morreram de gripe, de acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças, e cerca de 90% das mortes devido à gripe em 2017-18 foram de adultos com mais de 65 anos.
No entanto, com ajuda de vacinas e outras abordagens, a gripe sazonal para os idosos é evitável.
Por isso, vamos ver como se pode tratar e prevenir a gripe nos idosos.
O que é a Gripe?
A gripe é uma doença que resulta da infeção provocada por um vírus, sendo o mais comum o vírus influenza, que ataca as vias respiratórias e provoca um estado geral de fadiga e fraqueza acompanhado por sintomas como dor de cabeça e tosse, entre outros.
A gravidade do estado gripal varia de individuo para individuo e os sintomas manifestam-se, em regra, durante 7 a 10 dias acabando por desaparecer de forma espontânea.
A transmissão do vírus é feita por contágio de pessoa para pessoa ou através de superfícies contaminadas.
Este vírus sofre mutações constantes o que facilita as reinfeções, já que os anticorpos adquiridos uma vez por presença da doença podem não ser viáveis para combater uma nova estirpe.
O vírus influenza pode manifestar-se de 3 formas diferentes, sendo responsável por 3 tipos de gripe:
- Tipo A: afeta sobretudo as aves, mas pode saltar para outras espécies e originar pandemias.
- Tipo B: atinge sobretudo a espécie humana e é menos comum que a gripe A.
- Tipo C: pode afetar humanos, cães e porcos e é a mais rara.
Como prevenir a gripe nos idosos?
Algumas estratégias de prevenção do frio e da gripe reduzem o risco para idosos e os prestadores de cuidados.
Tomar a vacina contra a gripe
Tomar uma vacina contra a gripe reduz o risco de apanhar gripe. Também reduz a gravidade da doença e protege contra complicações, que podem ser especialmente graves para os idosos.
E quando se toma uma vacina contra a gripe, reduz-se não só o risco de o idoso adoecer, mas também de o cuidador infetar o idoso.
A melhor altura para tomar a vacina da gripe é de outubro a novembro, mas os especialistas dizem que ainda é útil tomar a vacina mesmo que seja mais tarde na época da gripe.
Lavar ou higienizar bem as mãos de forma frequente
A lavagem frequente das mãos com sabão regular é uma forma eficaz de afastar os germes do frio e da gripe.
Usar sabão normal é bom porque esfregar as mãos durante pelo menos 20 segundos é o que elimina os germes, é o tempo suficiente para cantar duas vezes a canção de parabéns. Convém limpar debaixo das unhas, costas das mãos, entre os dedos e os pulsos.
Se não houver sabão e água com frequência suficiente, é melhor usar um higienizador de mãos com pelo menos 60% de álcool para matar os germes do frio e da gripe.
Esta pode ser uma boa opção para os idosos que não se podem levantar facilmente para lavar as mãos.
Exercício físico regular
O exercício moderado impulsiona o sistema imunitário e pode reduzir o risco de uma constipação em um terço.
Embora o cuidado dos idosos não deixe muito tempo para o exercício e os seniores possam não ter muita resistência, qualquer quantidade de exercício regular irá beneficiar o corpo e o sistema imunitário.
Evitar tocar nos olhos, nariz e boca
Muitas vezes tocamos no rosto sem pensar, o que é uma forma comum de os germes do frio e da gripe entrarem no organismo e precipitar a doença.
Para reduzir o risco de adoecer, o contacto com o rosto deve ser minimizado.
Limpar bem o ambiente para eliminar os germes
Tentar manter o ambiente tão livre de germes quanto possível. O que significa utilizar desinfetante na limpeza, especialmente na casa de banho e na cozinha.
Ao limpar, prestar especial atenção aos pontos quentes com germes como maçanetas, interruptores de luz, e balcões de cozinha e de casa de banho.
As esponjas e trapos de limpeza, um local de reprodução de germes também têm que ser desinfetados, mudando-os com frequência, mergulhando-os em lixívia, pondo no micro-ondas durante 1ou 2 minutos ou lavar na máquina de lavar louça.
Num local de trabalho exterior, lavar as mãos após tocar nos espaços comuns e desinfetar regularmente a área de trabalho regularmente.
Higienizar os dispositivos móveis
Algo que muitas pessoas esquecem é o quão sujo e cheio de germes é o próprio dispositivo móvel, como telemóvel, tablet ou outros.
Limpar regularmente com toalhetes com desinfetante ou álcool, tendo cuidado para não molhar a parte eletrónica.
Não contactar pessoalmente pessoas que estão doentes
Manter o afastamento de pessoas que estão doentes com gripe ou outra doença é essencial.
Se for necessário estar perto de uma pessoa doente, é importante limitar o contacto e evitar toques desnecessários como apertos de mão ou abraços.
Evitar multidões e viagens desnecessárias
Tentar evitar estar em grandes grupos de pessoas, especialmente em espaços mal ventilados, é importante porque isso aumenta a possibilidade de apanhar uma constipação ou gripe de uma pessoa que esteja infetada.
Beber muitos líquidos
A hidratação com muitos líquidos, especialmente água simples ou chá quente, pode ajudar o corpo a combater melhor os germes.
Adição de Vitamina C e proteínas através de alimentos nutritivos
Alguns estudos demonstraram que um pouco mais de vitamina C, mas não em demasiado, pode reduzir o risco de ficar doente com gripe.
O melhor é conseguir a vitamina através dos alimentos, mas um suplemento de 200 mg também pode ajudar. No entanto, é necessário verificar primeiro com o médico se o suplemento é seguro para o idoso.
Não obter proteínas em quantidade suficiente também pode diminuir a resposta imunitária, por isso adicionar peixe, ovos ou iogurte à dieta do idoso é uma boa estratégia.
Como tratar e evitar complicações?
O tratamento mais comum para a gripe é a conjugação de repouso com a ingestão de líquidos, já que a doença tende a desparecer espontaneamente. Nos casos mais graves, o médico pode receitar um medicamento antiviral, que ajuda a prevenir complicações.
Outros sintomas como a febre, dores de cabeça ou musculares podem ser tratadas com antipiréticos, como o paracetamol ou o ibuprofeno, enquanto a tosse pode ser tratada com um xarope.
Como a gripe causa um mal-estar generalizado alguns remédios caseiros podem também ajudar a criar um maior conforto para o idoso:
- Chá de mel e limão, ou gengibre, por exemplo
- Outras bebidas quentes, como cacau, por exemplo
- Sumo de laranja
- Xarope de alho ou cenoura
- Canja de galinha
- Banhos quentes
- Vapores de eucalipto
Normalmente, com tratamento adequado e alguns medicamentos, a gripe dura no sistema orgânico cerca de duas semanas.
Os idosos, ou seja, pessoas com mais de 65 anos, correm um risco mais elevado do que muitos outros grupos demográficos de sofrer complicações da gripe, e muitas destas complicações podem durar mesmo depois do sistema imunitário ter tratado do vírus da gripe no sistema do idoso.
A gripe sazonal nos idosos pode ser ainda mais impactante para aqueles que têm:
- Diabetes
- Problemas renais
- Problemas cardíacos
- Asma
- Doença pulmonar crónica
- Uma doença que os leva a tomar esteroides ou outros medicamentos como a quimioterapia que enfraquecem o sistema imunitário
- Problemas de fígado
- Problemas com obesidade
Todas estas circunstâncias médicas podem deixar os idosos suscetíveis aos efeitos mais graves da gripe, como as hospitalizações longas ou mesmo morte, porque contribuem para o enfraquecimento do sistema imunitário.
Estratégias para prevenir complicações da gripe e aliviar os sintomas
Apesar dos esforços e estratégias para evitar a gripe, as pessoas podem, obviamente, adoecer com a doença.
Eis algumas dicas para proteger os idosos de complicações mortais e tornar os sintomas mais suportáveis:
Visitar o médico o mais rápido possível para prescrição de medicamentos antivirais
A obtenção de medicamentos antivirais o mais cedo possível pode tornar a gripe mais branda e prevenir complicações graves da gripe.
Isto é especialmente importante para os idosos porque pode significar a diferença entre ter apenas gripe ou ser hospitalizado com pneumonia grave.
Os medicamentos antivirais para a gripe normalmente funcionam melhor se forem iniciados dentro de 2 dias após a doença começar, mas iniciar o tratamento mais tarde ainda pode ser útil, especialmente para os idosos porque correm um risco tão elevado de complicações.
Não hesitar em chamar o médico se o cuidador ou idoso adoecerem, mesmo que não haja absoluta certeza que é gripe, porque pode ser útil até para despistar outras doenças.
Evitar a propagação da gripe
Uma pessoa com gripe pode ser contagiosa até 5 ou mais dias após o aparecimento dos sintomas.
Proteger os outros enquanto doentes lavando as mãos frequentemente, tossindo ou espirrando para dentro de um tecido e deitando-o imediatamente fora, e mantendo a distância física é fundamental.
Utilizar um humidificador
O ar húmido ajuda a acalmar as dores de garganta e a tosse.
Comer canja de galinha
Este tratamento caseiro funciona mesmo. O vapor abre as passagens nasais, o caldo acalma a garganta, e a sopa ajuda os glóbulos brancos que combatem as infeções a fazer um melhor trabalho.
Beber bastantes lquidos
Os fluidos extra ajudam a diluir o muco e facilitam a sua remoção do sistema.
Descanso ou dormir com um ângulo de 45 graus
Quando o corpo está deitado faz com que se junte muco nas cavidades sinusais, o que é incómodo e pode também levar a mais infeções.
Descansar ou dormir no ângulo mais sentado ajuda a prevenir este efeito e também reduz a inflamação.
Outras complicações
As complicações da gripe tendem a desenvolver-se com mais frequência nos indivíduos que apresentam algumas debilidades prévias como é o caso dos idosos ou doentes com doenças crónicas como a asma, diabetes ou doenças cardiovasculares.
Nestes casos a gripe pode exigir um tempo de recuperação mais longo, o que pode potenciar o desenvolvimento de complicações.
Alguns outros problemas prolongados causados pela gripe nos idosos incluem:
Pneumonia
A pneumonia é uma doença respiratória bacteriana com dores no peito, tosse, tremores e suores, e temperaturas corporais mais baixas do que o normal que podem progredir depois de se ter uma gripe.
É o quarta doença mais mortal entre os idosos, o que pode ser prevenido com uma vacina contra a pneumonia. Os idosos correm um risco maior de desenvolver pneumonia e de morrer dela do que qualquer outro grupo demográfico.
Bronquite
A bronquite é uma inflamação dos pulmões que é causada por um problema respiratório como a gripe.
O seu principal sintoma é uma tosse provocada por irritação pulmonar e muco.
Tal como a gripe, alguma forma de bronquite pode existir no sistema do corpo durante duas a três semanas, mas existem algumas formas como a bronquite crónica, que continuam a voltar, mesmo quando a gripe já passou há muito tempo pelo corpo do idoso.
Infeções sinusais e dos ouvidos
Ter gripe pode tornar o corpo suscetível a infeções de várias bactérias em várias partes do corpo, incluindo os seios nasais e ouvidos.
Se o idoso tiver gripe e começar a sentir dores de ouvido que duram mais de um ou dois dias ou problemas sinusais, mais do que espirros, que duram mais de dois ou três dias, ajuda médica deve ser procurada para lidar com estes problemas médicos.
Desidratação
A desidratação é um problema grave entre os idosos, especialmente quando estão doentes.
Os idosos têm menos água, 10 a 15%, no corpo do que os mais novos, permitindo que a desidratação se inicie muito rapidamente, razão pela qual é tão importante beber líquidos consistentemente quando os idosos estão doentes.
Muitos sintomas da gripe, como o suor, o nariz a pingar e o vómito, provocam a saída da água para fora do corpo e podem fazer com que o corpo se desidrate rapidamente.
A desidratação pode causar problemas renais, convulsões, e outros problemas de saúde que são potencialmente fatais.
Insuficiência cardíaca
De acordo com a British Heart Foundation, os problemas cardíacos como os ataques cardíacos têm-se revelado mais frequentes após um período com gripe.
Tal como as infeções dos seios nasais e dos ouvidos, os problemas cardíacos podem resultar do facto de o corpo se tornar mais vulnerável a bactérias e outras substâncias nocivas que afetam o coração.
Existem também medicamentos que ajudam a tratar a gripe que podem potencialmente causar coágulos sanguíneos, o que pode levar ainda a mais problemas cardíacos.
Conclusão
Os idosos são o grupo demográfico mais afetado pela gripe.
Segundo o Centro Europeu de prevenção e tratamento de doenças (CDC) entre 70 a 85 por cento das pessoas que morrem de infeções sazonais de gripe têm mais de 65 anos de idade, e que até 70 por cento das hospitalizações relacionadas com a gripe envolvem idosos.
Estas são taxas muito elevadas, e podem estar diretamente relacionadas com a frequência com que os idosos são vacinados, para além seu sistema imunitário enfraquecido, tornando-os especialmente vulneráveis à gripe.
A vacina da gripe dá uma grande ajuda para evitar quadros mais graves da doença.
O CDC revelou em 2016 que os idosos que recebem a vacina contra a gripe, que inclui proteção para a maioria das estirpes de gripe A e B, reduziram em mais de 50% a probabilidade de os idosos serem hospitalizados por causa da gripe.
Verificou-se que as pessoas vacinadas com mais de 50 anos de idade tinham 57 por cento menos probabilidades de serem hospitalizadas devido à gripe do que as pessoas não vacinadas.
As taxas de hospitalização foram semelhantes também para as pessoas com mais de 75 anos de idade.
Os idosos devem ser vacinados porque podem contrair a gripe sem sintomas óbvios.
De acordo com um estudo do CDC de 2019, os sintomas que as pessoas normalmente associam à gripe, como febres ou congestão nasal tendem a aparecer menos frequentemente entre os idosos do que na população em geral.
Por outro lado, sintomas menos óbvios, mas mesmo assim perigosos, como a perda de clareza mental, são mais frequentes entre os idosos.
Além disso, quando uma pessoa não se apercebe que está infetado, pode também não saber que é contagiosa, tornando-os um perigo para as pessoas à sua volta.
Se os cuidadores ou idosos evitam ser vacinados porque esperam simplesmente tratar a gripe no caso de esta aparecer e ficarem doentes, podem estar a correr um risco muito maior do que pensam.
Em comparação com os mais jovens, os idosos também correm maior risco de complicações graves da gripe, incluindo pneumonia bacteriana, desidratação, e agravamento de outras condições médicas como insuficiência cardíaca, diabetes, e doenças pulmonares.
As pessoas com 65 anos ou mais constituem 50 a 70% das hospitalizações relacionadas com a gripe, e por 70 a 90% das mortes relacionadas com a doença.
A melhor maneira de prevenir esta doença é tomar uma vacina contra a gripe todos os anos no início da época da gripe, ou seja, no início do outono. A vacina contra a Covid-19 também deve ser tomada pelos idosos.
Sabe-se que o envelhecimento acaba por provocar alterações no sistema imunitário. Uma vez que muitos sintomas comuns de doença refletem efetivamente a resposta do sistema imunitário a uma infeção, um sistema imunitário menos vigoroso tenderá a gerar sintomas menos proeminentes.
A gripe pode variar de leve a grave, por isso é importante reconhecer os sintomas precocemente e começar o tratamento para evitar complicações. Quanto maior for a compreensão sobre o vírus e como ele funciona, mais fácil é proteger o idoso, a sua família e a comunidade em geral.
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Referências:
- Direção Geral de Saúde
- Serviço Nacional de Saúde
- Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge
- Organização Mundial de Saúde
- Center for Disease Control and Prevention (CDC)
